Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje, recebeu em 9/5 o Prêmio Especial Fundacom 2019 Uma vida dedicada à comunicação, em Madri, por reconhecimento ao seu trabalho de décadas pelo fomento da atividade de relações públicas e comunicação no Brasil. A honraria foi concedida pela Fundacom, entidade internacional que promove a comunicação nos países de língua espanhola e portuguesa em todo o mundo.
Professor titular da ECA-USP e pós-doutorado pela Libera Università di Lingue e Comunicazione de Milão, na Itália, Nassar integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP e coordena o Grupo de Estudos de Novas Narrativas da escola.
Autor de inúmeros trabalhos no campo da Comunicação, suas contribuições na área acadêmica e de pesquisa em comunicação e relações públicas têm sido fundamentais para o avanço da profissão não só dos países de língua portuguesa, mas também em todo o âmbito ibero-americano, sendo citado em 1.400 ocasiões em trabalhos acadêmicos, segundo o Google Scholar.
O
professor, palestrante e especialista em comunicação e mídias sociais,
Fernando Souza ministrará o
curso de Negócios Digitais para Agências, na São Paulo Digital School (Fidalga, 630-Vila Madalena), de 13 a
17/5. O curso contará com conteúdo exclusivo sobre como medir, precificar e
cobrar por um serviço digital, sendo indicado para empreendedores,
administradores, gestores de agências e profissionais livres de comunicação e
marketing, com carga horária total de 12 horas.
Os
alunos poderão conhecer as formas mais eficientes de gestão de projetos,
estruturação de equipe, além de identificar e definir o perfil ideal para seu
negócio, bem como as formas para garantir uma boa performance. Mais informações
e inscrições no site do
curso.
Estão abertas as inscrições para a quinta edição do programa de estágios do Twitter no Brasil. O processo seletivo, feito em parceria com a Companhia de Estágios, conta com seis vagas para estagiários no escritório de São Paulo e não tem restrições de cursos.
Além de bolsa-auxílio, os escolhidos receberão benefícios como vale-transporte, vale-refeição e auxílio para academia. Inscrições e mais informações no site da Companhia de Estágios ou no perfil @JoinTheFlockBR, no Twitter.
Nesta segunda edição do ano de Jornalistas&Cia Empresa Cidadã o tema é Compliance, disciplina que ganhou corpo no mundo empresarial contemporâneo face, de um lado, às exigências de integridade surgidas no bojo de escândalos de corrupção de grande magnitude (vide Lava-Jato no Brasil), e, de outro, à necessidade de proteger a reputação junto aos inúmeros stakeholders e à sociedade como um todo, garantindo não só o avanço econômico das organizações, mas a sua própria perenidade.
A proposta deste ciclo, vale ressaltar, é abrir um canal
editorial para mostrar, por meio sobretudo do olhar da Comunicação Corporativa,
as boas práticas empresariais em temas contemporâneos e estratégicos. Uma
vitrine apoiada numa agenda positiva, que permita às organizações apresentarem
os inúmeros esforços e investimentos em iniciativas que impactam os negócios,
os processos, o mercado e a sociedade de um modo geral.
Nesta edição, em especial, a ideia foi mostrar como esse
tema tem avançado nas organizações, seu estágio atual, as diferenças entre
discurso e prática e para onde apontam as tendências, a partir do impacto das
novas e inovadoras tecnologias, do olhar cidadão das populações e da própria
sobrevivência ou transformação dos modelos empresariais em curso.
Para abordar assunto tão estratégico, até certo ponto
técnico e árido, convidamos o experiente e talentoso Costabile Nicoletta, profissional com trajetória intimamente ligada
a pautas econômicas e empresariais e que já compareceu aqui mesmo, neste
Jornalistas&Cia, colaborando em outros especiais.
Costabile mergulhou no tema e foi atrás de boas histórias
de mais de uma dezena de empresas de vários segmentos da economia, além de
buscar o contraponto com fontes especializadas de instituições consagradas, para
poder levar aos leitores informações confiáveis sobre o atual estágio do compliance no Brasil, seus desafios e as
tendências em curso.
Vale a pena acompanhar esse mergulho pelas águas do compliance, pois sabe-se que essa é uma
disciplina que permeará de forma intrínseca os negócios nos próximos anos e que
continuará a ser protagonista no mundo empresarial. E a Comunicação não pode
ficar ausente ou distante desse universo, sob pena de perder relevância e
ganhar o ostracismo.
Esperamos que este especial traga bons insights aos profissionais de comunicação e também aos jornalistas
dos quatro cantos do Brasil, para que possam ser mais estratégicos e profundos
nas respectivas abordagens e planejamentos sobre compliance.
Nossos agradecimentos às organizações que apoiaram esta
edição: Gerdau, GPA, MRV e Usiminas.
Boa leitura!
Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli
Como o Brasil reconstrói a sua integridade
Programas de compliance disseminam-se nas empresas instaladas no
País, na mesma proporção do desafio de convencer a sociedade de que o objetivo
de um ambiente de negócios ético não se restrinje às palavras escritas nos
códigos de conduta
Por Costábile Nicoletta (*)
Desde março de 2014, quando
o Ministério Público e a Polícia Federal deflagraram a Operação Lava-Jato, já se cumpriram mais de mil mandados de busca e
apreensão, de prisão temporária e preventiva e de condução coercitiva de
funcionários de estatais, políticos, empresários e executivos de companhias
privadas envolvidos em manobras criminosas de numerosos tipos de suborno. Cerca
de R$ 14 bilhões desses desvios foram recuperados, os pedidos judiciais de
indenização por improbidade administrativa somam R$ 20 bilhões e calcula-se em
mais de R$ 45 bilhões a quantia que deveria ser ressarcida aos cofres públicos
em decorrência desses malfeitos, a fim de remir a população brasileira dos mais
torpes labéus que toda essa turma lhe infligiu. Isso sem contar a contribuição
dada pela corrupção nos anos a fio em que o País sofreu com índices
hiperinflacionários, em boa parte causados pelos sobrepreços cobrados por esses
mesmos criminosos em suas atividades profissionais e empresariais para dar
fluidez ao propinoduto.
À medida que a Lava-Jato avançava, intensificou-se no
mundo corporativo a adoção de programas internos para enquadrar a condução de
seus negócios a padrões éticos, a fim de reduzir a possibilidade de as empresas
verem ruir sua reputação em consequência de qualquer tipo de ato ilícito. Esses
programas ficaram conhecidos como compliance.
O termo teve origem nos sistemas de controles internos que as instituições
financeiras são obrigadas a estabelecer para garantir o cumprimento das
exigências legais e regulamentares relacionadas às suas atividades. Hoje, compliance já começa a ser traduzido
como integridade, não mais se limita ao mercado financeiro e passou a ser
empregado por empresas de qualquer natureza, sobretudo para designar suas
iniciativas para evitar e combater a corrupção.
Valéria Café (IBGC)
Valéria Café, diretora de Vocalização e Influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), afirma que, hoje, a definição de compliance vai muito além de programas anticorrupção e inclui medidas para coibir práticas concorrenciais desleais, assédio moral, pessoal, de abuso de autoridade, discriminação, vulnerabilidade cibernética, além de cuidar para que sejam respeitados os direitos humanos e trabalhistas e minimizados os impactos ambientais provocados pelas organizações. “E não são só os funcionários de cada empresa que devem zelar por esses valores”, acrescenta Valéria. “Todos nós, como consumidores, precisamos ter atitudes mais críticas em relação ao governo e às empresas para cobrar que o que está escrito nas regras desses programas seja efetivado, de fato, exercendo nossa cidadania ao não comprar produtos ou serviços de companhias que não cumprem o que apregoam em seus sistemas de compliance.”
Guilherme Donega (Transparência Internacional)
Resistência – Guilherme Donega, consultor do Programa de Integridade em Mercados Emergentes da ONG Transparência Internacional, lembra que no início dos anos 2010 o setor empresarial brasileiro, em sua maioria, resistia à ideia de que precisava de estruturas para prevenir, detectar e responder adequadamente às irregularidades que seus funcionários cometiam. Partiam do pressuposto de que suas práticas eram o que eram e quem discordasse que conversasse com o Jurídico. Isso mudou a partir de 2014, quando a Operação Lava-Jato começou a mirar grandes corporações e quando a Lei Anticorrupção entrou em vigor, passando a responsabilizar empresas por atos de corrupção que as beneficiassem. “O setor empresarial foi obrigado a enxergar a necessidade de adotar programas de compliance, partindo da compreensão de que poderiam ajudar a evitar a ocorrência de irregularidades e que sua existência permitiria descontos em multas oriundas de violações à Lei Anticorrupção”, diz Donega.
Com base nisso, de lá para
cá, programas de compliance
multiplicaram-se no Brasil, em especial nas grandes empresas. Muitas
corporações contrataram profissionais e consultorias para montar políticas,
códigos de ética, estabelecer processos e implementar os demais passos
elementares para atestar a terceiros que possuíam programas de integridade.
“Prova disso é o resultado do estudo Transparência
em Relatórios Corporativos, da Transparência Internacional Brasil, lançado
em 2018. No estudo, identificamos que só nove das 110 maiores empresas do
Brasil não tinham algum tipo de política anticorrupção disponível ao público
externo”.
Agora, continua o
consultor, passada essa fase inicial de estabelecimento, as áreas de compliance no Brasil enfrentam o desafio
de tirar essas políticas do papel e criar um contexto ético nas empresas nas
quais estão inseridas: “A lógica é que não basta que princípios de integridade
existam, eles devem permear a cultura organizacional da corporação e pautar as
decisões que seus funcionários tomam, da alta liderança à linha de montagem”.
Flávia Mouta (B3)
Companhias abertas — Segundo Flávia Mouta, diretora de
Emissores da B3 – a bolsa de valores na qual as empresas negociam suas ações no
Brasil –,, todas as companhias listadas na entidade devem obedecer a regras
específicas para emitir e negociar suas ações em seus respectivos segmentos.
Esse conjunto de regras – que incluem boas práticas de governança corporativa e
compliance – está disponível nos
regulamentos e manuais, acessíveis no site da B3. Como referência, Flávia cita
o Novo Mercado, segmento da B3 com os mais elevados padrões de governança
corporativa, que hoje detém o maior número de empresas listadas: 141
companhias.
“No processo de evolução das regras desse segmento, em 2017 foi aprovada a inclusão de um capítulo inteiramente dedicado a obrigações referentes à fiscalização e ao controle das companhias: compliance, controles internos, gerenciamento de riscos, auditoria interna e implementação de comitê de auditoria”, demonstra Flávia. Essas regras já são válidas para as companhias ingressantes no Novo Mercado a partir de janeiro de 2018 e, para as já listadas há prazo de adaptação até a realização da assembleia ordinária de 2021.
Bruno Massard (Ibmec RJ)
Melhoria contínua — De acordo com Bruno Massard, coordenador técnico da Pós-graduação de Compliance do Ibmec RJ e sócio-diretor da KPMG, pode-se afirmar que as empresas reguladas, especificamente as do setor financeiro, encontram-se em um nível de maturidade mais avançado, especialmente considerando-se as regras de combate à lavagem de dinheiro. Mas, olhando as empresas de uma forma geral, de acordo com a pesquisa Maturidade de Compliance no Brasil, publicada em 2018 pela KPMG, as iniciativas de compliance estão ainda em estágio de amadurecimento. “É importante destacar que, considerando um ambiente em constante mudança, é mandatório que elas reavaliem periodicamente não somente os riscos de compliance como o próprio programa, de forma a observar eventuais pontos de melhoria e ajustes”, afirma Massard.
Marina Coelho Araújo (Insper Direito)
Marina Coelho Araújo, professora do
Insper Direito, acrescenta que, como o setor financeiro foi impactado
anteriormente com a necessidade de desenvolvimento de políticas de controle,
hoje o compliance nas grandes
instituições que compõem esse ramo empresarial está em um patamar de
desenvolvimento elevado, e o mesmo ocorre com companhias grandes e
multinacionais. “Em relação às empresas brasileiras, formadas a partir de
capital nacional, o estágio de desenvolvimento, em regra, é inicial ou
intermediário, com programas em implantação e ainda há necessidade de
amadurecimento das regras de controle, monitoramento e treinamento”, analisa.
Ágatha Camargo
Ágatha Camargo, coordenadora do Comitê de
Ética, Integridade e Compliance da Associação
Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), também vale-se das pesquisas da
KPMG e da Transparência Internacional para avaliar que, embora cada
setor tenha um nível de desenvolvimento em função das respectivas pressões e
regulações, o que se observa é positivo. O estudo de 2018vda KPMG aponta que,
de 450 empresas (a amostra é formada por 69% da Região Sudeste e 25% com
receita operacional bruta acima de R$ 5 bilhões), 73% já possuem estruturas
dedicadas a compliance, 77% já
entendem que têm independência nas funções e 79% reportam o status das
atividades à cúpula da organização.
“São indicadores positivos para um país que aprovou uma lei anticorrupção em 2013 e um decreto que a regulamenta em março de 2015”, entende Ágatha. “Essa pesquisa identifica que o nível de maturidade do compliance no País está em 2,5 – entre o sustentável e o maduro –, em uma escala de 0 (fraco) a 5 (avançado). Estamos em um bom caminho e buscando profissionalização“. Uma pesquisa divulgada pela Transparência Internacional em 2018 sobre a percepção de especialistas em relação ao combate à corrupção pelo setor empresarial, continua Ágatha, demonstra que o compliance no Brasil está em um indicador 56,2 (em uma escala de 0 a 100), o que converge com a pesquisa da KPMG, mas que os esforços de relacionamento com o mercado e as ações coletivas para o desenvolvimento das práticas está em 75, o principal indicador nacional dessa pesquisa.
