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sábado, julho 19, 2025

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O que você aprendeu com o digital?

Débora Fortes

Por Ceila Santos

Ceila Santos

Ele dita uma das principais mudanças que começou neste milênio. Nasceu no século passado, depois de décadas de gestação nas garagens ou nos cantos ocultos daqueles que eram estigmatizados como nerds. Veio pra mudar o tempo e o espaço.

Tirou a mecânica de catar milhos da datilografia ou seguir as teclas com os quatro dedos, com muito barulho e as mãos acionadas a cada linha feita.

Trouxe um teclado plano, quase silencioso e, com a mobilidade, deixou claro a força do polegar que carrega a digital, a voz que vira escrita e um visual que move além da realidade tridimensional. Cada vez mais ágil, ágil, ágil e ágil.

Sinto-me bastante velha quando lembro que conheci o mundo antes da internet. Foi em 1996 que vi a reportagem da Veja ensinando como ela funcionava. Ano em que a Olivetti fechou suas portas no Brasil.

Sinto muito cansaço quando ouço a excessiva atenção dada à aceleração da linha histórica que as mídias representam entre as gerações. E quanto mais ocupada com o Digital maior minha sensação de impotência.

Lembro da expressão bios virtual, de Muniz Sodré, sobre a existência do ser humano vinculada à sua capacidade de lidar com o digital e anoto a frase do livro “A Ciência do Comum”: não se trata mais de conhecer (no sentido humanístico da palavra) e sim de tornar-se competente (de saber operar) pra respirar um pouco e tentar perceber o cansaço, a velhice e a impotência em mim.

Qual seria a versão da sua história para narrar o nascimento do Digital, a mudança que ele provoca e seus sentimentos em relação àquilo que sabe ou ouve sobre o novo paradigma?

Alma Investigativa
Não é de hoje que estamos antenados e focados na sua chegada, direcionando todas as nossas perguntas a ele, estudando todos seus efeitos na imprensa, na cultura e na educação, projetando todos nossos sonhos e fazeres a partir da sua existência, mas o quanto você já engoliu essa pergunta dentro da sua biografia?

Ao ouvir a relação de Débora Fortes com o digital reconheço um sentimento diferente da minha impotência. Débora gosta de desafios, tem fluência em inglês desde jovem, admira a inovação de Steve Jobs e foi repreendida por chefe, na época em que editor não sabia que o celular também servia para bloco de notas, pelo uso do dispositivo em reunião. Sem dúvida, ela é digital.

Conta sua trajetória do primeiro computador (com sistema OS/2 Warp), da IBM, até ao fato de servir aos amigos como referência para o consumo de eletrônicos, aplicativos ou serviços digitais, com paixão. Dá pra sentir o amor que Débora cultiva pela evolução que o digital propicia ao mundo.

Começo a relacionar a percepção positiva que Débora transmite ao digital com o mantra existencialista de Jean Paul Sartre (1905-1980): “O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós”.

Pesquisa-Te
Qual é a evolução que o digital te aponta? Ainda é muito presente pra reconhecê-la. Sinto-o como um Sugador. Me tira a mitologia de Cronos e Kairós. Sinto um vazio na alma. Ocupa toda a minha atenção e prova a EFICIÊNCIA máxima com a sua capacidade ágil de mensurar, medir, analisar, conectar, interagir, ligar, traduzir e ver além da realidade. Sinto-me pó.

Sexta-feira, dia 12 de junho, a pandemia completa o tempo que o planeta Mercúrio orbita o Sol: 88 dias. Na mitologia, o planeta representa a força do Mensageiro, o deus grego com asas nos pés. Agilidade sempre foi qualidade de quem entrega mensagens. O que nasceu, então, com o digital?

Vivemos o ápice do remoto. Débora revela que a pandemia dos zooms, no começo desta quarentena, trouxe o desafio de ir ao banheiro diante da explosão das reuniões necessárias para a tomada de decisões. Como funcionou sua energia, sua capacidade de concentração e atenção? Agiu sem parar nos fazeres urgentes do ritmo da pauta mesmo diante da demanda do almoço, da janta e do sono? E teu sono, existiu?

