Na semana em que se celebram os 153 anos de nascimento do padre-cientista brasileiro Roberto Landell de Moura, inventor do rádio, o Brasil ainda continua em dívida com o legado dele Completados nesta 3ª.feira (21/1) 153 anos do nascimento de Roberto Landell de Moura, padre e cientista brasileiro que inventou o rádio e foi precursor das telecomunicações, a nação brasileira ainda não fechou o ciclo de seu reconhecimento, que é a inclusão de sua saga e de sua história no currículo obrigatório do Ensino Fundamental. Durante todo o período em que permaneceu à frente do Ministério da Educação, o ministro Aloizio Mercadante não deu um único passo em direção a esse justo reconhecimento, apesar de ter sido procurado pessoalmente em seu gabinete pela senadora Ana Amélia Lemos e pelo biógrafo de Landell Hamilton Almeida. Ao contrário, Mercadante e sua equipe ignoraram o pleito, demonstrando total insensibilidade à causa, a despeito de todo o esforço em mantê-lo informado e das dezenas de apoios de importantes brasileiros publicados nas páginas de Jornalistas&Cia defendendo a medida. Ainda como parte da celebração do 153° aniversário de Landell, o Portal dos Jornalistas publica um artigo de Hamilton sobre as recentes e fascinantes descobertas sobre Landell, possíveis graças ao processo de digitalização de antigos jornais e revistas do Brasil e de várias outras partes do mundo. Digitalização de publicações facilita (e amplia) as pesquisas Conhecimento da obra do Padre Landell ganha nova dimensão Já houve um tempo, não muito distante, em que encontrar uma notícia de alguém em algum jornal do início do século XX implicava ler e folhear páginas e páginas amareladas, centenas ou até milhares delas. O mesmo esforço continuou sendo empregado a partir da microfilmagem, que evitou o desgaste dos materiais originais. De qualquer maneira, era necessário ler com muita atenção, pois os jornais antigos brasileiros eram do estilo “tijolão” – textos curtos, sem títulos, espremidos entre várias e longas colunas. Era uma tarefa exaustiva e só compensadora quando se descobria algo. Algo como garimpar ouro em um morro qualquer, mal comparando. Graças ao desenvolvimento da tecnologia, hoje em dia, felizmente, é possível pesquisar em poucos segundos algo que poderia tardar semanas ou meses. Rápido e indolor. A digitalização de documentos, teses, jornais, revistas e livros facilita o trabalho de pesquisadores em todo o mundo. Basta usar uma palavra-chave e o resultado logo aparece na tela do computador. Melhor ainda: não é mais necessário, por exemplo, ir até a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, ou à Library of Congress (Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos), em Washington. Um simples clique resolve o problema, esteja o computador no conforto da sua casa ou numa lan house. É o mundo dos sonhos de qualquer pesquisador. Simplesmente fantástico! Depois de encarar durante anos a fio os métodos tradicionais – e antiquados – de pesquisa, dispor da digitalização é uma benção. É nesse contexto que a pesquisa que faço há mais de 35 anos sobre a vida e obra do padre-cientista Roberto Landell de Moura, pioneiro das telecomunicações, ganhou nova dimensão. Só agora foi possível saber, por exemplo, que teve repercussão maior do que se imaginava a passagem dele pelos Estados Unidos, onde morou de 1901 a 1904 com o objetivo de patentear suas invenções. Sabia-se que as invenções do Padre Landell haviam sido divulgadas no New York Herald, um jornal, por sinal, ainda não digitalizado! Mas não se sabia, até agora, que a exposição na mídia norte-americana foi além, graças a jornais como The St. Paul Globe e The St. Louis Republic e as revistas especializadas Western Electrician e Electrical World and Engineer. A saga do Padre Landell em Nova York repercutiu até na Europa: revista La Lectura, de Madrid. Notícias destacando a importância do que o Padre Landell estava prestes a patentear – a transmissão de voz sem fio à distância, o então chamado Wireless Telephone ou simplesmente o rádio como o conhecemos – também foram publicadas de Norte a Sul do Brasil, em capitais e em cidades do interior como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Juiz de Fora (MG), Penedo (AL), Cachoeiro de Itapemirim (ES), Petrópolis (RJ)… O site da hemeroteca digital brasileira, da Biblioteca Nacional, permite esse novo olhar sobre os acontecimentos. Também se sabe, agora, que Padre Landell fez pelo menos uma experiência de radiodifusão em Nova York. E, em São Paulo, não fez somente experiências entre a avenida Paulista e o Colégio Santana, na zona norte, pontos distantes 8 km em linha reta. Também teria feito a transmissão sem fio da voz humana entre o Mosteiro de São Bento e a chácara da Ordem, em área contígua ao bairro da Casa Verde (hoje Jardim São Bento), cerca de 5 km em linha reta. Graças à digitalização é possível ver na tela de um computador o grande destaque que jornais do mundo inteiro deram ao italiano Guglielmo Marconi, que assombrou o mundo científico e a população em geral não só quando patenteou o telégrafo sem fio, inaugurando a era wireless, como quando conseguiu pela primeira vez, em 1901, enviar sinais telegráficos através do Oceano Atlântico. Essa experiência foi revolucionária porque provou que a curvatura da Terra não era obstáculo para as transmissões sem fio. Por outro lado, a pesquisa digital revela que, em 1902, Marconi, desfrutando de fama mundial, não acreditava no futuro do rádio ou das transmissões de voz humana sem fio. Ele dizia que o alcance seria limitado e, portanto, pouco promissor… Um século depois, a telegrafia sem fio quase não existe e o som do rádio se espalha por todo o planeta e percorre o espaço sideral. Os novos horizontes abertos pela digitalização permitem saber até que as três patentes obtidas pelo Padre Landell nos Estados Unidos serviram, com o passar do tempo, de referência para outros cientistas e empresas, como RCA e Mitsubishi. Ficou mais fácil e ágil pesquisar fontes primárias. Sabendo buscar na internet, só não faz um trabalho melhor quem for preguiçoso. Se a tecnologia moderna nos dá ferramentas que, bem usadas, podem gerar resultados mais rápidos, profundos e precisos, cabem, entretanto, algumas observações. Aviso aos navegantes: nem tudo está, obviamente, digitalizado. Ainda há muitos jornais e revistas, no Brasil e no mundo, que continuam repousando em arquivos e bibliotecas no formato original ou microfilme. A boa notícia é que o processo de digitalização continua e, assim, com o passar do tempo, se incorporam mais e mais dados. Advertência aos navegantes: por razões que só a tecnologia sabe, pode acontecer de determinada palavra-chave não ser localizada. Assim como nós, humanos, a moderna tecnologia não é perfeita. É assustador, sim, mas não existe a busca perfeita, 100% garantida. A falha acontece quando o buscador confunde a grafia. Uma letra mal impressa, uma letra borrada no original pode, portanto, dificultar a pesquisa digitalizada. É nesses casos que o olho humano nos originais continua imprescindível!
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