Wagner Giovanini (Compliance Total)
Wagner Giovanini,
ex-diretor de Compliance da Siemens na América Latina e sócio-fundador da
consultoria Compliance Total, afirmaque existem no Brasil 6,4 milhões de pessoas
jurídicas e que 99% delas podem ser consideradas micro ou pequenas empresas.
“Temos de admitir que há um enorme contingente de organizações no estágio zero.
Pouquíssimos são os exemplos de algum avanço nessa faixa de tamanho de empresa”,
diz. Para empresas médias e
grandes, já se percebe algum movimento, porém aquém do necessário. “Ainda há
muita falta de informação. Alguns pensam que o compliance atrapalha. Outros, que a empresa não precisa disso, seja
por acreditar ser um modismo, seja por nem saber do que se trata”, prossegue o
consultor. “Esse desconhecimento sobre o que cada um deve fazer e os benefícios
decorrentes dessa inciativa inibem o progresso do compliance no mundo corporativo. Assim, é possível até arriscar uma
medida para melhorar esse quadro: comunicação maciça, informação e
conscientização dos empresários, associações de classe, sindicatos patronais
etc.. E, sem dúvida, uma cobrança maior das autoridades e das grandes empresas
em suas cadeias de fornecimento”.
De acordo com Giovanini, no âmbito das multinacionais o tema já está mais difundido e as empresas encontram-se num estágio mais avançado. Na área pública, tanto as empresas quanto os órgãos ainda estão aprendendo, gradativamente. Uns mais à frente, outros ainda no início: “Mas vale uma mensagem de otimismo: mesmo estando o cenário atual aquém do esperado, há um progresso sensível. O interesse cresceu bastante e pouco a pouco o tema vem ganhando adeptos. E é muito bom que isso esteja acontecendo, pois não haverá retrocesso e quem não se engajar agora poderá ter a sua sustentabilidade colocada em risco”.
Importância da comunicação — Guilherme Donega, da Transparência Internacional, alerta que decisões
corporativas, éticas ou antiéticas, são tomadas por indivíduos. Se uma empresa
espera que os indivíduos que tomam decisões em seu nome o façam pautados pela
integridade, ela deve estimular que seus funcionários levem em consideração
seus valores, códigos e políticas de compliance
quando representam a corporação: “Nesse sentido, a área de comunicação é uma
parceira-chave da área de compliance.
Ambas devem trabalhar em conjunto para atingir funcionários e terceiros com
mensagens constantes que estimulem a integridade nos contextos nos quais esses
indivíduos estão inseridos. Mais especificamente, pautado pelo setor de
Compliance, que dirá as áreas de risco às quais a empresa está exposta, o
Departamento de Comunicação deve trabalhar na promoção de campanhas temáticas
que estimulem colaboradores a não saírem da linha”.
Conforme Donega, além da
interação com funcionários, por meio de relatórios próprios e nos mais diversos
tipos de mídia, a área de comunicação também tem o papel de manter a sociedade
informada sobre o impacto da atuação empresarial. Cada vez mais, diz ele, a
sociedade exige de empresas um protagonismo em temas relevantes. “No caso do
Brasil, um dos temas mais em voga são os ilícitos empresariais. Nesse sentido,
é importante que a área de comunicação esteja preparada para utilizar seus
meios para reportar passos que empresas vêm tomando para prevenir e remediar a
ocorrência de irregularidades”.
Para o consultor do
programa de Integridade em Mercados Emergentes da Transparência Internacional,
a percepção de resultados só virá com o tempo e depende, em primeiro lugar, do
reconhecimento, humilde e transparente, por parte do setor empresarial de que,
sim, adotou práticas irregulares no passado. “Além disso, é também importante
uma mudança real do comportamento empresarial no Brasil. Quando empresas violam
leis, transparecem à sociedade que seus interesses estão acima do bem comum.
Empresas não podem servir exclusivamente aos interesses de seus acionistas.
Também devem atender aos interesses da sociedade e das comunidades com as quais
interagem”, afirma. “Caminhando nessa direção, quanto mais socialmente
responsáveis as empresas forem, mais transmitirão à população a percepção de
que suas iniciativas de compliance
não ficam apenas no papel”.”
Quem tem de dar o exemplo – Valéria Café,
do IBGC, lembra que o exemplo tem de vir de cima, da alta direção, dos donos da
empresa, de seus fundadores. “A comunicação começa no líder, primeiro com o
exemplo; segundo em cobrar o cumprimento das regras de compliance”, diz. “As áreas de comunicação e recursos humanos andam
juntas nesse processo“. De acordo com Bruno Massard, do Ibmec RJ, por meio do
desenvolvimento estruturado de um plano de comunicação é possível demonstrar o
apoio da alta direção da empresa ao programa de compliance e o aprimoramento dos processos de governança
corporativa agregaria muito aos gestores, clientes e, consequentemente, ao
País.
“A boa comunicação é
indispensável à efetividade de um bom programa de compliance”, explica Marina Coelho Araújo, do Insper Direito.
“Desde a construção dos manuais de ética e conduta até os treinamentos
relacionados às políticas construídas, tudo deve passar pelo setor de
comunicação, para que se atinja de forma eficaz o destinatário de todo o
programa“. Ágatha Camargo, da Aberje, afirma que as atividades de compliance configuram sistemas e
processos de suporte para que a organização e cada funcionário, de forma cada
vez mais autônoma, reconheçam riscos de decisões e possam agir de forma
alinhada às recomendações legais, setoriais e dos princípios da organização.
Assim, a contribuição da comunicação, não necessariamente do setor de
comunicação, é construir o desenvolvimento cultural.
“Todos os processos de
comunicação, sejam os formais nas publicações e redes sociais internas, as
declarações oficiais de líderes e as conversas não mediadas sobre compliance, influenciam, produzem
significado e alteram a percepção dos funcionários sobre o tema”, diz Ágatha.
“É preciso sair do instrumental e ir para o nível estratégico da transformação
cultural. A principal contribuição é o alinhamento com as áreas de compliance, gestão de pessoas, de
cultura e com os líderes, para o desenvolvimento de planos que apoiem esse
desenvolvimento cultural, e não apenas ‘chame a atenção’ para treinamentos que
precisam ser feitos ou para ‘incentivar’ o uso dos canais de denúncia”.
Wagner Giovanini, da
Compliance Total, reconhece que a comunicação exerce um papel crucial, tanto na
fase de implementação quanto na execução e gestão do compliance. Primeiramente, porque é necessário informar,
conscientizar e qualificar as pessoas sobre tudo de novo que passou a existir
na empresa. Depois, com o compliance
totalmente implementado, a comunicação é a responsável por manter a chama
acesa, deve incentivar as pessoas a continuar contribuindo e apoiando o tema,
precisa alcançar os recém-contratados, dar bons exemplos e fortalecer, no dia a
dia, a cultura da ética e integridade: “Sem uma comunicação profissional,
adequada à natureza da empresa e com conteúdo claro, objetivo, conciso e
inspirador, o compliance
provavelmente não sobreviverá por muito tempo”.
Flávia
Mouta, da B3, afirma que a comunicação é um componente fundamental para o dia a
dia de uma companhia de capital aberto, não apenas para atender às demandas por
transparência previstas pelos regulamentos do seu segmento listagem – que
incluem comunicações públicas e periódicas sobre seus resultados financeiros e
decisões estratégicas –, como também tornar seus ativos atrativos para o
público investidor. “O princípio do full
disclosure (divulgação completa/total transparência) é essencial ao
desenvolvimento do mercado de capitais de qualquer país. Para tanto, fazem toda
a diferença equipes de comunicação que ajudem a abordar temas complexos em
linguagem clara e objetiva, num tom sereno e moderado.”
Resultados na população– Segundo Bruno Massard,do
Ibmec RJ, a forma prática de a sociedade aferir os resultados das iniciativas
de compliance das empresas é por meio
de mudança geral no comportamento das companhias, traduzida pelos índices
divulgados ao mercado, como transparência nos negócios e percepção de corrupção
no ambiente empresarial. “Cabe lembrar que as empresas são formadas por pessoas
e por meio da mudança no comportamento delas é possível transformar não somente
o ambiente empresarial, como a sociedade de uma forma abrangente”, diz Massard,
que exemplifica: “Uma pessoa treinada sobre aspectos de compliance e vivenciando um ambiente empresarial ético tende a não
mais pagar o ‘cafezinho’ para um policial. Mas é importante fazer a seguinte
ressalva: assim como a mudança de cultura numa empresa atingida por escândalos
de corrupção é gradual, trabalhando com uma perspectiva de médio e longo
prazos, os reflexos para a sociedade também serão”.
Para Marina Coelho Araújo,
do Insper Direito, a população perceberá os resultados práticos dessas
iniciativas no próprio ambiente de negócios: “Práticas não ortodoxas ou até
ilícitas sempre foram muito comuns em setores de negócios brasileiros, tais
como sonegação de impostos, não cumprimento de regras ambientais, ou ainda
questões de pequenas falsificações e fraudes. A população perceberá que essas
pequenas ações terão impacto enorme no ambiente de transparência dos negócios
no Brasil”.
Ágatha Camargo, da Aberje,
pensa que a população também tem dificuldade de aferir, assim como os órgãos
reguladores e certificadores. A grande maioria dos indicadores utilizados nos
mecanismos de avaliação das práticas de compliance
mede processos, e não resultados: “Como exemplo de processos que compõem a
avaliação, podemos citar o apoio da alta administração, o mapeamento de riscos,
a estruturação de uma área dedicada e com independência, a existência de canais
de denúncias confidenciais e anônimos, o treinamento a todos os funcionários,
entre outros. Mas a implementação dos processos não garante nem a
intencionalidade nem a eficácia das iniciativas. Consegue a organização
promover um ambiente de integridade, equidade e respeito internamente, consegue
proteger em sua atuação a concorrência leal, ampliar a responsabilidade em sua
cadeia produtiva? A prova da complexidade dessa avaliação é o procedimento de
inserção de monitores (profissionais que acompanham a implementação das
práticas de compliance) dentro de
organizações investigadas, quando fazem acordos de leniência ou equivalentes.
Ou seja, é preciso estar dentro de uma organização por um longo período,
geralmente mais de um ano, para uma verificação mais próxima dos resultados”.
Ágatha considera que os
mecanismos estão avançando bastante e podem indicar esforços muito positivos
das organizações para um ambiente de maior conformidade: “No aspecto específico
de compliance e integridade, cito o
exemplo do Pró Ética, da CGU, e o Most Ethical Companies, do Instituto
Ethisphere. No aspecto de governança, a participação de uma organização no
Índice Governança Corporativa (IGC) Diferenciada na B3 é um bom indicador”.
O principal desafio é a
capacidade de compreensão desses indicadores por parte da população, diz a
professora da Aberje: “As organizações podem usar mais transparência, em uma
abordagem bastante didática, para comunicar seus riscos, iniciativas e
conquistas. Mas dependerá do interesse delas dizer o que representa esse título
que ganhou, como está trabalhando para mitigar tais riscos etc.. Assim, os
públicos podem compreender e tomar decisões mais conscientes em relação a essas
organizações: se irão fazer negócios, consumir, investir, desejar trabalhar ou
simplesmente confiar. Há muito a ser compartilhado pelas organizações, as
iniciativas têm extrapolado o cenário interno e estão envolvendo fornecedores,
cadeia produtiva, o mercado, a sociedade, em um esforço amplo e atento à
mudança da cultura de fazer negócios no País”.
Para Wagner Giovanini, da
Compliance Total, cada empresa deve externar suas ações relativas ao compliance de forma que o mercado tome
ciência dos seus princípios, cultura e práticas. Além disso, os próprios
funcionários participam como disseminadores em seus ambientes (família,
círculos de amizade, associações, clubes etc.). A imprensa, diz ele, deve
também fazer o seu papel, reforçando não apenas as notícias ruins, mas
igualmente as boas. Dessa forma, a marca e a imagem corporativa serão
facilmente associadas às próprias atitudes concretas de cada organização.
“Assim sendo, a comunidade e a sociedade em geral precisam ficar atentas para escolher produtos de empresas comprometidas de verdade com a missão relativa à ética e integridade”, propõe Giovanini. “O que aconteceria com uma empresa se os consumidores recusassem seus produtos ao confirmarem o envolvimento dela em questões de corrupção, cartel, fraudes, lavagem de dinheiro e outras ilicitudes? Essa seria a melhor forma de cobrança de resultados efetivos do compliance”.
Costábile Nicoletta
(*)
Graduado em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam/SP),
em 1984, Costábile Nicoletta obteve
o título de máster em Jornalismo para Editores após frequentar curso ministrado
pelo Centro de Extensão Universitária (CEU), em conjunto com a Universidade de
Navarra (Espanha).
Começou
no jornalismo como revisor de textos da Editora Abril (SP), em 1982.
Concomitantemente, atuou como redator, repórter e revisor na revista Família
Cristã (SP). Em 1986, foi contratado, ainda como revisor, pelo jornal O Estado
de S.Paulo. Em seguida, assumiu o cargo de repórter de Geral do Jornal da
Tarde.
Na
Gazeta Mercantil, em 1988, atuou como repórter, passando pelas editorias de
Indústria, Matérias-Primas e Transportes, até assumir a função de editor
executivo de Suprimentos. Retornou ao Estadão em 1994 para trabalhar na
reportagem, ocupando posteriormente as chefias das editorias de Negócios,
Reportagem e de Economia.
Fez
parte, em 2000, da primeira equipe do jornal Valor Econômico. No ano seguinte,
mudou-se para Belo Horizonte, onde foi editor de Economia no jornal Estado de
Minas. De volta à capital paulista, em 2002, trabalhou como editor adjunto
no Meio & Mensagem, permanecendo no cargo até 2007.
Em
setembro daquele ano, retornou à Gazeta Mercantil como secretário de Redação e,
depois, como editor executivo, cargo que ocupava em 2009, quando da extinção do
periódico. Passou, então, a integrar a equipe do jornal Brasil Econômico,
como editor executivo. Meses depois, assumiu como diretor adjunto de Redação,
cargo em que ficou até fevereiro de 2012.