Quando me toco pela percepção positiva de Débora lembro da polaridade que a palavra eficiência tem dentro da governança baseada na sociocracia: equivalência. Eis, então, que nasce uma esperança e lembro da frase de John Naisbitt, norte-americano que assim como Débora passou pela IBM: os avanços mais emocionantes do século XXI não ocorrerão por causa da tecnologia, mas por conta de um conceito em expansão do que significa ser humano. Insight: Batalhadora, formada em Economia com gestão editorial, vivência com personalidades jornalísticas e filha única de mãe solteira. Muitos temas em torno de Débora. Escolhi o DIGITAL por causa da história comum da imprensa especializada e o contexto da pandemia.


Box do Líder
Débora Fortes

Technisys
Líder:
Credibilidade
Filosofia:
Um jornalista sempre pode se reinventar: fomos treinados para investigar e transformar uma página em branco numa matéria de capa
Referência:
Steve Jobs
Tempo da Jornada
Jornalismo: 15 anos
Destaque: Abril e Globo
RP: 4 anos
Destaque: S2 Publicom (atual Weber Shandwick)
Corporativo: 7 anos
Destaque: Technisys e IBM
Formação: Economia e Jornalismo

Débora Fortes inveja o pique da paulista que foi nos anos 1990, quando viveu sua tripla jornada, da zona Norte até São Bernardo do Campo e do Centrão até o Butantã, das 5h30 até mais de meia noite. De manhã, Jornalismo na Metodista, à tarde trabalhava no Banco Econômico e, no fim do dia, USP, na faculdade de Economia. Finais de semana, ainda dava aulas de inglês no CNA.

Graças ao discurso de um professor da Metodista, que alertava para o futuro dos jornalistas como um bando de desempregados, ela graduou em dois mundos: o da paixão por escrever e o da curiosidade, inspirada pelo tio Davilson, economista, para manter-se na vida.

Quando a paixão falou mais alto, Débora já tinha três anos na área de Câmbio e deixou a proposta de gerente para tornar-se estagiária de Comunicação, na Eletropaulo. Pouco depois, tornou-se assessora da IBM, onde descobriu o amor pela tecnologia. Aprendeu muito na S2 Publicom (atual Weber) e realizou o sonho, no início do milênio, quando foi contratada como repórter pela Abril, na INFO.

Bastou um semestre para ela tornar-se a redatora-chefe. Como assim, ser chefe de quem eu tanto admiro no Jornalismo?, perguntou Débora a Sandra Carvalho, que lhe explicou que reconhecia nela, a qualidade de gerir pessoas e recursos.

Sua ascensão continuou na Editora Globo, com destaque para o editorial de David Cohen sobre a cultura pali pali da Coréia, na Época Negócios, que lhe rendeu o Citi Journalist Excellence Award, com um curso na Columbia University.

“Jornalista transforma uma página em branco e pode fazer o que quiser com sua alma investigativa”, repete Débora. Junto com força pali pali que ela traz na veia não há dúvida. Prova disso é a experiência de seis meses que propôs ao fundador da Technisys para ela cuidar não só da comunicação, mas também daquilo que era seu alvo: o marketing. E até hoje passa o dia falando três idiomas dentro da organização.



Pesquisa da USP expõe problemas no trabalho de comunicadores na pandemia

Roseli Figaro

Por Jamir Kinoshita, especial para o J&Cia

Criado em 2003, o Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CPCT/ECA-USP) já realizou estudos sobre o mundo do trabalho dos jornalistas. Além de concluir a segunda fase da investigação sobre as condições de produção da mídia alternativa, o grupo se debruça na análise final da investigação Como trabalham os comunicadores na pandemia da Covid-19? Credenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o CPCT é coordenado pela jornalista e professora Roseli Figaro, que também está à frente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da ECA-USP. Diretora de Relações Internacionais da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), ela antecipa, com exclusividade ao J&Cia, alguns dos resultados dessa última pesquisa, entre eles o aumento da carga de trabalho e o medo do contágio, evidenciando ainda mais a precarização crescente da atividade.

Jornalistas&Cia – Como surgiu a ideia dessa pesquisa com comunicadores?

Roseli Figaro – Tínhamos alguns relatos, principalmente de jornalistas que estavam na cobertura da pandemia, de que o ritmo de trabalho havia se alterado bastante. Decidimos, então, verificar a influência da Covid-19 no trabalho dos comunicadores em geral, buscando ver as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais nesse período.

J&Cia – De que maneira vocês realizaram o estudo?

