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sexta-feira, março 29, 2024

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Felipe Machado: Rock e jornalismo na veia

Aos 41 anos, com carreira de sucesso e reconhecimento nas diferentes áreas em que atuou, Felipe Machado é o típico profissional inquieto e que navega por diferentes áreas da comunicação. Aos 15 anos criou um dos mais conhecidos grupos de heavy metal do Brasil, o Viper, além de ter atuado como redator publicitário, diretor de documentários, escritor e jornalista. É claro que são profissões totalmente diferentes, mas no fundo acredito que são maneiras e linguagens diferentes de me expressar, explica Machado.

Há pouco menos de um ano na função de diretor de Mídias Digitais da Rede Bom Dia e Diário de S.Paulo, é filho dos jornalistas Adones de Oliveira, ex-crítico musical de Folha de S.Paulo e Estadão, e Helô Machado, primeira mulher a editar um caderno de cultura no Brasil, a Ilustrada da Folha, de quem herdou muito mais do que o contato com as redações desde a infância, mas também o gosto pelo jornalismo, pela cultura e pela música. E foi na área musical que Machado certamente conseguiu mais notoriedade.O Viper lançou oito álbuns, o último em 2007, quando teve que conciliar suas férias no Estadão com a turnê da banda. Em mais de 20 anos de estrada, o Viper atingiu fama e reconhecimento internacional tocando em grandes festivais, ao lado de bandas consagradas como Metallica, Black Sabbath, Ramones e Kiss.

Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Felipe fala sobre o início de sua carreira no ramo musical, a conciliação com a faculdade, a saudade dos palcos, a gravação de seu último álbum e seu futuro à frente da área de Mídias Digitais do Diário de São Paulo e da Rede Bom Dia.

Portal dos Jornalistas – Você começou a faculdade quando já era sólida a sua carreira no mundo da música. Como surgiu esse interesse pelo jornalismo?

Felipe Machado – Sempre gostei de escrever e cresci frequentando as redações de Folha e Estadão, já que meu pai e minha mãe são jornalistas. Como formamos a banda muito cedo, era normal que continuássemos a estudar e assim foi até a faculdade, mesmo com o grupo começando a fazer sucesso no início dos anos 90.

PJ- O como foi dividir a atenção dos palcos com os estudos?

Felipe – Era até engraçado, porque os professores mais jovens da Cásper Líbero também conheciam o Viper, alguns deles chegavam a ir aos shows. Mas foi tudo muito natural na minha carreira, a música e a faculdade eram levadas igualmente a sério. Quando a banda deu uma parada por motivos de brigas com empresários e gravadoras, decidi que não podia ficar sem trabalhar; aí pedi estágio na DPZ como redator. Murilo Felisberto me contratou e depois, quando ele se tornou diretor de Redação do Jornal da Tarde, me convidou para ser repórter, onde também atuei como fechador, chefe de Reportagem, editor, colunista, até chegar a diretor da TV Estadão.

PJ – Você acha possível traçar um paralelo entre suas carreiras musical e jornalística?

Felipe – Não diretamente, mas é claro que o fato de gostar de escrever me ajudava a compor, escrever releases para a banda, essas coisas do dia a dia. Uma banda em início de carreira é como um repórter de Geral, tem que fazer um pouco de tudo. Mas as atividades são muito diferentes, a banda era algo divertido e leve, feito com amigos de infância. No jornalismo, sempre tive uma postura mais séria. Mas em termos de atuar com profissionalismo, de querer fazer tudo bem feito, de aprender a todo momento, de ser comunicativo, aí sim, são coisas que ficam. A experiência de passar longos períodos em turnê, por exemplo, também ajudou a me preparar para coberturas longas, como a Olimpíada da China, em 2008, e a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010.

PJ – Em 2007 houve o retorno da banda para a gravação de mais um álbum, época que você já estava no Estadão. Houve alguma participação sua nessa volta?

Felipe – Eu participei dela, embora não com a mesma intensidade do passado. Gravei os solos de guitarra do disco All My Life, mas não passei o tempo inteiro no estúdio. Trabalhava de dia e gravava à noite, foi um período bastante cansativo. Quando o disco saiu, planejei tudo direitinho para que os trechos mais longos da turnê brasileira combinassem com minhas férias, assim eu poderia me dedicar em tempo integral. Fizemos vários shows, foi muito divertido voltar à estrada com a banda. Quando a turnê acabou, voltei para o trabalho normalmente. Até pensei em pedir férias das férias, mas não acho que concordariam… (risos)

PJ – E quando se deu seu desligamento da banda?