Foi em
seguida editor de Projetos Especiais de CartaCapital e diretor editorial da
revista eletrônica Dedução, especializada em contabilidade.
É sócio da Costábile Nicoletta Comunicação.
Pesquisa aponta evolução em medidas de compliance, anticorrupção e promoção da integridade nas empresas
Perspectiva é passar de 24% para 65%, em menos de uma década, a
parcela das organizações que adotam uma lista de 15 boas práticas corporativas
Há uma evolução consistente
na adoção de práticas de compliance,
de medidas anticorrupção e da promoção da integridade corporativa pelas
empresas que operam no País, demonstra o estudo Integridade Corporativa no Brasil – Evolução do Compliance e das Boas
Práticas Empresariais nos Últimos Anos, realizado pela Deloitte e pela
International Chamber of Commerce – Brasil (ICC Brasil), com 211 organizações.
O levantamento identificou que até 2020 65% das empresas entrevistadas adotarão
ao menos 15 práticas de compliance,
em meio a um cenário marcado por investigações como a Operação Lava-Jato em curso e a recente entrada em vigor de
regulamentações relevantes, como a Lei Anticorrupção e a Lei de Governança em
Estatais.
As empresas com receita
menor que R$ 100 milhões estão promovendo um salto na adoção de práticas de compliance, mas ainda estão longe do
patamar das organizações de maior porte. As empresas de capital nacional também
seguem em trajetória de evolução e tendem a aproximar-se do mesmo patamar das
empresas de capital estrangeiro ou misto.
A pesquisa, elaborada entre
junho e outubro de 2018, avaliou a aderência das empresas a 30 práticas e
identificou que as participantes estão em fase de plena adoção de 15 delas. De
forma geral, as empresas apresentam uma evolução, já que entre 2012 e 2014
apenas 24% incorporaram essas mesmas práticas e entre 2015 e 2017 esse
percentual chegou a 46%, com a perspectiva de alcançar 65% até 2020.
Alguns exemplos dessas
práticas são a adoção de indicadores de conformidade, o comprometimento da alta
administração com a efetivação de boas práticas, a condução de investigações
internas, a definição de medidas disciplinares, controles financeiros, a
implementação de canal de denúncias anônimas, código de ética e conduta,
auditoria externa, auditoria interna e avaliação de riscos de forma periódica e
documentada. Auditoria interna (68%), auditoria externa (73%), código de ética
e de conduta (62%) e comprometimento da alta administração (61%) continuam
sendo as iniciativas mais adotadas. Os principais desafios relatados pelas
empresas estão no aumento de escopo das áreas de compliance, no monitoramento de terceiros e das atividades
cotidianas.
Um terço das organizações
entrevistadas experimentou algum evento de fraude ou irregularidade entre 2012
e 2017. Em mais da metade dos casos, a ocorrência foi descoberta por meio de
denúncia interna ou por processos de controles internos, o que revela a
relevância que as organizações pesquisadas estão direcionando ao fortalecimento
das linhas de defesa no processo de governança corporativa.
Alex Borges
“Os resultados mostram um significativo avanço e refletem um compromisso das empresas com a melhor gestão de seus riscos, mas significam também que, apesar da evolução, ainda temos uma jornada a percorrer para o fortalecimento de pilares importantes do processo de compliance”, comenta Alex Borges, sócio-líder da área de Risk Advisory da Deloitte.
Gabriel Petrus
Muitos esforços estão em curso. Entre as medidas em fase de implementação (2018 a 2020), cabe destaque para controles financeiros (adotados por 71% das entrevistadas), avaliação de risco (67%) e programa de compliance concorrencial (41%). “A ideia desse estudo é reconstruir a credibilidade das empresas brasileiras no exterior e, consequentemente, mostrar sua disposição em atender a seus parceiros de negócio. Por isso, o compliance não pode ser visto como um custo, mas sim como um ativo que contribui para o crescimento dos negócios”, diz Gabriel Petrus, diretor executivo da ICC Brasil.
Quando perguntadas sobre
quais seriam os principais desafios nessa área, as empresas participantes
apontaram, em relação ao período de 2012 a 2014, para aspectos estruturais,
como ausência de pessoal e de infraestrutura tecnológica. Os desafios
emergentes que vêm sendo endereçados traduzem uma preocupação de que o compliance, de fato, esteja integrado à
estratégia e possa trazer valor para a organização. “A adoção de novas
tecnologias e a sofisticação de processos e sistemas trazem novas oportunidades
na gestão de riscos e prometem ser o alicerce dos avanços que estão por vir”,
completa Daniel Feffer, chairman da ICC Brasil.
Ronaldo Fragoso
Impactos financeiros – A contribuição do compliance no resultado financeiro é admitida pela maioria das organizações: 84% reconhecem essa correlação. Entre os riscos, a maior preocupação é com a imagem da companhia (item indicado por 71%), seguido por sustentabilidade do negócio (70%), proteção do valor da empresa perante incertezas do cenário político e econômico (51%), exigências regulatórias locais (47%) e internacionais (36%), entre outras. “Nesse sentido, a documentação e implementação de processos e de sistemas de controle ganham destaque e devem concentrar os investimentos para os próximos anos”, afirma Ronaldo Fragoso, sócio da área de Risk Advisory e líder de Risco Regulatório da Deloitte.
Quanto aos casos de
irregularidades investigados pelas próprias empresas, valem destaque como
principais canais de comunicação de fraudes situações de denúncia interna
(57%), processos de controles internos (51%), revisão de gerenciamento (25%) e
denúncia externa (25%). Os casos mais relatados são de pagamentos irregulares e
comissão de fornecedores, conflitos de interesse, favores pessoais e presentes
inapropriados.
O levantamento, elaborado
entre junho e outubro de 2018, contou com a participação de 211 organizações
atuantes nos setores de manufatura, serviços e infraestrutura. Do total, mais
de um quarto tem receita líquida superior a R$ 10 bilhões e 36% são de capital
estrangeiro ou misto.
Transparência – Segundo Ronaldo Fragoso, as práticas de compliance no Brasil cresceram muito desde 2012. A pesquisa mostra
que, em 2018, 65% das empresas pretendiam ou já haviam adotado algumas normas,
trazendo, assim, melhorias significativas no desempenho e na transparência das
organizações.
Segundo o líder de Risco
Regulatório da Deloitte, deve-se levar em consideração que o maior rigor
regulatório no País e a percepção das empresas de que o não cumprimento das
regras tem trazido muito mais consequências punitivas levaram a essa
significativa mudança de comportamento. “Um total de 15 das 30 práticas de compliance já estão sendo usadas no
Brasil, sendo as principais: código de ética e conduta, auditoria interna e
controle de riscos. De acordo com esse ambiente, a perspectiva é de que até
2020 esse cenário mude e que o processo melhore, abrangendo um número maior de
empresas”.
Para Fragoso, a área de
comunicação da empresa tem papel relevante na divulgação das regras dentro dos
programas, canais, sites e entre os funcionários. Ela é um fator significativo
para que as pessoas vejam a transparência de certos processos, incentivando
assim que tanto colaboradores como fornecedores possam atuar dentro da
conformidade.
O líder de Risco Regulatório da Deloitte considera que uma das maneiras de a população aferir os resultados práticos das iniciativas de compliance são os índices. Ele cita como exemplo o Índice de Percepção da Corrupção (CIP, na sigla em inglês), uma abrangente ferramenta que avalia o cenário de corrupção em 180 países. Trata-se de um dado público, acessível à toda a população. O Brasil, que estava na 96° posição desde 2012, passou a ocupar o 105° lugar em 2018: “Ainda que tenha havido uma piora do Brasil no ranking de corrupção, isso demonstra, em parte, os efeitos ocorridos nos últimos anos em função dos casos de corrupção divulgados e das penalizações impostas às empresas e executivos. Nesse sentido, as ações de compliance devem ter objetivos de curto, médio e longo prazos”.
Destaques da pesquisa Integridade
Corporativa no Brasil – Evolução do Compliance e das Boas Práticas Empresariais
nos Últimos Anos
IRREGULARIDADES INVESTIGADAS PELAS PRÓPRIAS EMPRESAS
Situações de denúncia
interna: 57%
Processos de controles
internos: 51%
Revisão de gerenciamento:
25%
Denúncia externa: 25%
Casos mais relatados
• Pagamentos irregulares e
comissão de fornecedores
• Conflitos de interesse
• Favores pessoais
• Presentes inapropriados
Fonte: Deloitte
Os caminhos para assegurar a ética nos negócios
As empresas instaladas no Brasil aprimoram seus programas de compliance para que a cultura de
fazer o certo seja assumida nas práticas diárias, e não apenas em normas
escritas em seu código de conduta
Carlos Henrique Carvalho (Abracom)
Carlos Henrique Carvalho, presidente
executivo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), entende
que compliance ainda é um tema em
construção no setor de relações públicas brasileiro. Tanto do ponto de vista da
implantação de programas de integridade dentro das agências quanto da
oportunidade de negócios na comunicação para o compliance. Segundo ele, as agências que pertencem a grupos
internacionais estão mais avançadas, por causa da existência de programas que
são feitos pelas matrizes, o que pode gerar tensões ligadas à cultura de
trabalho brasileira. Entre as empresas nacionais, diz, algumas já se destacam
por adotar compliance em sua operação
e por também oferecer o serviço aos clientes: “A tendência é que o tema ganhe
mais importância à medida que os efeitos da Lei Anticorrupção se façam
presentes nas organizações”.
Na visão do presidente
executivo da Abracom, a comunicação é elemento fundamental do compliance: “Cabe às agências estruturar
esse tema como serviço. E ao setor, como um todo, fica o desafio de
sensibilizar os clientes para a necessidade da presença da comunicação
corporativa em todas as etapas, desde a identificação de riscos, passando pela
redação do código e por sua implantação. Comunicar permanentemente o programa
de integridade é uma obrigação legal para dar efetividade ao compliance”.
De acordo com Carvalho, a
primeira tarefa é identificar riscos, avaliar práticas e padronizar
procedimentos. Desde o relacionamento com clientes, imprensa e influenciadores,
por exemplo, passando pelas regras administrativas, pelo código de conduta dos
profissionais e por boas práticas comerciais: “A Abracom criou em fevereiro de
2019 um grupo de trabalho para tratar do tema e está realizando um mapeamento
dos principais riscos inerentes à atividade de relações públicas no Brasil. A
ideia é dar suporte para as pequenas e médias agências, a fim de que todo o
setor possa ter programas de integridade, garantindo segurança jurídica para
empresários e profissionais”.
Carvalho acredita que a divulgação dos programas de integridade, a criação de canais de denúncia e a transparência das organizações são atribuições de um bom programa de integridade. E, para que cidadãos, consumidores, ONGs e órgãos públicos saibam o que as empresas estão fazendo e como se dá sua conduta, a comunicação entra como elemento essencial para garantir a fiscalização: “Compliance bem feito e bem divulgado ajuda a manter em alta a reputação das empresas”.
David Grinberg (Arcos Dorados)
Adequar-se às regras não deve ser problema –David Grinberg, vice-presidente de
Comunicação Corporativa & Relações com Investidores na América Latina e
Caribe da Arcos Dorados, informa que, como a operadora da
rede McDonald’s nessa região é uma empresa de capital
aberto, opera sob regras rígidas de compliance.
“Mas, além das normas previstas pelo mercado de capitais, criamos também um
código de conduta que nos ajuda a proteger a companhia, a marca e a reputação
em todos os mercados onde atuamos”, diz. “Cada segmento tem a sua peculiaridade
e no setor de alimentação os desafios são grandes, desde a escolha de um
fornecedor exclusivo e que siga rígidas regras para nos atender, passando, por
exemplo, pela confidencialidade e excelência na criação de um produto, até
posturas básicas de convivência corporativa, que são as questões que envolvem,
entre outros casos, conflitos de interesse”.
Grinberg afirma que a Arcos Dorados entende que estar em conformidade com as
regras do setor é parte do negócio: “Por isso, trabalhar para adequar-se a elas
não deve ser problema para nenhuma companhia – muito ao contrário. O principal
desafio para a nossa área de comunicação é disseminar essa conduta
internamente, de forma que seja entendida e, principalmente, aplicada por
todos”.
O vice-presidente da Arcos
Dorados lista as ferramentas para isso: cursos online, palestras, avisos nos
computadores de trabalho e cursos na Universidade Corporativa da empresa. “Mas
precisamos ser assertivos na escolha de como engajar o público interno. No
McDonald’s, 95% da nossa força de trabalho estão nos restaurantes e são
majoritariamente jovens (entre 18 e 24 anos). Assim, temos que pensar em como
cada mensagem deve ser entregue a esse público, que não usa computador ou
celular como ferramenta de trabalho”.
De acordo com Grinberg, empresas que mantêm em dia os seus mapas de riscos operacionais, financeiros e reputacionais aumentam seu valor de mercado porque a credibilidade cresce, o ambiente corporativo é mais estável e saudável. Calibrar os controles internos, prevenir fraudes e buscar a melhora contínua são fatores que impactam a imagem da companhia quase que diretamente.
“Temos encontrado meios criativos para falar com o nosso público interno, que se comunica quase que exclusivamente por meios digitais. Para não invadirmos seus celulares e redes sociais, criamos conteúdos interessantes e os convidamos a acessar. Por exemplo, hoje temos um perfil corporativo no Facebook voltado para os funcionários. A área de comunicação é a mediadora, mas a entrada é opcional e a conversa é muito livre entre os colaboradores. Também desenvolvemos conteúdos digitais que atingem tanto os clientes quanto os colaboradores, como foi a série que desenvolvemos no YouTube para tratar dos mitos que envolvem os ingredientes utilizados em nosso menu. Estrelado por um ex-funcionário, fez muito sucesso entre os colaboradores”.