Roseli – Elaboramos um formulário online, que encaminhamos às mídias tradicional e alternativa, associações, sindicatos, órgãos públicos, agências de comunicação e publicidade e profissionais da área. Várias entidades, como Abraji, Fenaj, Abracom, ABI, Conrerp 2ª Região e o próprio J&Cia, ajudaram na divulgação. O questionário ficou disponível para preenchimento entre 5 e 30 de abril. Tivemos mais de 550 respostas do País todo, incluindo uma de Portugal. Começamos a pesquisa passados 11 dias do primeiro período de distanciamento social decretado no Estado de São Paulo. Na ocasião, havia 11.281 casos confirmados e 487 mortes no Brasil. No quinto dia do estudo, o número já havia subido para 18.176 casos e 957 óbitos.

J&Cia – Que resultados vocês obtiveram?

Roseli – Estamos em fase final de análise, mas já é muito evidente o aumento da jornada e do volume de trabalho, que tornou bem mais estressante a rotina por ter de conciliá-la com os cuidados com a casa e os filhos. A isso se soma a sensação de cansaço sentida diariamente por esses trabalhadores, que ainda têm de usar, na maioria das vezes, seus próprios instrumentos para trabalhar, como computador, celular e conexão à internet. Um dado concreto é que 70% dos profissionais reclamaram que o ritmo de trabalho está bem mais intenso, tanto no sistema home office quanto para quem se manteve em atividade externa. Além disso, as rotinas de produção sofreram muito com o distanciamento social, pois o contato com as fontes de informação, empresas e clientes está limitado, o que exige mais atenção e rigor na organização do trabalho.

J&Cia – Os profissionais apontaram algum temor relacionado às suas atividades?

Roseli – Sim. Sem sombra de dúvida, o grande medo é ser contagiado e ficar desempregado. Convém destacar que as condições emocionais dos comunicadores estão bastante abaladas. As palavras morte, contágio e colapso do sistema de saúde são as mais usadas pelos respondentes para relatar com estão se sentindo frente à Covid-19.

J&Cia – O que o CPCT pretende fazer assim que finalizar a análise?

Roseli – Vamos publicar os resultados obtidos em nosso site e também produzir um e-book. A ideia é divulgar a pesquisa em congressos científicos e participar, como inclusive já temos feito, de debates com sindicatos e entidades científicas e de classe. Como as respostas são muito significativas, especialmente os relatos dos profissionais, temos um material riquíssimo que nos permite pensar em outras análises. Mas, para além disso, esperamos que o estudo possa colaborar, de alguma forma, em pensar alternativas que assegurem condições minimamente seguras tanto em relação à saúde dos profissionais quanto ao futuro da profissão a partir dos desdobramentos da Covid-19. Afinal, o fato é que a pandemia expôs ainda mais a situação de precarização que já estava presente no cotidiano dos comunicadores, em especial os jornalistas, que não têm garantia alguma de benefícios, atuando como freelances, autônomos ou mesmo por trabalho vinculado à duração de projetos específicos.


Jamir Kinoshita

Jamir Kinoshita (kinoshita.jamir@gmail.com) é doutorando em Ciências da Comunicação na ECA-USP e consultor independente de comunicação

Homem invade sede da Globo no RJ e faz repórter refém

Um homem invadiu a sede da TV Globo nesta quarta-feira (10/6) e manteve a repórter Marina Araújo como refém. Ele estava armado com um facão. Os funcionários da emissora ficaram isolados no andar do programa GloboNews. A informação é do portal Metrópoles.

O homem segurou Marina e apontou a faca para o pescoço dela, enquanto beijava a cabeça da repórter. A polícia foi acionada e tentou negociar com o suspeito.

Segundo a fonte ouvida pelo Metrópoles, o homem gritava “globo lixo” e procurava a apresentadora do Jornal Nacional Renata Vasconcellos, com quem queria conversar. Vale lembrar que hoje (10/6) é aniversário dela.

Ao tomar conhecimento do episódio, Renata apareceu e o homem soltou a arma. Ele foi preso e a situação foi controlada.

Em nota, a Globo escreveu que “repudia com veemência todo tipo de violência. Foi obra de alguém com distúrbios mentais, sem nenhuma conotação política. Um homem que exigia ver a jornalista Renata Vasconcellos. Seguindo instruções do comandante Heitor, Renata compareceu ao local onde estavam Marina e o invasor. Tão logo ele a viu, largou a faca e libertou Marina. Foi preso imediatamente. A TV Globo agradece à PM, ao coronel Heitor e a todos os policiais, cuja condução foi exemplar. Marina se comportou com coragem, serenidade e firmeza, sendo fundamental para o desfecho da situação. Renata foi corajosa, desprendida, solidária e absolutamente imprescindível para que tudo acabasse bem. As duas profissionais estão bem. E foram recebidas pelos colegas com carinho e emoção”.

