Por Álvaro Bufarah (*)
Quando abri minha fala no painel sobre Avanços da Inteligência Artificial no Rádio Brasileiro, no evento da SET 2025, procurei mostrar como o setor vive um momento de aceleração sem precedentes. A popularização de ferramentas como o ChatGPT tornou a adoção da IA muito mais rápida, e isso já se reflete em diferentes áreas do rádio. Expliquei que hoje já utilizamos recursos como clonagem de voz, conversão de texto em fala, geradores de música e análise de sentimentos. Ao mesmo tempo, alertei para os riscos éticos: lembrei do caso da radialista Gisele Souza, que teve sua voz comercializada como se fosse de uma inteligência artificial. Situações como essa mostram a urgência de debatermos não apenas tecnologia, mas também responsabilidade.
Compartilhei também dados da Organização Internacional do Trabalho, que indicam que 8,6% das empresas em países de alta renda devem ser diretamente impactadas pela automação via IA. Esses números ajudam a dimensionar o alcance da transformação que estamos vivendo. Ainda assim, enfatizei que muitas emissoras brasileiras não precisam, necessariamente, começar pelas soluções mais complexas. Tecnologias já consolidadas, como sistemas de CRM, podem trazer resultados expressivos no relacionamento com os ouvintes e abrir caminho para avanços mais sofisticados.
Na sequência, Tuta Neto, CEO da Sampi e diretor de novos negócios da Jovem Pan, destacou que o rádio já não se sustenta apenas pelo meio de transmissão: o que importa é a força da marca e a credibilidade do conteúdo. Ele foi categórico ao afirmar que o rádio hoje disputa espaço com influenciadores digitais em grandes eventos e que a IA, acessível a custos cada vez menores, se tornou um diferencial competitivo. Para Tuta, o jornalista ganha um novo papel nesse cenário − não o de competir com a máquina, mas de aprofundar a investigação, criar narrativas e articular opiniões em múltiplos formatos e canais.

Carlos Aros, da Rede Jovem Pan News, trouxe a experiência de uma emissora que há mais de uma década investe em transformação digital. Ele mostrou como a combinação entre conteúdo automatizado e produções locais potencializa a entrega ao público. Reforçou que a presença multiplataforma já é realidade para o rádio e que, nesse processo, a IA também entrou no dia a dia das redes sociais, ajudando a escalar resultados sem renunciar ao padrão editorial. Os números impressionam: conteúdos que já superaram 4,2 bilhões de visualizações. Mesmo assim, Aros alertou que o maior risco é acreditar cegamente nos resultados oferecidos pelas máquinas: “O jornalista precisa estar no comando, porque a curadoria humana é indispensável”.
O painel ainda ampliou a perspectiva ao trazer exemplos internacionais. A BBC, no Reino Unido, e a NPR, nos Estados Unidos, já utilizam inteligência artificial para otimizar a produção em múltiplos formatos, reforçando que inovação e tradição podem caminhar lado a lado. Esses casos ajudam a mostrar que o desafio brasileiro não é apenas tecnológico, mas também cultural: manter o rádio vivo, humano e ético em meio a uma transformação que não tem volta.

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.