Renato Gasparetto (Gerdau)
Práticas potencializadas –Renato Gasparetto, diretor
corporativo de Assuntos Institucionais, Comunicação e Responsabilidade Social
do Grupo Gerdau, conta que, nos dez países onde atua nas Américas, do Canadá à
Argentina, a companhia tem um programa bem robusto e em um estágio de avanço e
consolidação das principais práticas de compliance.
O programa inclui reforço na disseminação de cultura ética da empresa,
monitoramento de transações e contratos, revisão e divulgação de diretrizes,
apoio ao negócio no dia a dia, conformidade nas aplicações das leis que se
aplicam às operações da Gerdau nos diversos países: “Importante relembrar que
somos uma companhia de capital aberto, com ações negociadas em São Paulo, Nova
York e Madri, o que potencializa nossas práticas de compliance”.
De acordo com o executivo,
as práticas de compliance levam o
setor de comunicação da empresa a um processo de maior atuação conjunta, com a
atualização das políticas internas de patrocínios, atuação em associações de
classe, contratação de fornecedores na área de comunicação e até interações com
agentes públicos, via as várias entidades empresariais de que participa: “Como
a conformidade em compliance é um
processo incorporado, tudo isso ocorre de forma muito natural internamente, com
agilidade”.
Gasparetto lembra que o
movimento global de avanço em práticas de compliance
gerou a necessidade de contatos com agências de ratings (avaliação de riscos), órgãos reguladores e ONGs que medem
a transparência, e a área de comunicação e assuntos institucionais tem
contribuído nesse relacionamento: “A comunicação também tem papel fundamental
para difundir a cultura de compliance
em toda a empresa e seus stakeholders
(públicos com os quais a empresa se relaciona)”.
Gislaine Rosseti (Latam)
Na Latam Airlines Brasil, o programa de compliance abrange diferentes aspectos, como o desenvolvimento de políticas específicas, a identificação e gestão de riscos, o monitoramento e controle de processos, treinamento e comunicação. “Além disso, temos um canal de ética que recebe reclamações sobre violações a regulamentos internos, como ações que não estejam em conformidade com o nosso código de conduta”, afirma Gislaine Rossetti, diretora de Relações Institucionais e Regulatório da empresa.
Conforme a executiva, a Latam sempre teve uma política de comunicação consistente com todos os públicos com os quais interage, o que facilitou a incorporação de novas práticas de compliance: “Nossa atuação também contribui para demonstrar que compliance vai muito além do que a simples publicação de políticas. Trata-se da promoção de uma nova cultura, que envolve os funcionários de todas as áreas, fornecedores e todos os demais públicos estratégicos. Toda a nossa equipe participa ativamente de um programa chamado Embaixadores de Compliance, em que os funcionários são capacitados nas temáticas de compliance e se comprometem a zelar e disseminar essa cultura dentro da empresa”, diz Gislaine. “A principal contribuição da comunicação é ajudar a implementar uma cultura perene de compliance”.
Zaccaria Júnior (Odebrecht)
Aprimorar a governança –Zaccaria Júnior,
responsável pela área de Relacionamento com a Imprensa da Odebrecht Engenharia
& Construção (OEC), relata que a empresa vem passando por uma grande
transformação desde 2016, como parte de seu compromisso com as autoridades e
especialmente com a sociedade. Os temas de conformidade são parte crítica nesse
processo. Ele afirma que a evolução do programa de conformidade tem recebido
atenção irrestrita da cúpula da companhia, consolidando a transformação de
maneira sustentável e consistente. (A Odebrecht foi uma das empresas envolvidas
nas operações da Lava-Jato e,
atualmente, colabora com a Justiça para reparar seus erros.)
“Já se alcançou um nível de
maturidade nas questões de conformidade pouco usual no setor”, diz o executivo.
“Em março de 2016, a empresa assumiu o compromisso de aprimorar sua governança,
dando início a um novo tempo, no qual as ações empresariais atendam plenamente
aos mais elevados padrões internacionais de gestão e transparência. O Sistema
de Conformidade OEC foi implementado em 2017, baseado nos mais altos padrões
internacionais e está estruturado em pilares principais de prevenção, detecção
e remediação. Ocorreram grandes investimentos em governança, avaliação de
riscos e controles, comunicação e capacitação, gestão de terceiros e
engajamento em ações coletivas – resultado da consciência de que a empresa tem
papel fundamental no movimento de transformação mais amplo do ambiente”.
Zaccaria conta que o
primeiro grande desafio de comunicação identificado foi o de demonstrar ao
público interno que todos na empresa devem incorporar as melhores práticas de
conformidade por convicção – não somente por obrigação. “E para isso a área de compliance e a de comunicação contaram
com engajamento completo dos líderes da empresa”, afirma. “O compromisso com
comportamento e conduta ética é irrevogável. O desafio é garantir a divulgação
plena e uniforme dos temas de conformidade para todos os integrantes, em todos
os níveis de atuação. Por isso, os Integrantes recebem comunicações e
treinamentos periódicos, que vão desde temas mais gerais, como conduta ética e
anticorrupção, aos mais específicos (dirigidos a um público pontual), como
conflito de interesses e relacionamento com agentes públicos”.
O responsável pela área de Relacionamento com a Imprensa da Odebrecht explica que a companhia está segura de que, ao implementar essas medidas na prática, ao longo do tempo e de forma consistente, atestará à sociedade, seu público externo, a sua evolução dentro dos princípios de ética, integridade e transparência: “A implantação de um sistema de conformidade é um processo contínuo e, certamente, o reconhecimento pela sociedade virá com o tempo, com atos e fatos. A comunicação, tanto para o público interno como para o externo, deve ser clara, precisa e evitar mensagens dúbias”.
Segundo Zaccaria Júnior, as equipes de conformidade e comunicação da Odebrecht trabalham juntas e alinhadas, de forma bastante transparente. Anualmente, um Plano de Comunicação em Conformidade é definido e aprovado pela responsável pela área de compliance da companhia, Margarida Smith. Ele tem como principal objetivo propagar entre os stakeholders informações da área de conformidade com o propósito de aumentar a percepção sobre o compromisso da empresa com boas práticas. “Também procuramos fomentar a abrangência de atividades externas sobre sistema de conformidade e nosso compromisso com boas práticas por meio de participações em congressos, fóruns, palestras, entrevistas, dentre outras ações que possam ter repercussão em meio aos nossos públicos estratégicos e que contribuam para a formação de um ambiente empresarial mais saudável”, explica o executivo. “Procuramos também incrementar a divulgação de notícias sobre o programa e as iniciativas de conformidade da OEC em nosso site, nas nossas redes sociais e por meio de nossas relações interpessoais. Na Odebrecht, conformidade e comunicação são áreas totalmente sinérgicas e convergentes, já que trabalhamos a mesma matéria-prima – a informação – e com o mesmo objetivo, que é nutrir as pessoas com informação qualificada capaz de promover mudanças”.
Ariane López (Siemens)
Restabelecer a reputação — Na Siemens, as iniciativas de compliance
estão bem avançadas, considerando que começaram a ser implementadas
mundialmente em 2007 e de forma bem robusta, conta Ariane López, responsável pela Comunicação Externa e Interna da
empresa. (A Siemens também teve altos executivos – inclusive de sua cúpula, na
matriz – envolvidos em problemas de corrupção em 2007. Todos foram demitidos.
Investigações internas, no Brasil, fizeram com que a própria empresa
denunciasse às autoridades a formação de cartel do qual participara em
licitações públicas.)
“Por ser um tema complexo e
desconhecido na época em que surgiu, o maior desafio do setor de comunicação
foi traduzir essa complexidade para os funcionários de uma forma que todos
pudessem não apenas compreender conceitos e significados, mas principalmente
aplicá-los em seu dia a dia”, diz Ariane. “Por isso, as campanhas de
comunicação também tiveram um viés educativo, em que tentávamos fazer o
funcionário vivenciar e refletir sobre situações reais para facilitar a
assimilação”.
Segundo Ariane, como havia
segredo de justiça em algumas questões, outro grande desafio foi manter o
público interno a par das informações, pois, muitas vezes, a imprensa publicava
notícias que a Siemens não podia comentar: “Assim, instituímos uma e-letter que era enviada a todos os
funcionários semanalmente, contendo um resumo das principais notícias dos
jornais, links para as matérias e
explicação sobre nosso posicionamento. Essa comunicação aberta, acessível e a
transparência das mensagens foram essenciais para não criar ruídos e gerar engajamento
do público interno”.
Na Siemens, a implementação de um programa de compliance em curto prazo e de forma mandatória trouxe necessidades adicionais: trabalho extenso junto ao chão de fábrica, linguagem acessível, coleta de evidências, alta frequência da comunicação para melhorar a assimilação das mensagens-chave e criatividade para deixar o tema atrativo, entre outras. Com relação ao público externo, foi essencial manter a transparência da comunicação e a atualidade das informações. “Criamos, na época, um hotsite, que reunia as principais informações, links, vídeos, matérias etc., para manter o esclarecimento sobre o tema”.
Na opinião de Ariane, a comunicação contribuiu para uma verdadeira mudança de cultura organizacional e a alta gestão entendeu que a manutenção da comunicação de compliance deve ser permanente. Hoje, todos os funcionários sabem que a Siemens tem tolerância zero para condutas que não estejam em conformidade com as regras e políticas, e isso é reforçado em treinamentos e reciclagens, assim como nas orientações de novos funcionários e colaboradores. Do ponto de vista externo, como a companhia foi exposta a crises críticas no mundo e no Brasil, a comunicação teve um papel fundamental para restabelecer a reputação e a confiança da marca Siemens. “Desde o início, a comunicação ajudou no posicionamento da empresa diante dos fatos, na postura transparente e na atitude proativa para gerar mudanças positivas no mercado e na sociedade, tornando-se exemplo de melhores práticas para muitas companhias”, diz a executiva.
Ana Gabriela Dias
Olhar múltiplo –Ana Gabriela Dias Cardoso,
diretora corporativa de Comunicação e Relações Institucionais da Usiminas,
afirma que a companhia siderúrgica está em um estágio avançado em suas
iniciativas de compliance. A empresa,
diz ela, contava há cerca de oito anos com código de conduta e políticas
internas estruturadas e, no início de 2019, promoveu uma ampla atualização
dessas práticas no âmbito de uma nova iniciativa, o Programa Integridade. Os documentos foram revistos e atualizados de
modo a abarcarem questões trazidas pelos meios digitais e redes sociais, por
exemplo, além de trazerem temas que ganharam relevância para as pessoas mais
recentemente. “É uma forma de manter os princípios da empresa alicerçados e em
constante diálogo com a evolução da sociedade”.
De acordo com Ana Gabriela,
o fortalecimento das práticas de compliance
requer um esforço maior de avaliação sobre o que o setor de comunicação está
dizendo e um olhar mais apurado para fora da empresa. A Usiminas é uma empresa
de capital aberto, o que impõe regras sobre quais informações podem ser
divulgadas. As novas práticas de compliance
adicionam uma camada extra a essas regras: “Da mesma forma, temos que buscar o
máximo da transparência e do olhar múltiplo para irmos ao encontro do que as
pessoas esperam de nós e do que a empresa tem como princípio. Nunca estivemos
em uma sociedade tão diversa, atenta e participativa. Então, tudo o que
dissermos tem que ser analisado sob diferentes pontos de vista”.
Ao mesmo tempo, continua a executiva, as políticas estruturadas de integridade são os melhores guias para a atuação do setor de comunicação e da própria empresa: “Assim, é mais fácil dirimir as dúvidas que surgem em nosso dia a dia e ter uma atuação coerente e correta com os nossos diversos públicos“. Segundo Ana Gabriela, a comunicação desempenha um papel importante em abordar e colaborar na construção das diretrizes que tratam de novas mídias, redes sociais e aplicativos de mensagens: “Era algo que uma indústria de base, tradicional e até, posso dizer, fechada, nem pensava há alguns anos. Hoje, temos presença em diversas redes, um canal interno de WhatsApp e os cerca de 13 mil colaboradores também são embaixadores da nossa marca em suas comunidades. É importante termos claros os balizadores dessa atuação, para evitar danos à imagem e à reputação da companhia ou a exposição negativa de um colaborador, e, ao mesmo tempo, não simplesmente proibirmos ou limitarmos esse ambiente digital”.
Bernhard Lippsmeier (VW Caminhões e Ônibus)
Faz parte da rotina –Bernhard Lippsmeier,
gerente de Governança, Risco & Compliance (GRC) da VW Caminhões e Ônibus,
afirma que na empresa essas iniciativas são parte de uma cultura representada
não apenas pela área de GRC, mas por todos os colaboradores. Ela se aplica no
dia a dia, alinhada a um programa mundial de compliance implementado no Brasil há cerca de dez anos. Este
envolve atividades frequentes, como treinamentos, campanhas, palestras e a
entrega de um código de conduta no momento da admissão do funcionário. “Tudo
isso tem o propósito de fomentar a cultura de compliance, baseada em pilares como o da integridade, um dos
principais valores da companhia e elemento-chave na estratégia de sermos
campeões globais junto ao Grupo VW”, diz Lippsmeier. “Outro aspecto essencial é
o diálogo franco entre colaboradores, parceiros e todos os envolvidos em nosso
negócio no sistema integrado de gerenciamento de risco. Esses pilares norteiam
todas as atividades da empresa e de seus colaboradores e são aplicados em todos
os níveis. Nosso corpo diretivo é motivado e comprometido com a aplicação prática
desses preceitos e da tolerância zero quando se trata de violações de regras de
compliance, especialmente corrupção”.
Para Bernhard Lippsmeier, o
setor de comunicação e imprensa é um parceiro natural e essencial da área de
GRC e todas as outras da empresa: “É ele que nos auxilia a disseminar e
fortalecer essa cultura de compliance.