Grupo global de médicos afirma que desinformação contribui para aumento no número de mortes por coronavírus

Um grupo global de médicos assina uma campanha da Avaaz que alerta sobre os perigos das fake news para a pandemia de Covid-19. Segundo o texto, a desinformação contribui diretamente para o aumento no número de óbitos por coronavírus. O grupo apresentou evidências a parlamentares britânicos de como as notícias falsas sobre a doença afetam os infectados.

A campanha tem a assinatura de cerca de dois mil profissionais de saúde, que pedem aos veículos de mídia que “corrijam o registro de informações erradas sobre saúde (…), alertando e notificando todas as pessoas que viram ou interagiram com informações errôneas em suas plataformas e compartilhando correção bem projetada e verificada de fato de forma independente”.

Meenakshi Bewtra, professora assistente de medicina e epidemiologia da Universidade da Pensilvânia, declarou que as fake news sobre o coronavírus causam um aumento em “práticas imprecisas e perigosas, bem como uma reação contra a ciência válida e os cientistas que defendem os fatos”.

Segundo Duncan Maru, epidemiologista e médico do Instituto Arnhold de Saúde Global, alguns governos demoraram a agir de forma eficaz pois acreditaram em notícias falsas e/ou não comprovadas. Ele destaca também o aumento no uso de “remédios caseiros”, cuja eficácia não é comprovada, e que foram disseminados justamente por causa das fake news: “Como resultado, vi pacientes tarde demais para os cuidados de que precisam para sobreviver”.

Com informações da ANJ.

Um ano de Vaza Jato

Crédito: The Intercept Brasil

Um ano atrás o Intercept Brasil dava início à Operação Vaza Jato, com a revelação de mensagens no aplicativo Telegram trocadas entre o até então juiz Sérgio Moro e procuradores do Ministério Público Federal, que mostravam violações da lei pela Operação Lava Jato.

Em texto publicado nessa terça-feira (9/6), Leandro Demori, editor executivo do TIB, contou os bastidores da operação, desde quando recebeu uma ligação de Gleen Greenwald, que o informou sobre a gravidade das informações que havia recebido. Também no texto, Demori falou sobre as consequências das denúncias.

“A Vaza Jato faz um ano hoje. Foram quase 100 reportagens publicadas – um dos casos jornalísticos mais extensos da história, e isso não é exagero. Parte dos nossos leitores nos pergunta com alguma frequência quais foram os efeitos da série de reportagens. É uma pergunta legítima. Afinal de contas, jornalismo só serve para alguma coisa se tem impacto real na sociedade. Mas, fora a visível e naturalmente midiática soltura do ex-presidente Lula, quais foram os impactos da Vaza Jato?”, questionou.

Leia o texto na íntegra.

Mídia vs. redes sociais: pau que bate em Chico não bate em Francisco?

Icke (dir.) na entrevista ao programa London Real

Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia

Luciana Gurgel

Os riscos à saúde pública advindos das fake news relacionadas à pandemia têm elevado as pressões sobre as redes sociais, acusadas de não as coibir com a severidade necessária. Na semana passada, representantes das principais plataformas foram chamadas ao Parlamento britânico para responder sobre suas providências, em uma audiência do comitê que investiga desinformação e conteúdo perigoso.

Mas até a mídia tradicional tem sido questionada no Reino Unido por suas práticas, sobretudo ao abordar uma das mais populares notícias falsas sobre a Covid-19 a circular pelo país: a de que a radiação emitida pelas torres de telefonia 5G reduziria a imunidade e aceleraria o contágio. O boato cresceu a ponto de levar à destruição de mais de 50 torres por vândalos.

Um dos episódios mais emblemáticos a esse respeito envolveu a London Live. Ela foi alvo de um processo no órgão regulador das TVs, o Ofcom, em consequência de uma polêmica entrevista com David Icke, célebre criador de teorias conspiratórias que virou um dos principais porta-vozes dos ataques à 5G.

A emissora faz parte do grupo que é dono do popular jornal Evening Standard e também do Independent. No dia 8 de abril, dedicou 80 minutos no programa London Real a uma conversa com Icke, comunicador hábil que já foi jornalista esportivo da BBC, dando a ele um palanque para discorrer sobre os supostos riscos da 5G.