Felipe – Essa é uma questão engraçada, porque o Viper oficialmente nunca chegou a acabar. Depois dessa última turnê a gente parou novamente, mas nunca chegamos a decretar oficialmente o fim da banda. Acho que é melhor assim, saber que podemos voltar e fazer um show especial a qualquer hora, sem ficar aquela coisa de “Viper volta pela quarta vez”, “Viper volta pela décima vez” etc.. Tivemos várias formações e ainda somos muito amigos, então é algo que pode acontecer se surgir um projeto interessante. De qualquer maneira, a banda não se apresenta desde 2007.

PJ – Você sente falta dos palcos e turnês?

Felipe – Sinto, não apenas das apresentações em si, mas de tudo o que está envolvido nesse processo: as viagens, a convivência com os amigos, as piadas. Hoje temos filhos e seria muito difícil imaginar ficar longe da família dois, três, quatro meses no ano. Mas dá saudade porque o Viper tinha uma coisa especial, a amizade entre os integrantes. Como éramos amigos de infância, sempre consideramos a amizade uma parte muito importante da carreira da banda. Dessa convivência dá bastante saudade, apesar de que a gente ainda se encontra com bastante frequência.

PJ – Pretende ainda desenvolver no futuro algum projeto no ramo musical?

Felipe ? Acho que sim. Dizem que músico nunca deixa de ser músico e é verdade. Estou sempre tocando, mas hoje em dia apenas informalmente. Toco com uns amigos de vez em quando numa banda chamada S40, por exemplo. Algumas pessoas jogam futebol uma vez por semana, a gente se reúne para tocar canções do U2, Pearl Jam, Beatles, coisas mais pop. É divertido porque não há preocupação com profissionalismo, carreira, é apenas uma atividade prazerosa. E também toco violão em casa, em festas para amigos e coisas do gênero.

PJ – Guitarrista profissional, redator publicitário, diretor de documentários, escritor e jornalista. Qual dessas atividades lhe trouxe maior realização profissional?

Felipe – Tudo tem sido muito bom, e é engraçado porque não penso nessas atividades de maneira separada. Quer dizer, é claro que são totalmente diferentes, mas no fundo acredito que são maneiras e linguagens diferentes de me expressar. No fundo tudo isso está ligado ao ato de escrever e tocar, ou seja, criar. O Glauber Rocha tem uma frase que eu adoro: “Criar é mais importante que ser feliz”. Acho que o legal é ter um número grande de projetos onde você possa manifestar seu espírito criativo. Eu diria que cada uma dessas áreas tem a sua importância na minha vida, e o bom é que não preciso deixar nenhuma de lado para privilegiar a outra, pelo menos não de maneira definitiva. No jornalismo, tenho orgulho das coberturas multimídia que fiz da Olimpíada da China e da Copa da África do Sul, por exemplo. Como escritor, tenho carinho especial por meus livros. Como guitarrista, fiz turnês internacionais, shows em estádios, viagens muito legais. Como documentarista, fiz alguns projetos bem legais no Estadão. Como redator ganhei alguns prêmios e criei algumas campanhas das quais também me orgulho. Então, cada coisa é especial no seu tempo, no seu momento.

PJ- Você teria algum sonho por realizar em alguma de suas muitas carreiras?

Felipe – Acho que crescer é inevitável, há muito espaço ainda para trilhar, principalmente no jornalismo. Como diretor de Mídias Digitais do Diário de S.Paulo, estou buscando criar uma cultura digital na empresa que é bem interessante e que tem gerado um resultado muito positivo. A área digital ainda é algo muito novo para todo mundo, por isso é fascinante descobrir para onde a comunicação e o jornalismo estão indo. Quero continuar atuando em projetos criativos, inovadores. O fato de ter uma formação heterogênea ajuda muito, porque me facilita na hora de pensar “fora da caixa”. Não tenho os limites que alguém restrito a apenas uma dessas atividades talvez pudesse ter. Mas ainda há tanto a descobrir, a aprender, que é impossível ficar parado.

O perfil completo de Felipe Machado, com a lista de seus álbuns, documentários e livros você confere aqui no Portal dos Jornalistas.

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