É um porta-voz do nosso trabalho, que orienta sobre as melhores formas de
alcançar todos os colaboradores e disseminar mensagens-chave, sensibilizando a
todos para a necessidade de vivenciar a cultura de compliance em todas as decisões. No âmbito do próprio trabalho da
Assessoria de Comunicação, a adoção das práticas de compliance foi rapidamente assimilada e hoje amplia a transparência
da entrega do setor”.
Graças à área de comunicação e imprensa, continua o executivo, é possível abranger todos os colaboradores e disseminar as mensagens de boas práticas, além de valorizar e fomentar esse trabalho dentro e fora da empresa: “A comunicação sabe como transmitir da melhor forma as mensagens. É uma parte integral e essencial do trabalho de governança, risco e compliance. Sem comunicação efetiva, não só o trabalho de GRC, mas de todos os departamentos, ficaria limitado. E, felizmente, podemos dizer que o compliance faz parte da nossa rotina de atividades”.
Nelson Silveira (GM Mercosul)
Vencer com integridade –Nelson Silveira, diretor
de Comunicação e Marca da General Motors Mercosul, informa que, no Brasil, a
subsidiária segue o Programa Global de
Compliance da montadora de automóveis. Ele permite à companhia ramificar
seus valores de integridade e comportamento de forma uniforme nas diferentes
regiões e comunidades onde atua. Segundo ele, o programa surgiu na década 1990
e desde então vem se aprimorando e reciclando a cada ano, sendo que em 2004 a
estrutura do Centro Global de Ética e Compliance (GECC, na sigla em inglês) foi
criada em Detroit, nos Estados Unidos.
Essa área é responsável por
estabelecer as normas globais de comportamento distribuídas a toda a empresa,
em suas diferentes regiões e áreas de atuação. No Brasil, essa função ficava a
cargo das áreas de recursos humanos e controles internos, sempre com o suporte
e orientação da matriz, através do time do GECC. Em 2015, uma estrutura
específica de ética e compliance foi
implementada na região.
O programa é composto por
diferentes pilares: a existência de um código de conduta global denominado Winning with Integrity (Vencer com Integridade); a existência de
políticas regionais; plataforma de treinamentos virtuais e presenciais;
ferramentas que permitem aos colaboradores da GM, prestadores de serviço e
fornecedores relatar, de forma sigilosa, segura e sem retaliação alguma,
preocupações relacionadas à segurança e a infrações éticas, comportamentais ou
de outra natureza.
“Nosso código de conduta
estabelece de forma clara e objetiva quais são os valores e comportamentos
esperados pela companhia em nossos diferentes ambientes de trabalho, sejam
corporativos, sejam fabris”, afirma Nelson Silveira. “Estabelecemos o padrão de
comportamentos esperado tanto por parte de nosso time de líderes quanto de
nossos empregados, sendo que buscamos de forma constante e incansável um
ambiente de trabalho seguro, acolhedor e livre de práticas de assédio, moral ou
sexual. Anualmente, nossos colaboradores recebem treinamento virtual e
presencial sobre o código de conduta, suas orientações e recomendações”.
A visão do diretor de Comunicação e Marca da GM Mercosul é de que as práticas de compliance são vivenciadas quando identificadas como valores pelos colaboradores e os públicos de relacionamento da empresa. Nesse sentido, diz ele, a comunicação é essencial em fornecer o constante suporte no processo de conhecimento, educação e internalização das políticas, dos valores e dos processos da empresa por toda a comunidade GM: “O time de comunicação tem papel essencial em dar visibilidade e conhecimento a nossos stakeholders (internos e externos) de todas as iniciativas e fases de nosso Programa de Compliance, quer por meio de um simples lembrete sobre o canal de denúncias, quer da realização de campanhas mais complexas e detalhadas”.
Márcio Lima (FCA)
Questão cultural –Márcio Lima, diretor
jurídico para a América Latina da FCA, explica que ética, transparência,
respeito e integridade são valores que sempre fizeram parte do DNA da empresa,
motivo pelo qual a fabricante de veículos das marcas Fiat e Chrysler tem um
maduro e consolidado Programa de Integridade
Global, continuamente reavaliado e renovado para ter assegurada a sua
efetividade e confiabilidade. O pilar desse programa, diz o executivo, é o
código de conduta da companhia, documento que traduz os valores da FCA,
aplicáveis às condutas de todos os seus empregados, diretores e aqueles com os
quais ela se relaciona: “Além do código, a FCA tem um robusto arcabouço de
políticas, normas e controles internos. Entre elas, podemos citar as
anticorrupção e antissuborno, defesa da concorrência, conflitos de interesses,
diversidade e inclusão, discriminação e assédio, violência no local de
trabalho, envolvimento com práticas sustentáveis e proteção ambiental”.
Como forma de reforçar as
suas diretrizes e valores, engajar os seus colaboradores e criar uma cultura de
integridade, a FCA treina periodicamente todos os seus empregados e diretores
no código de conduta e nas demais políticas do grupo. Nos últimos dois anos,
foram treinadas pela empresa mais de 15 mil pessoas em temas relacionados a compliance, considerando os treinamentos
ministrados a empregados próprios e a terceiros com os quais a FCA se
relaciona.
A FCA disponibiliza, ainda,
um canal de denúncias para que os seus empregados ou qualquer terceiro não
subordinado à empresa possa denunciar suspeita de violação ao seu código de
conduta, às suas normas e políticas ou à legislação vigente, sendo garantido
pela empresa o anonimato e a não retaliação do denunciante. A companhia tem em
sua estrutura comitês permanentes de compliance,
regionais e global, com o objetivo de manter o desenvolvimento e monitoramento
contínuos do seu Programa de Compliance,
bem como a sua efetividade.
“Além de todas as
iniciativas mencionadas, o tema compliance,
ética e integridade é uma constante em todos os meios de comunicação da FCA com
seus empregados, prestadores de serviços, fornecedores, parceiros de negócios e
stakeholders”, diz Márcio Lima. Para
ele, o principal desafio do setor de comunicação é conectar a mensagem
institucional da FCA e os seus colaboradores, transformando os valores da
empresa relacionados a ética, transparência e integridade em ações do dia a
dia: “O fato de a FCA encarar assuntos relacionados a compliance como uma questão cultural é um grande facilitador nesse
processo de comunicação e engajamento, pois torna o processo de comunicação
muito mais fluído. Ter os valores de ética, integridade, respeito e
transparência enraizados na empresa é fundamental para o sucesso de um Programa de Compliance”.
O diretor jurídico da FCA
acrescenta que a comunicação tem um papel fundamental nesse processo, pois
acredita ser uma questão cultural difundir os valores da empresa. Uma das
principais contribuições do setor de comunicação é a busca do engajamento dos
empregados, prestadores de serviços, fornecedores, parceiros de negócios e stakeholders da FCA com os valores
forjados no seu código de conduta. A comunicação tem um papel fundamental na
disseminação desses valores e dos mecanismos para alcançá-los.
Para isso, a FCA utiliza diversas ferramentas, incluindo treinamentos, reforço dos conceitos por meio de diversas campanhas de comunicação interna e corporativa, promoção de palestras e workshops sobre o tema e, mais recentemente, a criação do programa FCA Empresa Transparente: “A postura da FCA é de tolerância zero ao desrespeito ao seu código de conduta, suas políticas e às leis, normas e regulamentos aplicáveis, o que é difundido para todos os empregados, fornecedores, concessionários e parceiros de negócios. O trabalho do setor de comunicação, mais uma vez, é fundamental, no sentido de demonstrar não se tratar de um regime policialesco, mas de busca ao respeito, à ética e à transparência”.
Guilherme Sierra (John Deere)
Da porta para fora –Guilherme Sierra, gerente
de Comunicação Corporativa da John Deere para a América Latina, conta que as
iniciativas de compliance da
fabricante de máquinas agrícolas são bastante avançadas e estruturadas:
“Estamos falando de uma empresa de 180 anos que, acima de tudo, valoriza
enormemente a reputação da sua marca. Temas como ética e transparência são
tratados de maneira direta e constante com seus funcionários, fornecedores,
rede de concessionários, parceiros etc. O modo como a empresa trata seus negócios
e estratégias de mercado passa por políticas nas quais os funcionários são
periodicamente envolvidos. Seja por meio de treinamentos online, seja por
treinamentos e workshops
presenciais”.
Em fevereiro de 2019, a
empresa realizou uma rodada global chamada de Compliance Week, inclusive no Brasil, com uma extensa programação
de debates, troca de informações e conscientização a respeito do tema.
“Reputação é algo levado muito a sério pela companhia”, afirma Sierra. “A
conscientização é fundamental nesse processo. São necessárias ferramentas e
políticas claras que permitam o desenvolvimento de compliance dentro da companhia. Mas o caminho mais seguro é o
aspecto da conscientização, pelos quais cada um dos profissionais da companhia
possa atuar naturalmente de maneira ética em seu ambiente e nas relações de
trabalho. Arrisco dizer que é uma contribuição enorme para a sociedade, na
medida em que cada um dos funcionários transpõe esses comportamento e
conhecimento também para o seu cotidiano pessoal, familiar”.
Na John Deere, existe uma
estrutura global de compliance
diretamente ligada à Vice-Presidência Mundial de Assuntos Jurídicos e
Corporativos. “É por essa estrutura que temos, por exemplo, uma Gerência de
Compliance para a América Latina, que trabalha em parceria com as áreas de
assuntos corporativos, jurídica e recursos humanos”, afirma Sierra. “Outra
coisa importante a ser considerada é que a John Deere é uma empresa de capital
aberto. Ou seja, reputação é algo que não se pode correr o risco de perder por
uma questão de negócios. A cada três meses a empresa presta contas publicamente
aos seus investidores. Então, não é só da porta para dentro: compliance tem um valor inestimável da
porta para fora. Assim, todas as políticas de governança corporativa, princípios
e guias de conduta são assumidas publicamente e documentadas de forma
transparente na internet”.
O gerente de Comunicação
Corporativa da John Deere avalia que os desafios que a adoção das práticas de compliance impuseram ao seu setor são
positivos e só vêm agregar às estratégias de comunicação corporativa. “Quando
falamos de práticas de compliance,
estamos falando de reputação de marca, de responsabilidade social, de
compromisso com os diversos países aonde os negócios da companhia chegam de
alguma maneira”, diz o executivo. “Combate à corrupção também é
responsabilidade social. Há aqui um forte componente de contribuição ao
desenvolvimento socioeconômico da sociedade. Por todos os motivos já sabidos,
essa abordagem torna-se especialmente relevante num país como o Brasil
atualmente. Há um anseio de toda a sociedade de que esta não seja apenas uma
discussão e, sim, uma ação efetiva e transparente”.
Quando se planejam
estratégias de construção de imagem e comunicação corporativa, explica Sierra, compliance deixa de ser opção para ser
mais do que obrigação. Uma empresa só vai conseguir comunicar-se com a
sociedade, formar opinião, influenciar setores e atores sociais quando souber
comunicar seus valores éticos de modo efetivo e consistente.
Ele entende que comunicação e compliance são uma via de mão dupla. Nem se percebe mais quem impulsiona quem: “À medida que as áreas de compliance vão crescendo e se estruturando, mais oferecem subsídios para que a área de comunicação e assuntos corporativos possa posicionar a marca e sua reputação ante a opinião pública. E, à proporção que os resultados das estratégias de comunicação indicam quão valorizados são os temas de ética e compliance para nossas audiências estratégicas, mais as áreas de compliance ganham elementos para direcionar seus esforços”.
Harold Bouillon (Bosch)
Manter o conceito presente no dia a dia –Harold Bouillon, diretor
de Compliance, Jurídico Trabalhista e Auditoria da Bosch América Latina, afirma
que o programa de compliance da
empresa encontra-se numa fase madura, visto que já está no ar há mais de dez
anos. Tudo começou em 2008 com três pilares básicos: lançamento do código de
conduta, os canais de reporte de condutas inadequadas e a comunicação e o
treinamento: “O sucesso de um programa de compliance
passa pela área de comunicação, pois os assuntos pertinentes precisam ser
constantemente mantidos vivos na lembrança dos colaboradores”.
Segundo Bouillon, como a
Bosch é uma empresa de grande porte, com novas pessoas chegando constantemente,
além de demandas legais e da própria sociedade que estão em contínua mudança, o
grande desafio é manter o conceito de compliance
presente no cotidiano dos colaboradores. “A comunicação tem o papel de
transformar esse assunto em algo claro, objetivo e direto para todos os nossos
usuários. É preciso inovar constantemente”, afirma.
Bouillon acredita que não basta lançar um programa de compliance, o mais desafiador é mantê-lo atualizado e interessante para os usuários: “Por meio de mídias diversas, tentamos manter os conceitos fundamentais presentes no nosso dia a dia e, para isso, utilizamos diferentes meios de comunicação, que hoje temos disponíveis na organização (intranet, TV interna, inclusive na área de descanso da fábrica, informativos impressos, revistas, eventos, treinamentos online e presencial, campanhas de conscientização, entre outros). Sem uma comunicação atuante e permanente, um programa de compliance não é capaz de sobreviver com eficiência”.
Cursos personalizados — Hoje, o United Health Group (UHG) Brasil mantém um programa de compliance maduro, nas palavras da
diretora de Compliance da companhia, Luciana Servija. As iniciativas são
embasadas na legislação norte-americana, em especial no Foreign Corrupt
Practices Act (FCPA), e contemplam as peculiaridades da legislação
anticorrupção brasileira, como a Lei 12.846/2013. No Brasil, com a aquisição do
Grupo Amil pelo UHG em 2012, a implementação do programa teve início com
elementos-padrão e ações focadas em comunicação e treinamento. O programa passa
por constante aprimoramento e dinâmica diária, com iniciativas e código de
conduta para os diversos públicos da companhia.