Duas semanas depois o Ofcom anunciou sanção ao canal com base no Broadcasting Code, documento que normatiza a atuação das emissoras. Mas esta semana publicou o veredito final. Decidiu não aplicar multa,  já que a London Live desculpou-se e veiculou com destaque um sumário do relatório do órgão.

Mesmo sem punição grave, o caso coloca em pauta um tema complexo: é legítimo abrir espaço para um entrevistado dar a sua opinião, mesmo sabendo-se que é inconsistente? Ou cabe ao veículo − sobretudo no caso do coronavírus − filtrar os convidados e não colocar no ar pessoas que expressem visões desprovidas de comprovação científica que possam levar o público a atos de risco?

O entendimento do Ofcom exposto no relatório foi de que o canal tinha o direito de exibir uma visão controversa, sob a ótica da liberdade de expressão. Mas pecou ao não contextualizar nem confrontar o entrevistado o suficiente durante a conversa.

Como não há evidências científicas de que a telefonia 5G tenha relação com o coronavírus, teria sido fácil dar ao público um contraponto, em vez de deixar o entrevistado falar livremente sem muita contestação.

A história da 5G também valeu reprimenda à ITV. O Ofcom julgou “ambíguo” o comentário de um apresentador do programa This Morning, capaz de levar o público a conclusões equivocadas. Sobrou ainda para um canal religioso, o Loveworld, punido por abordar a questão de forma considerada inadequada.

É interessante lembrar que o Ofcom também regula a telefonia no país. Por isso, está mais atento ao que se refere à 5G. E os ataques às torres tornaram essa teoria perigosa não apenas para a saúde. Técnicos foram agredidos por manifestantes. E há os danos materiais.

Redes sociais sem controle − Ainda que as decisões do Ofcom tenham repercutido fortemente nos meios jornalísticos, não há comparação entre os pecados da mídia tradicional e a montanha de loucuras encontradas nas redes sociais.

Durante a audiência da semana passada, a respeitada parlamentar Yvette Cooper questionou duramente a representante do YouTube. Ela usou como exemplo justamente o conteúdo sobre David Icke e suas teorias, ainda disponível na plataforma, embora o canal dele tenha sido removido.

Paradoxos assim, em que emissoras são repreendidas enquanto nas redes sociais fake news continuam no ar,  fortalecem os argumentos dos que defendem no Reino Unido controles sobre as plataformas digitais semelhantes aos que valem para a mídia tradicional. Não se sabe ainda como vai ser, mas não deve errar quem aposta em algum tipo de controle vindo por aí.

Projeto Comprova chega à terceira fase e a 28 veículos participantes

Ação colaborativa de combate à desinformação e a conteúdos enganosos na internet passa a contar com veículos de todas as regiões do Brasil

Começa nesta quarta-feira (10/6) a terceira fase das operações de combate à desinformação e a conteúdos enganosos na internet do Projeto Comprova. A nova etapa tem início após um expediente especial de 75 dias dedicado exclusivamente à verificação de conteúdos suspeitos sobre o novo coronavírus e a Covid-19.

A coalizão, coordenada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), conta com os apoios do Facebook e da Google News Initiative. A principal novidade desta edição é a ampliação no número de organizações de mídia que participam do projeto. Com as chegadas de Gazeta do Sul (RS), Correio do Estado (MS), Correio de Carajás (PA), Diário do Nordeste (CE), Estado de Minas (MG) e O Popular (GO), a iniciativa passa a contar com representantes em todas as regiões do Brasil. Eles se juntam a A Gazeta, AFP, BandNews, Band TV, Band.com.br, Canal Futura, Correio (Bahia), Correio do Povo, Exame, Folha de S.Paulo, GaúchaZH, Jornal do Commercio, Metro Brasil, Nexo Jornal, NSC Comunicação, O Estado de S. Paulo, O Povo, Poder360, Rádio BandNews FM, Rádio Bandeirantes, revista piauí, SBT e UOL.

Marcelo Träsel, presidente da Abraji

“O ingresso de novos integrantes no Comprova reforça o espírito colaborativo do projeto, um esforço de cooperação entre redações inédito na história do jornalismo brasileiro”, destaca Marcelo Träsel, presidente da Abraji. “No atual contexto de guerrilha política baseada em desinformação e retrocessos na transparência, é fundamental contar com parceiros em todo o Brasil para verificar conteúdo sobre políticas públicas e eleições municipais”.

