Especial Jornalismo nas veias: Começou com advertência ao presidente Bush…
Vicente Alessi, filho, integrante do Conselho Editorial da AutoData Editora, e o filho, Gil Alessi
O drama shakespeariano, aquele do príncipe dinamarquês, acompanhou Gil Alessi até o ponto de não retorno: foi obrigado a ser jornalista por falta de alternativa. Pois ele fugiu da profissão como lhe foi possível até descobrir, enfim, que não havia mais pra onde correr, onde se esconder. E aceitou que seu destino era juntar-se a nós.
Ele se juntou a uma galeria de crianças grandes editada em forma de livro pela Attachée de Presse, de Daysi Bregantini, quando comemorou seus 20 anos, em 2001, uma edição com jornalistas e seus filhos, também jornalistas. Naquela edição, a maior parte dos pais era constituída de amigas e amigos meus, queridos: a minha chefe Cecília Zioni, Joelmir Beting, meus chefes Nair Suzuki e Pedrinho Cafardo, Helinho Campos Mello, Ricardinho Kotscho e Ricardo Setti, Tão Gomes Pinto… fiquei enternecido com aquele trabalho da Attachée e hoje sugiro que a edição seja aumentada e revista, com Gil, claro, com Carlos, de Samuel Iavelberg, com dois filhotes de Luiz Henrique Fruet, os dois meninos de Aloysio Biondi…
Decisão sábia, afinal, a de Gil. Ele se tornou um muito bom profissional, daqueles para quem Eduardo Martins teria uma palavra de apoio, e sabe, sempre, qual o seu lado. Melhor: não tem dúvida a respeito de qual seja o seu lado.
Claro que acompanhei de perto sua vida profissional, desde a incipiente assessoria ao Instituto Sou da Paz àqueles frilas para revistas editadas por Marianinha Bergel até tempos mais próximos, amadurecendo, em que a forma começou a dispor de tanta importância quanto o conteúdo. Passar quase sete anos no El País Brasil pelas mãos de Carla Jimenez – que conheci quando tinha 20 anos, junto com outro amigo querido, Serginho Ayarroio –, e na companhia de uma rapaziada excelente, foi fundamental para que percebesse o valor e a importância das tarefas que nos caem nas mãos.
Ele diz, hoje, que pretendia uma profissão “mais prática e menos acadêmica”, e acredita que suas alternativas lamentavelmente o carregariam para a universidade, para a didática e para a pesquisa.
Ôuquei. Mas sempre soube, desde que o rebento tinha, lá, seus 10, 12 anos, que muitas características para o jornalismo já estavam concentradas ali, na figura adorável e ainda gorduchinha de Gil.
Desde o primeiro grau, cumprido no Colégio Caravelas até a 8ª série, e depois no Colégio Equipe, ele mostrou estar próximo das letras, apesar de a sua própria ser uma barafunda. O menino era curioso, muito curioso, desde pequeno. Os como, por que e de que jeito dele costuravam a farra dos almoços familiares de fim de semana. Ouvia minhas histórias de olhos muito abertos, o que hoje não acontece. Leituras eram forma de vida corrente para ele e sua irmã, Helena, quatro anos e meio mais velha, nascida em 1978, testemunha próxima dessa história de aceitação, ao lado da mãe, Maria.
Quando a nação do império invadiu o Iraque na Guerra do Golfo, Gil perpetrou redação escolar à luz de suas impressões a respeito da guerra noturna que nunca ninguém vira de maneira massiva. O título era Advertência ao Presidente Bush. Ele dizia que o império não tinha direito à invasão.
Havia uma promessa ali − e é razoável a ideia, então, que repito de vez em quando para plateia cada vez menor – de que Gil deveria ter optado rapidamente pelo jornalismo para não perder tempo. Mas… claro que não. Escolheu ciências sociais e, pra não correr a tentação de puxar fumo o dia inteiro, foi obrigado a escolher uma segunda especialidade que lhe ocupasse o tempo vago, relações internacionais. A primeira ele fez seriamente e a segunda abandonou no primeiro instante possível – mas manteve sua vaga na PUC, o que foi muito importante ao fim dos quatro anos de USP, em 2010: voltou à escola, mudou de curso e investiu no jornalismo.