Luciana Servija (UHG)
Para Luciana Servija, comunicar os canais de denúncia, passar
informações de forma clara e instituir uma cultura de colaboração são grandes
desafios, por isso a comunicação é um dos pilares do programa. Assim que um
novo colaborador chega à companhia, recebe um treinamento online de compliance e passa por cursos
presenciais e personalizados ao longo de sua jornada na empresa, com exemplos
práticos e contexto aplicado ao dia a dia. O UHG Brasil tem também, como parte
de seu Programa de Compliance, a
Central de Ajuda, um canal destinado especialmente a apurações de violações das
políticas corporativas e do código de conduta da companhia, por meio de contato
via site ou telefone, disponível para o público interno e externo.
Conforme Luciana Servija, o setor de comunicação é de suma importância no auxílio à consolidação das diretrizes de compliance, que devem ser adotadas de forma natural na companhia, instituindo campanhas de comunicação e disseminando as práticas de compliance e canais de denúncia entre os diversos públicos com os quais a empresa se relaciona, por meio de campanhas digitais, site, intranet e murais.
Sergio Pinto (Johnson & Johnson)
Ética na forma de trabalhar —Sergio Pinto, diretor de Compliance
para a América Latina da Johnson & Johnson Medical Devices, relata que a
empresa tem um programa bastaste maduro, que começou a ser implementado
globalmente em 2005 com foco em manter os melhores padrões de integridade e
ética na interação com profissionais de saúde e funcionários do governo: “Temos
um plano anual de treinamento de colaboradores, um processo de auditoria em
terceiros — principalmente distribuidores — e um processo de validação de Valor
Justo de Mercado (Fair Market Value), quando contratamos profissionais de saúde
para algum serviço específico. Além disso, a alta gestão da companhia está
ativamente engajada no programa, participando da definição da estratégia de compliance e assegurando que os
objetivos serão sempre estendidos aos demais níveis”.
Malu Weber (Jhonson & Jhonson
Malu Weber, diretora para a América Latina de Comunicações e Relações Públicas da empresa, avalia que, mais do que desafios, a adoção das práticas de compliance traz oportunidades ao setor de comunicação. “Ter uma área forte e estruturada de compliance traz segurança e a certeza de que estamos no caminho certo. É exigir total transparência de nossos pares e de nossos parceiros, o tempo inteiro”, afirma a executiva. “Trabalhamos para ser sempre um parceiro estratégico e relevante para todas as áreas, trazendo valor para o negócio. Especialmente no caso de compliance, estamos muito próximos. Nosso compromisso, como comunicação, tem sido o de traduzir as diretrizes do programa de compliance da companhia para uma linguagem que seja claramente entendida por todos os níveis da organização, além de preparar os líderes para engajar seus times e reforçar a todo instante a ética na forma de trabalhar e de fazer negócios, seguindo o nosso credo, que guia nossas ações e atitudes, dentro e fora da companhia. Compliance deve ser parte integrante da cultura e do propósito da empresa, por isso estamos sempre discutindo formas de assegurar que todas as iniciativas da companhia estejam 100% alinhadas a esse tema”.
Eleni Gritzapis (Dow)
Régua necessária – Eleni Gritzapis, diretora de Comunicação da Dow no Brasil, pondera que, em se
tratando de uma indústria centenária, a companhia está muito avançada no tema compliance. Este, segundo ela, está na
estratégia de todas as áreas da empresa, que atua no setor químico. Não é de
interesse ou responsabilidade de apenas um departamento, diz, mas uma diretriz
seguida por todos: “Independentemente do público com o qual estejamos falando –
funcionários, fornecedores, clientes –, todos são impactados pelo nosso código
de ética e pelas diretrizes de compliance.
A grande promessa da nossa indústria é, de forma direta, oferecer soluções para
tornar as nossas vidas mais fáceis e práticas. Indiretamente, impactamos uma
cadeia de agentes bastante abrangente com nossa conduta e códigos de atuação.
Ano após ano, todos os nossos funcionários passam por treinamentos de
atualização do nosso código de conduta. Todos os fornecedores Dow também passam
por uma auditoria. Em suma, sabemos bem que compliance
é a régua necessária para que nos cerquemos de pessoas e empresas atentas a
preceitos aderentes e para que cresçamos de forma perene e sustentável”.
Segundo Eleni Gritzapis, a
adoção de práticas de compliance
impôs desafios para todas a áreas, não apenas à comunicação. Afinal de contas,
afirma, são movimentações e mudanças de processos que, por vezes, estavam
enraizados nas companhias. Especialmente na comunicação, a Dow passou por
algumas fases. A primeira foi identificar qual seria o papel da área nessa
cadeia: “Temos tendência de achar que alguns departamentos são mais suscetíveis
que outros. Como a comunicação não entrega nada físico, é normal pensarmos que
regras de compliance não sejam
endereçadas a nós. Ledo engado. Tivemos que revisitar todos os nossos
processos, e até mesmo de parceiros, para identificar falhas e pontos de
melhoria, a fim de nos adequarmos. Depois disso, tivemos – e temos – uma
atuação bastante forte com as equipes em tarefas que vão desde a preparação de
materiais para treinamentos internos até a elaboração de códigos para públicos
externos. Em resumo, tivemos grandes e bons desafios que foram ótimos para
repensarmos nossa atuação como área interna e como profissionais de mercado
mesmo”.
A diretora de Comunicação da Dow acrescenta que, além do apoio às áreas na formatação de códigos e treinamentos, seu departamento trabalha ativamente no engajamento dos stakeholders da empresa em prol de relações mais transparentes e condutas mais éticas: “Apoiamos o Comitê de Ética na formulação de materiais, além de sermos guardiões das boas práticas definidas pela companhia. Na Dow, a comunicação está e sempre estará a serviço de transformações que coloquem os públicos na mesma página. Esse é o nosso papel operacional e, sobretudo, social”.
Carlos Eduardo Gonçalves (Henkel)
Informação precisa a todos –Carlos Eduardo Gonçalves,
gerente de Compliance da Henkel para Brasil, Argentina e Chile, classifica as
iniciativas da empresa nesse segmento como bem avançadas, principalmente no
Brasil, onde a área de compliance
existe há mais de dez anos e tem um profissional com dedicação exclusiva, com
linha de reporte direta à matriz na Alemanha: “Entre as principais iniciativas,
posso citar a implementação dos canais de comunicação com a área de compliance, incluindo uma atuação corporativa
independente, que permite total confidencialidade. Adicionalmente, a
participação de compliance nos
encontros dos principais grupos diretivos da empresa auxilia a disseminação da
cultura ética”.
Dentre os desafios impostos
à área de comunicação, Gonçalves destaca o próprio termo compliance, que em geral não é traduzido nas empresas brasileiras.
“Entendo que as práticas de compliance
trouxeram uma série de normas e regulamentos a serem seguidos e implementados,
além de mudanças de comportamento que, de certa forma, ainda são algo novo para
muitas pessoas. Isso fez com que a área de comunicação inovasse para garantir
que diferentes públicos tivessem o mesmo conteúdo e que a informação chegasse
de maneira precisa a todos”, afirma. “Ainda temos como principal desafio passar
a mensagem de maneira clara e adequada para diferentes colaboradores dentro da
companhia”.
O gerente da Henkel acredita que não há compliance sem comunicação. Um programa de compliance bem estruturado deve garantir que as pessoas tenham conhecimento dos regulamentos e acesso aos principais canais de contato: “Nesse quesito, a área de comunicação oferece as ferramentas para que todos os funcionários tenham acesso ao conhecimento e contribui trazendo informações externas, como tendências que ajudam a consolidar ainda mais a área”.
Jorge Duarte (Embrapa)
Informações regulares –Jorge Duarte, gerente de Comunicação Estratégica da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), explica que, historicamente, a companhia desenvolve ações corporativas de integridade.
Em 2017, por exemplo, recebeu o Prêmio Boas Práticas na Gestão da Ética, da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, como reconhecimento do trabalho desenvolvido. Em fevereiro de 2018, a sede da Embrapa passou por uma reestruturação e foi criada a Gerência de Riscos, Integridade e Transparência da Secretaria de Desenvolvimento Institucional (GRIT/SDI), como uma das unidades internas de governança, incluindo as áreas de conformidade, integridade e gerenciamento de riscos. Um novo avanço ocorreu recentemente, em abril, com a implantação da Política de Gestão de Riscos, Integridade, Conformidade e Controles Internos.
Segundo Jorge Duarte, um
dos grandes desafios do setor de comunicação da Embrapa é tratar do assunto compliance de forma didática, clara e
aberta com os empregados. E, para isso, os profissionais de comunicação são
envolvidos em todas as atividades por meio do acompanhamento e da definição de
estratégias específicas e de longo prazo. A área de comunicação e seus
profissionais acompanham permanentemente as atividades das estruturas que atuam
com compliance e mantém os empregados
atualizados por meio de informações regulares e campanhas.
“O objetivo básico é informar, educar e envolver o empregado no assunto. Entre as ferramentas usadas, estão um ambiente específico na intranet, noticiário corporativo e campanhas de comunicação. A tarefa tem tomado bastante atenção, inclusive com a elaboração de um plano de comunicação específico e a realização de eventos e campanhas para apresentar e discutir experiências de integridade. Está prevista, para o segundo semestre de 2019, a instalação do Comitê de Gestão de Riscos, Integridade, Conformidade e Controles Internos com a posterior aprovação do Programa de Integridade e a realização de uma campanha de comunicação interna de grande porte sobre integridade”.
Giuliane Paulista (Banco do Brasil)
Fazer certo sempre –Giuliane Paulista, gerente
executiva na Diretoria de Controles Internos do Banco do Brasil, classifica as
iniciativas de compliance da
instituição em estágio de maturidade avançado, aferido com base no Indicador de
Governança das Estatais (IG Sest), no qual o BB posiciona-se no nível 1 desde
2017, quando se iniciaram as avaliações, consideradas tanto a aderência (dois
primeiros ciclos avaliativos) quanto a efetividade (terceiro ciclo avaliativo)
das dimensões do indicador.
A avaliação do IG Sest
abrange três grandes dimensões, relacionadas a gestão, controle e auditoria;
transparência das informações; e conselhos, comitês e auditorias. No último
ciclo avaliativo, ocorrido em 2018, seis estatais obtiveram a nota máxima no
Indicador de Governança, dentre as quais o Banco do Brasil e duas das suas
subsidiárias: BBDTVM e BB Seguridade.
Paralelamente, o banco
também obteve o Selo Pró-Ética nos
anos 2014 e 2016, corroborando seu esforço para consolidar a cultura de compliance nas seis perspectivas
avaliadas pelo programa: comprometimento da alta direção e compromisso com a
ética; políticas e procedimentos; treinamento e comunicação; canais de denúncia
e remediação; análise de risco e monitoramento; transparência e
responsabilidade social. O BB também se inscreveu para a edição 2018-2019 do Pró-Ética. Até o final de abril, estava
prevista a comunicação pela Controladoria-Geral da União (CGU) sobre o
cumprimento dos requisitos de admissibilidade, para prosseguimento do processo
de avaliação.
Adicionalmente, o BB
obteve, em 2017, a certificação do Programa
Destaque em Governança de Estatais, voltado às estatais de capital aberto,
visando incentivar essas empresas ao aprimoramento de suas práticas e estruturas
de governança corporativa, avaliando blocos de assuntos relacionados aos temas:
transparência; controles internos; composição da administração; e compromisso
do controlador público.
Nesse contexto, para
viabilizar a promoção e o aprimoramento contínuo das medidas de gestão e
disseminação da cultura de compliance,
que orientem as práticas de todo o corpo funcional, independentemente da área
de atuação, o BB desenvolveu um programa que visa a disseminar diretrizes para
atingir o estado de conformidade e sustentabilidade dos negócios,
possibilitando o aumento da prevenção de atos ilícitos, redução de perdas
financeiras e de danos à sua reputação, conferindo a credibilidade necessária
para evidenciar seu posicionamento ético e de práticas responsáveis e sustentáveis
na condução dos seus negócios. Está organizado em nove orientadores, integrados
e complementares, que pautam as atividades operacionais e as práticas de
negócios do banco, sustentados pelos pilares da prevenção, detecção e correção
de desvios em relação às leis, normas e regulamentos externos e internos e ao
código de ética e às normas de conduta.
Segundo Giuliane Paulista,
o programa de compliance do BB tem um
orientador específico para comunicação, cujo papel é criar um canal de
interlocução direto, fluido e objetivo com todos os níveis de colaboradores, do
quadro próprio ou terceirizados, prestadores de serviços ou fornecedores,
clientes ou usuários de serviços bancários, levando a todos o posicionamento do
banco quanto às melhores práticas de negócio, às relações éticas e
sustentáveis.
A principal contribuição da área de comunicação, diz Giuliane Paulista, é capturar as agendas positivas para disseminar a cultura de compliance como algo inerente aos negócios da instituição, visando à proteção dos seus ativos tangíveis e intangíveis, buscando sensibilizar os seus diversos públicos de relacionamento interno e externo para a essência do ‘fazer certo sempre’, induzindo comportamentos desejáveis nas relações comerciais sustentáveis e duradouras.
Carime Kanbour (Klabin)
Além dos muros da companhia –Carime Kanbour, gerente de
Comunicação, Desenvolvimento Sustentável e Relações Institucionais da Klabin,
informa que a empresa mantém dentro de sua estrutura corporativa a área de
Integridade, responsável pelas iniciativas de compliance da companhia. O trabalho realizado por toda a equipe
está pautado pela ética, transparência e por pilares que garantem as melhores
práticas de governança no dia a dia, por meio da coerência das atividades, do
cumprimento da legislação e da conformidade com as melhores práticas globais:
“A área mantém hoje um programa de compliance
considerado ‘vivo’, capaz de adaptar-se diante dos diversos desafios que as
transformações da sociedade podem implicar. As iniciativas seguem essa premissa
e são pensadas de forma a estarem sempre abertas a aprimoramentos, de acordo
com as melhores práticas do mercado. Evoluímos bastante no último ano e estamos
aprimorando e reforçando as nossas ações para que os objetivos dos programas
estabelecidos pela área de Integridade sejam alcançados”.