Nesta terceira fase, o Comprova vai retomar o monitoramento e a verificação de conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições municipais, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia da Covid-19. As equipes checarão textos, imagens e áudios compartilhados nas diversas plataformas de redes sociais e em aplicativos de mensagens seguindo metodologias desenvolvidas pela First Draft, organização internacional que pesquisa desinformação e oferece treinamento para jornalistas que atuam no combate ao fenômeno.

Claire Wardle, diretora e cofundadora da First Draft

“Estamos muito entusiasmados ao ver a continuidade do Comprova”, comemora Claire Wardle, diretora e cofundadora da First Draft. “Houve muitas iniciativas colaborativas de verificação de informações falsas relacionadas a eleições, mas o Comprova foi o primeiro a mostrar que as informações enganosas online não cessam com o fechamento das urnas e que projetos mais perenes são necessários. O Comprova confirma também por que os jornalistas, neste momento da história, precisam fazer o máximo possível para ajudar o público a navegar no poluído ambiente da informação”.

O material produzido poderá ser republicado também por organizações que não façam parte da coalizão, já que os conteúdos têm licença Creative Commons, ou seja, podem ser republicados por qualquer veículo interessado, desde que haja atribuição ao Comprova e o conteúdo não seja alterado.

O objetivo é engajar cidadãos no combate à desinformação e limitar a circulação de boatos infundados sobre políticas públicas e de teor eleitoral em redes sociais e aplicativos de mensagens. A coalizão do Comprova verifica conteúdos suspeitos que se tornaram virais ou que tenham grande potencial de disseminar informações enganosas ou falsas. O público pode denunciar conteúdos suspeitos ou falsos relacionados aos temas que estão no escopo do projeto e sugerir verificações por meio de um número de WhatsApp (11-977-950-022) ou por um formulário disponível no projetocomprova.com.br.

No Senado, jornalistas perseguidos por ditaduras condenam ataques à imprensa

Evento celebrou o Dia da Liberdade de Imprensa no Brasil e contou com a presença de jornalistas perseguidos por denunciar ilegalidades dos regimes chinês, venezuelano e turco

Por Deco Bancillon

O Senado Federal convidou jornalistas estrangeiros, perseguidos e exilados por ditaduras para debater os riscos de ameaça à democracia quando um país não possui uma imprensa livre. O evento, que celebrou o Dia da Liberdade de Imprensa no Brasil, ocorre em um momento em que veículos de imprensa têm sofrido ataques constantes por parte de grupos da sociedade que pedem a volta de regimes totalitários no país. O evento foi organizado pelo Interlegis, do Senado, e teve a mediação do editor de Política do Metrópoles, Guilherme Waltenberg.

Can Dündar, um jornalista que precisou se exilar na Alemanha após denunciar planos do governo turco para armar milícias na Síria, classificou a volta de regimes antidemocráticos como “uma doença que se alastra pelo mundo”. Ele avalia que a luta pela democracia, pelo estado democrático de direito e pelo respeito aos direitos individuais são bandeiras deveriam unir a todos que desejam um país livre. “Fui punido por revelar segredos de Estado. O público tinha o direito de saber o que o governo turco fazia e eu reportei, e por isso fui preso imediatamente”, relembra.

Assim como Dündar, o jornalista chinês Chang Ping também se exilou na Alemanha. Escritor premiado com o Human Rights Press Awards, de Hong Kong (2014), e com o International Press Freedom Award, do Canada (2016), ele relatou como enfrentou censura e ataques dirigidos a ele, familiares e outros dissidentes políticos após publicar notícias que desagradavam o regime comunista chinês. “A censura usada pelo governo da China é sistêmica e vai além das restrições que vemos. Isso vale para todos os aspectos da vida diária do país. Até uma criança no jardim da infância sabe que não tem o direito de se opor ao partido. Eles dizem que a censura faz com que o país seja mais forte, pintam a censura como algo bom para o povo”, comenta.