Acho que para Gil foi um golpe, que ele assimilou como aquele tal de cabrito bom que não berra. Eu fiquei animadíssimo com as perspectivas a bordo da minha certeza de que o caminho era aquele, sim.
Foram mais quatro anos de escola e fiquei muito pimpão quando ele apresentou seu TCC, que deixou feliz o orientador Luiz Carlos Ramos, querido amigo do Estadão, em banca da qual participaram o também amigo do Folhão Serginho Pinto de Almeida e o também professor Hamílton Octávio de Souza, outro velho amigo do Estadão e de lutas sindicais. Foi uma festa bonita, essa do TCC.
Mas aí tínhamos o dia seguinte. Gil já trabalhava, na produção de A Liga, tarefa que certamente lhe deu grande capacidade de resolver encrencas e de entender um pouquinho melhor a alma humana, que, junto a algum talento, são os segredos de qualquer profissão.
O desafio no Repórter Brasil, agora, o coloca numa experiência bem distante daquela do ser ou não ser. É um profissional maduro o que chega lá, que aceita e, espero, divirta-se muito, com sua escolha tardia: ser jornalista.
Repórteres Sem Fronteiras cria fundo de apoio a jornalistas exilados
A Repórteres Sem Fronteiras, em parceria com as fundações Rudolf Augstein e Schöpflin, está lançando o JX Fund, fundo de apoio destinado a jornalistas exilados, forçados a deixarem seus países em decorrência de guerras ou crises. O projeto fornecerá aconselhamento e assistência para desenvolver modelos sustentáveis de negócios fora de seus países.
Entre os primeiros profissionais beneficiados pelo fundo estão jornalistas do Novaya Gazeta, jornal investigativo russo especializado na cobertura de temas políticos e sociais, e outros dois veículos do país. Em um primeiro momento, a ideia era que o fundo ajudasse apenas os jornalistas russos, devido à pressão do Kremlin após o início da guerra na Ucrânia. Agora, o projeto também ajudará jornalistas de outras partes do mundo. A ideia é arrecadar um total de três milhões de euros. Até o momento, o fundo está com 1,5 milhão.
Para Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, “é essencial garantir o futuro do jornalismo em nossos respectivos países, e também nos quatro cantos do mundo. Se o jornalismo russo, por exemplo, morresse, seria uma verdadeira catástrofe para o povo russo, mas também para os países europeus, para suas instituições e suas sociedades democráticas. É essencial continuar investigando e publicando relatórios sobre o regime e a sociedade russos se quisermos preservar a paz e a democracia futuras no país, mesmo que esse trabalho deva ser realizado do exterior, se necessário. É por esta razão que criamos, com os nossos parceiros, este fundo europeu para esclarecer as zonas cinzentas”.
Além do fundo, a RSF vem atendendo, por meio de seu Centro de Liberdade de Imprensa em Lviv, na Ucrânia, às necessidades dos jornalistas que estão cobrindo a guerra. A entidade distribui capacetes, coletes à prova de balas, manuais de segurança, além de apoio psicológico e assistência financeira e jurídica.
Rodolfo Schneider é o novo diretor nacional de Conteúdo da Band
Rodolfo Schneider, até então diretor executivo de Jornalismo e Esportes da Bandeirantes, foi promovido e assumiu a Direção Nacional de Conteúdo da emissora, sendo responsável por todas as áreas de produção do Grupo Bandeirantes.
Na empresa há 18 anos, Schneider começou como estagiário de jornalismo no Rio de Janeiro, em 2004. Em comunicado à imprensa, a Band informou que, na nova função, ele responderá pelas áreas de Jornalismo, Esporte e Entretenimento, Produção e Operações de Rádio e Televisão do Grupo.
Outra novidade na Band é a contratação de Luis Erlanger, que será responsável pela consultoria de novos produtos e projetos para a filial do canal no Rio de Janeiro. Erlanger foi diretor editorial da Central Globo de Jornalismo, diretor da Central Globo de Comunicação e diretor da Central Globo de Análise e Controle de Qualidade.
