Por Assis Ângelo
Sob as rodas de um trem também sucumbiu a protagonista de um romance do russo Tolstói, Anna Karênina.
O conto de Gorki me fez lembrar também um conto do francês Voltaire (1694-1778), intitulado O Carregador Zarolho.
O zarolho do conto de Voltaire é personagem excepcional. Jovem, forte, sem compromisso amoroso com ninguém. Sentia-se bem e feliz trabalhando, comendo e dormindo num cotidiano inalterável.
A história aqui lembrada passa-se no mundo árabe.

Num dia indefinido, o carregador, de nome não explicitado no conto, tem a visão despertada por uma carruagem levando uma belíssima mulher. Princesa. Encantado, o carregador segue o que vê a sua frente.
Bom que se diga, meu amigo, minha amiga, que naquele tempo passado dessa história era comum que essas mulheres belíssimas viajassem sem cocheiro e sem lacaio. Era o caso.
O carregador corria, corria, corria ao lado da carruagem sem se cansar. Achava-se apaixonado pela bela figura feminina.
De repente, os cavalos que levavam a bela se assustaram e por pouco não a levaram precipício abaixo.
Num passe de mágica, o carregador conseguiu cortar as rédeas e salvar a carruagem e sua ocupante.
O final dessa história tem a ver com As Mil e Uma Noites. Bagdá.
Bagdá tem muito a ver com a figura de maior destaque do romance O Conde de Monte Cristo, do velho Alexandre Dumas (1802-1870).
Dumas Pai, como ficou conhecido Alexandre, autor de pérolas da literatura mundial como Os Três Mosqueteiros e tantas outras belezas que todo mundo conhece, era de origem negra. O seu pai, Thomas (1762-1806), foi o primeiro general negro da história da França. A sua avó, Marie-Cessette Dumas, era escrava.

O Conde Negro, livro biográfico escrito pelo norte-americano Tom Reiss, Prêmio Pulitzer de 2003, conta toda essa história, inclusive o fato de ele ter provocado a ira do seu chefe, Napoleão Bonaparte. Fantástica.
O general Thomas foi preso na Itália e morreu jovem, com apenas 43 anos de idade.
O avô do autor de O Conde de Monte Cristo casou-se com uma negra escrava haitiana e com ela teve quatro filhos, entre eles Thomas.
Thomas e os seus irmãos foram vendidos pelo pai, que sumiu do mapa.
Algo exatamente parecido aconteceu no Brasil ali pelos anos de 1840. Fato: Luís Gonzaga Pinto da Gama foi também vendido pelo inescrupuloso pai português Antônio Agostinho Carlos Pinto da Gama. Tinha 10 anos de idade e era baiano. Aos 17 anos lutou e lutou para provar que fora vítima de injustiça. E nessa luta, como rábula que foi, Gama conseguiu legalmente a alforria de 700 escravizados e escravizadas.

A história de Luís Gama (1830-1882) é história para jamais ser esquecida, principalmente por quem tem um mínimo de lucidez e consciência.
Antes de Alexandre Dumas e seu pai, a história registra a presença negra na velha Rússia. Foi lá, no final do século 17, que Pedro, o Grande, acolheu e alforriou o bisavô do primeiro e mais importante romancista e poeta russo: Alexandre Pushkin, autor de A Dama de Espadas e A Filha do Capitão. E não custa lembrar que esse Alexandre inspirou Dostoiévski a escrever o clássico Crime e Castigo.
Como curiosidade, diga-se: o bisavô de Pushkin virou general do exército russo. Era africano.
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