Chang Ping: “A censura usada pelo governo da China é sistêmica e vai além das restrições que vemos”

Controle

O advogado e ativista pró-democracia Wilson Leung relatou que a situação da imprensa de Hong Kong – território autônomo chinês – não é muito diferente do que om colega chinês vivenciou na parte continental do país. Leung mencionou o controle do governo sobre o que é veiculado na mídia, que tem sido sistematicamente comprada por empresários aliados e pelo próprio governo. “No momento, Hong Kong tem um único jornal de oposição, que sofre para se manter ativo, pois não consegue adquirir patrocínio de grandes companhias, pressionadas a não apoiarem veículos críticos ao governo. Seu dono já foi preso e teve a casa atacada diversas vezes.”

Wilson Leung: “No momento, Hong Kong tem um único jornal de oposição, que sofre para se manter ativo. Seu dono já foi preso e teve a casa atacada diversas vezes”

O advogado também mencionou a restrição ao acesso e entrada de jornalistas e o severo tratamento aos que trabalham em Hong Kong, com ataques físicos, sequestros e censura às pessoas que se posicionam com informações desfavoráveis ao governo usando a violência policial. “A China usa todas as ferramentas que tem para suprimir o que as pessoas de fora podem dizer. O mundo precisa acordar para esse fato e criar uma estratégia para lidar com isso.”

De acordo com Leung, o governo chinês tem lei de segurança que vai contra os direitos humanos, agindo contra a imprensa dentro e fora do território nacional e boicotando manifestações de oposição. Quem participa de uma manifestação assim perde o emprego, entre outras sanções.

América do Sul

O segundo painel do webinar reuniu três jornalistas da América do Sul: dois da Venezuela e um argentino. Luz Mely Reyes, co-fundadora do jornal independente venezuelano Efecto Cocuyo, contou o dia-a-dia dos repórteres que continuam no país. “Apesar da fome, da falta de combustível para trabalhar e dos blackouts de energia, nós persistimos, insistimos e resistimos porque a vacina contra esses ataques é um jornalismo cada vez maior e melhor.”

Luz Mely contou casos de jornalistas apresentados à justiça como criminosos comuns. O efeito colateral mais danoso da guerra entre governo e mídia, para ela, é o comprometimento da verdade e do direito de ser informado. Ela explicou como o discurso contra os jornalistas começou no início do governo de Hugo Chávez, que já qualificava a imprensa como sua inimiga e inimiga do projeto que ele defendia

“Quando existe uma polarização política, a primeira vítima é a informação. O que importa não é o fato, mas a versão que se conta dele. Tudo se resume em “estar comigo ou estar contra mim”.

Modelo

A venezuelana lamentou que a tentativa de exterminar a imprensa como quarto poder esteja disseminada em outros países latino americanos. “Infelizmente, não é um problema isolado da Venezuela. É praticamente um modelo que se repete no México, Nicarágua, Honduras e Brasil – países em que os jornalistas estão sob ataque. Hoje nós estamos assistindo como governos que se dizem democráticos perseguem e aprisionam jornalistas, bloqueiam os sinais digitais e fazem com que crimes sigam impunes.”

Conterrâneo de Luz Mely, o jornalista venezuelano Ewald Scharfenberg, coeditor do site de jornalismo investigativo Armando.info, trouxe reflexões sobre a polarização política historicamente vivida na Venezuela. Ele ponderou sobre o regime vivido no país hoje e sua relação com as notícias falsas. Ewald lembrou o valor primordial do jornalismo: o de levar informação verdadeira e objetiva para a sociedade.

“Temos de trabalhar de modo colaborativo mesmo diante de um cenário polarizado politicamente. O nosso regime veio difundir a história que foi documentada, que está fundamentada em fatos e que iguala todas as menções que estão circulando nos meios de comunicação”, avaliou, citando a filósofa alemã Hannah Arendt: “Liberdade de opinião é uma farsa quando não se aceitam os fatos”.

Desafios

O argentino Jorge Lanata, fundador do Página 12, jornal que foi alvo de atentados a bomba antes da venda para o Clarín, destacou os desafios da imprensa para que a democracia possa ser exercida. Segundo ele, deve haver uma luta para alinha a liberdade e a justiça, ressaltando que a imprensa e a democracia não são separadas, as duas precisam caminhar juntas para existir. O jornalista argentino também destacou a importância do jornalismo verdadeiro, o que questiona e incomoda. “O verdadeiro jornalista sempre vai incomodar, sempre vai estar em uma tensão com o poder.”

Censura

Ao abrir o evento, o senador e jornalista Lasier Martins (Podemos-RS) relembrou a censura instalada pelo regime militar no Brasil. “Felizmente, vivemos hoje no Brasil tempos democráticos, e a democracia se sustenta sobre o alicerce da liberdade de pensamento, de criação, de expressão e de informação.”