Carime acredita que o
principal desafio hoje é trazer à tona a importância do tema compliance, não só para o público
interno: “Temos a missão de promover a reflexão sobre ética como um princípio
orientador para a tomada de decisões. A nossa intenção é extrapolar o
‘universo’ Klabin, contribuir com a disseminação do assunto para a sociedade e
para a construção de um ambiente cidadão, tendo os questionamentos sobre
‘querer, poder e dever’ permeando o dia a dia das pessoas de forma natural,
pelo compromisso próprio com o princípio e o entendimento da importância do
assunto”.
Na Klabin, diz Carime, a
comunicação é parte integrante do programa de compliance, considerado um de seus pilares de atuação. A empresa
mantém um trabalho intenso para comunicar ações e evidenciar os assuntos
relacionados a integridade. “Somos desafiados a pensar em formas criativas e
efetivas de sensibilizar e tornar a reflexão frequente em nosso meio”, diz a
gerente. A comunicação desempenha papel fundamental para o sucesso do programa
de compliance desenvolvido pela
Klabin, afirma ela: “É preciso manter os temas correlatos, bem como as
iniciativas da área de Integridade sempre em voga na companhia, sensibilizando
o público interno para a relevância do assunto. Estamos falando de uma empresa
centenária, que tem atualmente mais de 19 mil colaboradores espalhados em 17
unidades no Brasil e uma na Argentina, ou seja, temos o desafio de capilarizar
as informações para que cheguem a todos os nossos profissionais. Pensar em
campanhas de comunicação internas estratégicas é indispensável nesse sentido”.
Além disso, ações que usam a comunicação para impactar e sensibilizar de forma indireta os colaboradores são eficientes para o desenvolvimento das iniciativas de compliance da Klabin. Há alguns anos a empresa realiza a Semana da Ética, período em que as discussões são provocadas de inúmeras formas, seja por peças de comunicação enviadas aos profissionais, palestras de especialistas, como Leandro Karnal e Mario Sérgio Cortella, e ações que geram reflexão. No último ano, exemplifica Carime, promoveu-se uma dinâmica diferente e bastante criativa: colocaram à venda nos cafés e pontos de alimentação das unidades da empresa sorvetes com um preço fixo. Os próprios colaboradores eram responsáveis pela retirada, pagamento e troco: “A iniciativa foi bastante efetiva no sentido de gerar discussões e reflexões, além de reforçar a importância de uma conduta ética, princípios que com certeza foram levados para além dos muros da companhia”.
Marcela Porto (Suzano)
Demostrar a relevância do tema – A Suzano, empresa resultante da fusão entre a Suzano Papel e Celulose
e a Fibria, foi constituída em 14 de janeiro deste ano e, ao recém-completar os
primeiros 100 dias da nova estrutura, está em meio a um movimento de integração
de equipes e harmonização de práticas, processos e sistemas. “Esse momento
único na história da companhia resulta em um conjunto de ações de comunicação
que visam a nivelar o conhecimento de seus mais de 15 mil funcionários
próprios”, afirma Marcela Porto,
gerente executiva de Comunicação e Marca da Suzano. “Esse esforço de
comunicação é amplo e estende-se desde os negócios da empresa – ou seja, o que
fazemos e as novas tecnologias que estamos desenvolvendo – até assuntos
relacionados a áreas como compliance
e sustentabilidade, as quais permeiam toda a organização e não ficam restritas
às próprias equipes”.
Para ela, o maior desafio
enfrentado pela comunicação ao abordar o tema compliance dentro de uma empresa está em encontrar as estratégias
mais assertivas para a construção de uma cultura do tema que permeie toda a
companhia, de forma homogênea e harmônica: “Precisamos andar lado a lado com as
diretrizes estabelecidas pela organização, porém cientes de que é fundamental
traduzir, para os diferentes públicos, termos e conceitos que eventualmente
possam ser menos acessíveis. Devemos mostrar a relevância do tema para o
reforço de uma cultura de integridade entre todos os colaboradores, uma vez que
o compliance não é algo que está na
estrutura física de uma organização, mas sim na compreensão e nas atitudes de
cada colaborador. E a consolidação de uma mentalidade alinhada com a
conformidade em cada decisão, com a escolha de fazer o certo independentemente
de fiscalizações de terceiros, só é possível a partir de ações frequentes e
consistentes com a realidade da empresa e de seus colaboradores”.
A gerente acredita em um
modelo no qual a integração e a sinergia entre áreas são fundamentais para o
fortalecimento da organização como um todo. Esse modelo permite tratar temas
como compliance e sustentabilidade
como pilares das decisões diárias. Por isso, diz, cabe à comunicação, mas não
apenas a ela, contribuir para a disseminação das informações e do conhecimento,
de forma traduzida, para os diferentes públicos. Contudo, é fundamental também o
envolvimento de outras áreas e agentes para que cada colaborador seja alcançado
com a informação que ele precisa receber de forma ágil e transparente: “Cito
como exemplo as equipes responsáveis pelos treinamentos internos, os
responsáveis pela elaboração das políticas e as lideranças, que a partir de
seus exemplos têm a capilaridade necessária para chegar às diferentes áreas. O
resultado desejado só acontece quando todos avançam na mesma direção e
contribuem para a concepção de que fazer o certo deve estar nas práticas
diárias, e não apenas em um papel guardado na gaveta ou exposto em uma parede
da empresa”.
Outro papel importante da comunicação na consolidação de uma cultura de compliance e de um modelo de governança saudável é ouvir, diz Marcela. A área de comunicação deve compreender seu caráter único de ser uma via de mão dupla. Por estar em todos os lugares, a comunicação tem a capacidade e a obrigação de auxiliar na identificação de eventuais inconsistências entre o que o comando da organização estabelece e as decisões efetivamente colocadas em prática: “Uma atenção constante que deve estar conectada ao caráter educativo e informativo que acompanha o trabalho diário da área da comunicação de uma grande organização”.
Reinaldo Amorim (SulAmérica)
Ética nas situações menos relevantes –Reinaldo Amorim, diretor
de Compliance, Riscos e Atuária da SulAmérica, conta que, desde 2002, a empresa
estabeleceu uma área exclusivamente dedicada ao tema compliance, que tem como responsabilidade primária a defesa da sua
reputação. Para isso, a área concentra-se na orientação e conscientização de
princípios éticos e boas práticas de conduta, combatendo atos ilícitos e
buscando atender às leis e regulamentações que governam seus negócios. Recentemente,
explica o executivo, o código de conduta ética e o programa de compliance foram revistos, de modo a
refletir as melhores práticas atuais de ética e controle de integridade. Hoje,
todos os colaboradores da SulAmérica têm compromisso firmado com tais práticas
por meio de adesão eletrônica.
“Nosso foco é sempre dar
maior amplitude às ações de aculturamento de riscos na companhia, expandindo o
conceito de compliance de maneira
integrada à governança e gestão de riscos corporativos”, diz Amorim. “Na SulAmérica
as iniciativas de compliance estão em
constante evolução e alinhadas aos elementos de um programa efetivo. O grande
segredo dessa maturidade é o comprometimento da alta administração e o seu
compromisso com a ética. A companhia vem atuando fortemente nesse sentido, por
entender que a condução de seus negócios dentro dos mais elevados padrões
éticos é fundamental para sua sustentabilidade e consolidação do seu
relacionamento com seus stakeholders”.
Amorim crê que o principal
desafio para a implantação de qualquer programa de compliance relaciona-se com a cultura da organização. Estabelecer e
fortalecer constantemente a cultura ética, priorizando que todos os seus
colaboradores ajam de acordo com os padrões estabelecidos de integridade
pessoal e profissional na execução de todas as suas atividades. Para criar uma
cultura de integridade, diz o executivo, é essencial o estímulo a um
comportamento ético na conduta cotidiana: não somente os valores da empresa
devem ser observados, mas também valores éticos precisam orientar as práticas
diárias. É preciso que os colaboradores assumam essa postura no seu dia a dia e
procurem agir de maneira ética nas situações que pareçam menos relevantes.
Esse movimento em prol da
cultura ética inicia-se com o comprometimento da alta administração, pois esta
tem a capacidade de determinar o incentivo às mudanças. Seu comportamento tem
efeito multiplicador, portanto, exemplar: “Pode-se dizer que o apoio permanente
da alta administração é condição indispensável para o fomento de uma cultura de
integridade que, além de existir, deve ser sentida por toda a organização”.
A comunicação, diz Amorim,
é fundamental para a criação de uma cultura de integridade, bem como o
investimento na capacitação e no treinamento dos colaboradores. “Obviamente,
existem outros tantos desafios relevantes, como a estruturação de um canal de
denúncia efetivo, a gestão de terceiros, o gerenciamento de conflitos de
interesses, entre outros. Porém, todos eles acabam por convergir para a adoção
de uma cultura ética” afirma. “Assim, o desafio não se basta na criação de uma
cultura de integridade, mas em manter tal cultura viva na organização, e na
SulAmérica não é diferente”.
Para o diretor, a
comunicação é um elemento importante de um programa de compliance, pois auxilia na disseminação da cultura ética. Tendo
isso em conta, anualmente a área de compliance
da Sul América, em conjunto com a área de comunicação institucional, cria um
plano de comunicação, cujas iniciativas são desenvolvidas a partir de algumas
premissas, dentre as quais está apresentar os temas de compliance de uma forma mais lúdica, direta e acessível a todos os
públicos, para que sejam totalmente absorvidos, bem como para que todos
incorporem a mensagem e se engajem na promoção de uma cultura de integridade.
São utilizados diversos instrumentos e meios: desde cartazes e e-mails a vídeos institucionais, histórias em quadrinhos, filmes, palestras, jogos interativos, memes e flash-mobs, entre outros. Treinamentos online e presenciais na universidade corporativa são conduzidos permanentemente, sempre com uma linguagem direta e acessível a todos os colaboradores. Mensalmente são promovidos encontros, conhecidos como Sessão Pipoca, que reúnem 200 colaboradores aproximadamente para assistirem a um filme ou vídeo e debaterem sobre práticas de integridade e conduta, tais como comportamentos nas redes sociais, segurança da informação, conflito de interesses, combate à corrupção etc.
Luciane Reis (Cargil)
Manter-se aberta ao diálogo –Luciane Reis, líder de
Comunicação Corporativa da Cargill no Brasil, afirma que uma forma eficiente de
avaliar o estágio avançado em que estão as práticas de compliance da empresa é a confiança demonstrada tanto por
funcionários como por fornecedores, clientes e parceiros: “A ética é o fio
condutor do sucesso da Cargill. Nossa sólida posição de liderança no mercado
global é construída diariamente sobre os pilares da transparência e respeito
aos nossos públicos: clientes, acionistas, funcionários e comunidades”.
Para garantir esses
princípios, a Cargill criou um código de conduta que descreve os padrões éticos
e de conformidade da empresa para conduzir negócios em todo o mundo e serve de
guia para seus 155 mil funcionários. A Cargill desenvolveu também o código de
conduta do fornecedor, que determina parâmetros éticos exigidos em toda a sua
cadeia de valor. Sete princípios éticos regem a atuação da empresa no mundo:
• Cumprir a lei: é a base
da reputação e dos princípios éticos da empresa. Como uma organização com
atuação ao redor do mundo, tem a responsabilidade de cumprir com todas as leis
aplicáveis ao seu negócio.
• Conduzir os negócios com
integridade: a Cargill informa que enfrenta a concorrência com vigor, mas de
forma ética e justa. Não oferece nem aceita subornos ou presentes inapropriados
e cumpre as leis e normas que apoiam uma concorrência justa e íntegra no
mercado.
• Manter registros precisos
e honestos: prática fundamental para a tomada de decisão adequada aos negócios
e para a manutenção da integridade dos relatórios financeiros. As informações
de negócios, em qualquer formato, devem refletir a natureza real das transações
da empresa.
• Honrar as obrigações de
seu negócio: as relações são baseadas em confiança mútua, e assim tem sido ao
longo de toda a história da Cargill. Conquistar e manter a confiança de
clientes e outros parceiros de negócios com comunicação transparente,
respeitando as informações confiadas à empresa.
• Tratar as pessoas com
dignidade e respeito: a Cargill informa que atinge suas metas por meio das
pessoas e lhes fornece um lugar de trabalho seguro, permitindo que aqueles que
apoiam as metas da empresa alcancem seu próprio potencial individual.
• Proteger ativos e
interesses da Cargill: para preservar o seu valor, a empresa evita situações
que possam permitir que os interesses pessoais influenciem o julgamento na
condução dos negócios.
• Comprometimento com uma
cidadania global responsável: a ampla gama de operações faz com que a Cargill
tenha participação em quase todos os setores da sociedade. Junto com esse
alcance global vem a responsabilidade de entender e gerenciar o seu impacto,
mantendo rígidos padrões de segurança dos alimentos e ambiental nas operações e
compartilhando experiência e conhecimento global para ajudar a solucionar
desafios econômicos e sociais.
Segundo Luciane Reis, os esforços da Cargill para manter-se aberta ao diálogo têm se refletido no desempenho operacional da companhia, que, por isso, tem conseguido destaque em diversas premiações e rankings do setor. “Baseados no código de conduta, reforçamos com todos os nossos 11 mil funcionários no Brasil o propósito e a forma de fazer negócios por meio de eventos, treinamentos e ações internas”, diz a executiva. “Além de todo o trabalho realizado internamente, agimos junto às associações para fortalecer os negócios nos segmentos em que atuamos e preparamos e orientamos nossos porta-vozes continuamente para estarem sempre presentes em eventos e nos principais veículos estratégicos da imprensa brasileira e internacional, apresentando o trabalho e resultados da Cargill para os diversos stakeholders”.
