Por Assis Ângelo
Mais uma vez o Brasil
Escapou de mergulhar
No terreno movediço
Da ditadura militar
Feia e sanguinária
Que não se cansa de matar…
O começo da tarde daquele 8 de janeiro de 2023 pegou de surpresa os brasilienses e brasileiros em geral.
Era um domingo ensolarado quando pelo menos 4 mil malucos e malucas quebraram tudo que encontravam na Praça dos Três Poderes. Muitos foram presos e pelo menos 1,6 mil tiveram de prestar contas à Justiça.
No começo da noite de 11 de setembro de 2025 os principais líderes golpistas pegaram penas pra eles inesperadas.
Ditadura, sabemos, é coisa que não presta.
Livro dos Cegos é obra do jornalista Marcio Salgado. Conta a história de uma mulher desaparecida durante os chamados anos de chumbo (1964-1974). Quem anda louco à procura da personagem é o filho, Antônio. O narrador, em determinado momento, depara-se com anotações em Braille feitas por alguém de nome Jeremias e com isso passa a juntar pedrinhas do jogo. Interessantíssimo.

Enquanto a ficção e a realidade se juntam no livro de Salgado, a realidade nua e crua ponteia a vida de uma mãe em busca do filho que fora sequestrado e levado à Base Aérea do Galeão, no Rio, onde teria sido assassinado. Corria o ano de 1971. A mãe chamava-se Zuzu e o filho Stuart. Ela morreu cinco anos depois do filho, vítima de um atentado provocado por trogloditas da ditadura militar.
Foi em 1976 que o baiano Milton Coelho de Carvalho foi preso e duramente castigado por ser militante do PCB. Perdeu a visão durante sessões de tortura. Morreu em abril de 2024, em Sergipe, aos 82 anos de idade.
Pululam nas crônicas, contos, poemas e romances a figura do cego, do míope…
No ótimo Fogo Morto (1943), do paraibano José Lins do Rego, acham-se o cego Torquato e o vagabundo José Passarinho. A este personagem é perguntado com quem aprendeu a cantar. Adorava beber e cantar. Era das proximidades do seleiro mestre Amaro. E ele responde mais ou menos assim: “Aprendi a cantar cantiga com um cego de Itambé”.
Em Fogo Morto aparecem soldados rasos, capitães, tenentes, coronéis, além de delegado, cangaceiro e juiz.

Tem até suicídio em Fogo Morto.
Num conto do autor paulistano Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) intitulado Apólogo Brasileiro Sem Véu de Alegoria, o protagonista é um cego conhecido pela alcunha de Baiano. É rabequeiro. Ele está num trem lotado. De repente, o seu guia diz que o trem está completamente às escuras. E o cego na dele. O trem chega a seu destino aos trancos e barrancos, com seu interior todo depredado. A razão foi simples: o cego baiano improvisou um discurso dizendo que estava tudo errado, pois o preço das passagens cobria o que fosse preciso. Não cuidar do trem era algo impensável. Ao desembarcarem, pessoas eram abordadas pela polícia local. Um policial perguntou a um sujeitinho que carregava uma Bíblia nas mãos como tudo começou. E a resposta veio depressa: “Foi aquele cego”.
O policial, com cara amarrada, não pensou duas vezes e ao portador da Bíblia deu voz de prisão, dizendo: “Com autoridade não se brinca!”.
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