O diretor executivo do Interlegis, o cientista político Márcio Coimbra, avaliou a importância de política e liberdade de expressão andarem juntas no cenário mundial, pois representam a base fundamental da democracia. “O mundo vive um período delicado no que tange a liberdade de informar. O advento das redes sociais e o advento das noticiais falsas tem mexido de forma profunda com o jornalismo e a política. Este é um binômio do qual não podemos nos afastar, uma vez que a política e a liberdade de expressão caminham lado a lado na construção e no fortalecimento de sistemas democráticos.”

Sigilo

O mediador dos painéis sobre liberdade de imprensa foi o editor de política do site Metrópoles, Guilherme Waltenberg. Ele destacou que a democracia precisa de uma imprensa forte para sobreviver e deu exemplo da liberdade de imprensa dos Estados Unidos. “Na democracia mais próspera que se tem notícia em toda a história da humanidade, a liberdade de informar é uma das razões pelas quais aquela sociedade conseguiu se tornar o que é.”

Ele comparou a liberdade da imprensa americana com a do Brasil, onde, apesar de haver uma série de leis que garantem o livre exercício da profissão – inclusive o sigilo da fonte –, a cultura social ainda é bastante arredia à liberdade do jornalismo. “Hoje em dia, quando são publicadas matérias que não são do gosto do atual governo e dos seus apoiadores, a imprensa é chamada de ‘extrema’, como se a imprensa fosse uma força que pudesse desestabilizar governos com muita facilidade ou como se houvesse uma homogeneidade entre todos os jornais, o que não existe.”

O debate do Interlegis foi feito em parceria com o Repórteres Sem Fronteiras – RSF, Global Investigative Journalism Network – GIJN, e com apoio do Instituto Mundial para as Relações Internacionais – IR.wi.

No início do evento, a presidente do Instituto IR.wi, Carolina Valente, falou sobre a liberdade de imprensa e ressaltou que, além do Brasil, essa é uma pauta mundial. “O nosso país está vivento um momento de debates intensos por conta das fake news.”

Projeto News a Live mistura notícias e humor

O jornalista Diego Capela, o publicitário Guilherme Kos, o ator Totonho Lisboa e a comediante Eva Mansk são os responsáveis pelo projeto News a Live, atração virtual que junta jornalismo e piadas. O programa funciona como um telejornal, em que o âncora aciona comentaristas e repórteres para falar sobre os destaques da semana em diversas editorias, com piadas baseadas em fatos reais.

O News a Live vai ao ar toda segunda-feira, às 21h, no Instagram. A edição de 8/6 contou com a participação do comediante Nil Agra.

Diego Capela explica que “a participação dos espectadores e a espontaneidade de todos criam uma atmosfera diferente para o programa, o que torna tudo ainda mais engraçado. A única regra é ter sempre um fato real como gancho para as piadas”.

Com informações do Coletiva.net.

Fotógrafa Gabriela Biló tem dados pessoais expostos

Crédito: Reprodução / Instagram

A repórter fotográfica Gabriela Biló (O Estado de S. Paulo) foi vítima de vazamento de dados pessoais na internet, conhecido como doxxing. Um perfil bolsonarista no Twitter expôs informações como números de RG e CPF, além de endereço e telefone da fotógrafa. O ataque foi semelhante ao que foi feito para atingir Vera Magalhães (TV Cultura), em fevereiro.

Além dos dados, o perfil divulgou vídeos editados que distorcem falas da repórter e que omitem o contexto e diversas ofensas dirigidas a ela. Na ocasião, Gabriela estava em frente à casa da ativista Sara Fernanda Giromini, a Sara Winter, e a edição dos vídeos dá a entender que a repórter ameaçou a ativista, o que não ocorreu.

Foi a própria repórter que divulgou no Twitter que a Polícia Federal estava na residência de Sara Winter, intimada a depor no inquérito das fake news. Desde então, Gabriela vem sofrendo ataques nas redes sociais.

Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) declarou que “se solidariza com a fotógrafa Gabriela Biló e faz um apelo às autoridades e às plataformas das redes sociais para que monitorem e punam as milícias virtuais que querem impor o ódio à nação, usando como arma a intimidação aos jornalistas − especialmente às mulheres, quase sempre enquadradas em discursos estigmatizantes e preconceituosos”.

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