Reynaldo Goto (BRF)
Ser uma prática estratégica e perene é
fundamental – Reynaldo
Goto, diretor de Compliance da BRF, informa que a empresa tem um sistema de
integridade bastante robusto, baseado em três pilares: prevenção, detecção e
resposta aos desvios de conduta: “Para isso, contamos com políticas,
treinamentos, controles internos, equipe capacitada e pontos de apoio, os
chamados embaixadores de integridade, colaboradores que não são da área de compliance mas fazem esse trabalho de
engajamento e prevenção de maneira voluntária”.
De acordo com Goto, a área
de comunicação da BRF, assim como todas as demais, tem se adaptado às regras de
compliance, seguindo as políticas
estabelecidas de processo de contratação de fornecedores, envio de brindes,
realização de eventos, entre outros: “Além disso, a área passou a ter um papel
integrado no sistema de compliance da
companhia, ajudando a difundir as melhores práticas e os canais adequados para
contato”.
Goto diz que a comunicação é um dos alicerces do sistema de integridade da BRF, tanto internamente, com as campanhas de conscientização e engajamento de funcionários, como externamente, dando transparência a temas relevantes da atuação da empresa nesse aspecto: “A área também auxilia na propagação e no engajamento dos compromissos absolutos da administração, que são integridade, qualidade e segurança. Importante dizer também que esse é um trabalho que faz parte da atual estratégia da BRF, não é algo pontual”.
Roberta Pegas (Telefônica/Vivo)
Diferenças respeitadas e valorizadas –Roberta Pegas, diretora de
Compliance da Telefônica | Vivo, afirma que ética e a integridade sempre
estiveram no DNA da empresa e, portanto, é natural que a consolidação e
evolução desse compromisso contínuo tenha resultado no #VivoDeAcordo, nome do Programa
de Compliance da companhia.
Segundo ela, o #VivoDeAcordo conta com os seguintes
pilares para garantir sua implementação: o comprometimento total da alta
direção; uma estrutura robusta com colaboradores especializados responsáveis
pelas ações do programa; constante análise e avaliação dos riscos do negócio;
políticas internas que tratam de temas relevantes, tais como combate à
corrupção e relacionamento com entidades públicas; a capacitação de líderes,
iniciativas de responsabilidade socioambiental, comunicação, governança
corporativa, conscientização e treinamento dos colaboradores e fornecedores.
Além do monitoramento e da revisão constantes do programa, a área de compliance e as demais áreas da empresa
juntam esforços para assegurar o aperfeiçoamento do #VivoDeAcordo com base nas melhores práticas de mercado.
“Como reconhecimento à
nossa evolução no tema de compliance,
fomos indicados como uma das 15 empresas mais bem avaliadas da primeira edição
da pesquisa As 100 Maiores Empresas e os
10 Maiores Bancos Brasileiros, da ONG Transparência Internacional”, diz
Roberta. O estudo levou em consideração três aspectos de cada uma das
companhias avaliadas: adoção de práticas anticorrupção, clareza da estrutura
organizacional e transparência na divulgação de informações financeiras.
Além disso, a experiência
bem-sucedida do Programa #VivoDeAcordo
resultou no reconhecimento da Telefônica como uma das empresas mais éticas do
mundo no ranking World’s Most Ethical
Companies 2019, organizado pelo Instituto Ethisphere, líder global na
definição e no avanço dos padrões de práticas comerciais éticas. A Telefônica
tornou-se a primeira operadora brasileira a ter a certificação, dividindo a
listagem mundial com apenas outras três companhias estrangeiras no setor de
telecomunicações. No Brasil, diz Roberta Pegas, a Telefônica e a Natura são as
únicas detentoras desta certificação: “Esse reconhecimento corrobora o nosso
compromisso permanente em sempre realizar negócios de forma íntegra, ética e
transparente”.
Para a executiva, a
parceria estabelecida entre as áreas de compliance
e comunicação é essencial. O mais importante desafio dessa parceria é
transformar uma linguagem densa oriunda de normas e regulação em uma
comunicação transparente e de fácil entendimento. Na velocidade do mundo atual,
em que o volume de informações é cada vez maior, a utilização das ferramentas
de tecnologia é primordial. Assim, a área de comunicação tem um papel de
alinhar informação e técnica para que, juntas, consigam motivar e engajar os
colaboradores, desenvolvendo ainda estratégias para informar os executivos,
garantindo a participação deles no Programa
de Compliance.
De acordo com Roberta, o setor de telecomunicações é um dos que mais investem no País. Desde a privatização, foram aproximadamente R$ 900 bilhões, em valores atualizados. De 2013 a 2017, a Telefônica investiu mais de R$ 40 bilhões e outros R$ 26,5 bilhões serão investidos de 2018 a 2020. “Temos o compromisso com as melhores práticas de governança corporativa e com a transparência na relação com clientes, investidores, governo, colaboradores e demais stakeholders”, diz ela. “A Telefônica conta com mais de 32 mil colaboradores e cada indivíduo tem suas próprias identidade e trajetória e compreende que nossas diferenças devem ser respeitadas e valorizadas. Encorajar uma cultura ética e o compromisso no cumprimento da legislação não seria possível se não tivéssemos comunicações claras e criativas, com a cara do DNA Vivo. Assim, a área de comunicação tem papel fundamental na divulgação e disseminação da cultura de compliance pela companhia, assegurando que as mensagens mais relevantes sejam compreendidas por todos os colaboradores”.
Cultura de integridade — A MRV Engenharia, grupo de origem mineira que atua no setor de
construção civil, informa que suas iniciativas em compliance estão em um estágio maduro e foram chanceladas
recentemente pela consultoria ICTS Protiviti, que a reconheceu como uma das
empresas brasileiras de melhor nível de governança e com um programa de
integridade efetivo.
Fundada em 1979, a MRV
relata que sempre foi comprometida com a ética e a transparência. Em 2007, ao
aderir ao Novo Mercado da B3, com a abertura de seu capital, a empresa criou um
código de conduta para nortear as ações dos seus diversos públicos. Em 2010,
implantou sua área de riscos e auditoria interna e, em 2012, fez a primeira
revisão do código de conduta, com a criação do canal confidencial e a
implantação de um comitê de ética. Em 2015, para acompanhar as demandas do
mundo moderno, realizou a segunda revisão do seu código de conduta. Em 2017,
implementou sua área de compliance e
lançou seu programa de integridade. No ano passado, a área de compliance realizou uma série de
treinamentos com todos os níveis hierárquicos da MRV para o fortalecimento da
cultura de integridade na companhia e foi criado o Fale com o Compliance, um canal direto para tirar dúvidas e buscar
apoio em situações de dúvidas sobre como agir.
De acordo com a MRV, seu
departamento de comunicação não teve dificuldade em adaptar-se às demandas de compliance, uma vez que as boas práticas
sempre existiram na companhia e foram apenas formalizadas e fortalecidas com a
criação de uma área específica de compliance.
A empresa explica que seu departamento de comunicação contribuiu com a área,
desde a adesão às normas de compliance,
divulgando a formalização das práticas, os cursos e treinamentos feitos para o
público interno e está sempre atenta a oportunidades na imprensa para divulgar
a cultura de integridade da MRV.
CNN Brasil abriu 6/5, na Alameda Santos, em São Paulo, seu escritório de transição. O espaço temporário concentrará suas atividades das áreas administrativa, comercial e de conteúdo. Receberá de imediato 65 profissionais já contratados, mas tem capacidade para acolher até 150.
As instalações definitivas do canal estão sendo construídas na região da avenida Paulista-Jardins. As negociações estão adiantadas para a definição dos locais que abrigarão as sedes de Brasília e Rio de Janeiro.
O jornalista e cientista político Gianni Carta morreu em Paris, onde vivia, em 5/5, aos 55 anos, vítima de um câncer nas vias biliares. Gianni foi correspondente internacional na Europa e nos Estados Unidos, colaborando para publicações como a revista CartaCapital, onde também exerceu funções de direção, além de veículos estrangeiros como The Guardian, BBC, CBS e Deutsche Welle. Ele era filho de Mino Carta, fundador da CartaCapital.
Formado em Ciências Políticas pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), tinha pós-graduação em Relações Internacionais pela Universidade de Boston (BU) e pelo Centre d’Études Diplomatiques et Stratégiques (CEDS), da École des Hautes Études Internationales de Paris. Foi autor de livros como Garibaldi na América do Sul – O mito do gaúcho, O tênis no Brasil – De Maria Esther Bueno a Gustavo Kuerten (com Roberto Marcher) e O desafio de Lula (com o pai, Mino Carta). Era casado e morava na cidade francesa de Montreuil.
BBC demite apresentador por comportamento racista
Por Luciana Gurgel, direto de Londres
Danny Baker e a postagem no Twitter
Mais um jornalista perde a cabeça aqui no Reino Unido por causa
de gracinhas daquele tipo que só o autor acha graça. A bola da vez foi o
apresentador da Radio 5 Live, Danny
Baker. Nessa quarta-feira, enquanto o país enternecia-se com a foto da
família real admirando o novo bebê, Baker tuitou uma foto de um casal com um
filhote de chimpanzé e o doce comentário: “Bebê real deixa o hospital”.
Impressionante como um jornalista experiente não mediu as
consequências de tal gracinha. Principalmente sendo ele da BBC, uma emissora
pública. Que não perdeu tempo e o demitiu em seguida.
Mas ele não pareceu arrependido. Na manhã desta quinta (9/5),
ao ser abordado na porta de casa por equipes de reportagem, ironizou o caso e
usou palavras chulas para referir-se ao chefe que o havia dispensado.
E se algo poderia ser ainda pior, foi a justificativa. Baker
tentou consertar dizendo que não teve intenção de ser racista, e que pretendia
associar a realeza a animais de circo, sem conotação com raça. Não colou. O
caso virou trending topic, e está
provocando uma boa discussão sobre racismo por aqui.
Recentemente, William Sitwell, editor da revista de gastronomia da rede de supermercados Waitrose, também perdeu o cargo por um e-mail enviado a uma repórter ridicularizando os veganos. Nada como pensar várias vezes antes de postar ou enviar mensagens.
Ao longo dos últimos dois anos, o Projeto Credibilidade tem trabalhado junto a esses veículos para facilitar a implementação de uma série de indicadores, como: comunicados sobre padrões éticos e editoriais, informações sobre o currículo de jornalistas e etiquetas para distinguir diferentes tipos de conteúdo, como notícia, análise e opinião.
São oito Indicadores de Credibilidade,
que podem ser comparados a “dados nutricionais”, sinalizando os compromissos por
trás do conteúdo noticioso distribuído digitalmente, nos websites dos veículos
ou em plataformas de mídia social. “Nosso projeto visa a informar o público
sobre o que está por trás da notícia e da organização que a produz”, informam Francisco Belda e Angela Pimenta, coordenadores do Credibilidade, que trabalham
conjuntamente com o Trust Project, criador do Sistema de Indicadores.
O Projeto é uma
parceria entre o Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e a
Unesp – Universidade Estadual Paulista. O financiamento para o trabalho de
apoio do Projor às redações brasileiras veio da Google News Initiative e do
Facebook Journalism Project. Mais informações com Francisco Belda ([email protected]) e Angela Pimenta ([email protected]).
Rozália Del Gaudio é a nova diretora de Comunicação Corporativa do McDonald’s Brasil, sucedendo a David Grinberg, que depois de três anos à frente da diretoria foi promovido a vice-presidente de Comunicação e Relações com Investidores da Arcos Dorados, franquia independente que administra a marca McDonald’s em 20 países da América Latina e Caribe.
Formada em Jornalismo pela UFMG, com mestrado em Administração de Empresas pela mesma universidade, e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, Rozália tem mais de 20 anos de experiência na área de comunicação. Teve passagens por empresas como Vale, Grupo Votorantim e C&A. Ela vai liderar o time de Comunicação Corporativa da empresa, formado pelos gerentes Mariana Augusto e Leandro Lima, o analista sênior Anderson Marin e a assistente Paloma Domingues.
Primeiro “jornal sem jornal” do mundo, ACapa está lançando nesta
quinta-feira (9/5) uma campanha de financiamento coletivo no Catarse para marcar
os três anos de publicação das capas críticas, interpretativas e irreverentes
sobre o Brasil atual. A modalidade escolhida é a assinatura recorrente, em que o
leitor define quanto quer doar mensalmente para financiar o projeto e ganha
recompensas de acordo com a contribuição. Para participar, é só entrar no site do
Catarse e escolher o valor mensal.
Com o slogan A
primeira página que você não vê no jornal que você lê, ACapa conquistou
mais de 20 mil seguidores em Facebook, Instagram e Twitter. Produzido pelos jornalistas Edgar Gonçalves Jr., Fabrício
Cardoso e Nélson Nunes, com design de Tchô Hermes, todos com experiência em capas e prêmios de jornalismo
no currículo, o projeto consiste na criação de uma peça gráfica e um texto de
apresentação sucinto sobre um tema do noticiário, inspirados na linguagem de
primeira página de jornais e revistas. “A repercussão e a interação entre os
leitores são intensas, sendo que algumas capas têm alcance orgânico superior a
meio milhão”, diz Nélson.
Ele ressalta que, embora tenha alcançado popularidade junto
a leitores e estudantes de Jornalismo, ACapa surgiu como um projeto
experimental e nunca recebeu verba de patrocinadores, governos, partidos ou
políticos: “Até hoje, os custos têm sido bancados pelos próprios editores”.
Com o financiamento coletivo, estão previstas melhorias como a criação de uma loja virtual para vender camisetas, porta-copos, pôsteres e outros artigos estampando as capas de grande repercussão. “Nosso objetivo com a campanha de assinaturas é ingressar numa fase mais estruturada para oferecer um conteúdo cada vez melhor”, diz Gonçalves.