Em São Paulo, Cris Moreira, até então diretor Comercial Nacional, assume o cargo de diretor-geral. E o empresário e CEO da Eletromidia Daniel Simões é o novo Diretor Nacional de Mercado.
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Especial Jornalismo nas veias: Tiago Maranhão, meu filho
Carlos Maranhão, ex-diretor de Redação das Vejinhas, e o filho, Tiago Maranhão
Filho e neto (pelo lado materno) de jornalistas, Tiago tinha uma vocação hereditária. Mas iria seguir o mesmo caminho? Sem nunca ter procurado influenciá-lo diretamente, fiquei em dúvida até o dia em que ele marcou um almoço comigo e sua mãe para falar sobre o próprio futuro. Foi direto ao ponto e disse que iria prestar vestibular para Jornalismo. Perguntei se estava ciente das dificuldades do mercado e de que os salários dos seus pais – eu como diretor de Redação, ela como editora de arte – eram exceções e não a regra na profissão. Ele respondeu que sim para as duas perguntas e erguemos um brinde para lhe desejar boa sorte.
Embora seja complicado elogiar publicamente um filho, passados mais de 20 anos não posso esconder meu orgulho: Tiago tornou-se um jornalista respeitado e bem-sucedido. Não só, inicialmente, no meio impresso e em sites, mas sobretudo na televisão e hoje em dia no meio que desconheço por completo, a inteligência artificial.
Graças ao convite honroso de J&Cia., tive agora a chance de passar tudo isso em revista (sem trocadilho) e de lhe perguntar coisas sobre as quais nunca havíamos conversado com alguma profundidade. Eis aí.
Pai: Por que você resolveu ser jornalista?
Filho: Acho que nunca sequer considerei outra carreira. Para ser completamente honesto, contemplei a ideia de estudar Direito durante um período. Mas senti que o jornalismo era a minha vocação. Nunca encarei em termos de carreira, mas sim com um sentido de missão e realização.
Pai: Que missão?
Filho: Informar com clareza, traduzindo o que é nebuloso, checando o que é suspeito, dando o espaço correto ao que é mais relevante. Dar contexto é fundamental, manter uma perspectiva saudável é essencial. Se puder fazer isso com alguma graça e personalidade, missão cumprida.
Pai: Quando você tomou a decisão de ser jornalista?
Filho: Durante os últimos anos no colégio, já pensando no vestibular, eu alimentava uma visão romântica da profissão, me imaginava em grandes coberturas, com textos de fôlego, sonhava em ser repórter especial de uma grande revista. Acredito que nessa época eu já estava decidido. O curioso é que o jornalismo esportivo não era necessariamente meu plano principal, nem o trabalho em televisão. Foram caminhos que minha carreira tomou, um pouco por decisão minha e oportunidades que persegui, muito por sorte também.
Pai: O que é jornalismo para você?
Filho: Jornalismo é contar histórias que precisam ser contadas. A partir daí, a definição começa a ficar flexível. Talvez essas histórias precisem ser contadas porque estão escondidas e são de interesse público, ou porque são injustiças que precisam ser corrigidas ou talvez apenas porque são histórias divertidas, quem sabe inspiradoras ou simplesmente boas histórias.
Pai: Eu praticamente só trabalhei em revistas – Placar, Playboy, Veja, Veja São Paulo – e vivi quatro décadas na Editora Abril. Você, ao contrário, esteve em quase todas as mídias, passando por Reuters, iG, Exame, Band, Globo e SporTV, antes de ir para a Amazon, onde atualmente cuida do conteúdo da Alexa. Quem de nós tomou as melhores decisões na carreira?
Filho: Queria evitar respostas exageradamente clichês, mas aqui preciso dizer que sua carreira sempre foi minha maior referência profissional. E não porque foi uma carreira de sucesso, com coberturas que um dia eu sonhava fazer, como Copas do Mundo e Jogos Olímpicos, e por dirigir grandes redações, e sim pelo respeito e deferência que sempre falam de você para mim: “O Maranhão tem o melhor texto”, “seu pai faz as melhores entrevistas”, “ninguém apura com tanto rigor”, entre outros elogios que ouço.
Pai: Obrigado, mas fico até constrangido…
Filho: Bem, dito isso, acho que o mercado mudou demais e muito rápido nas últimas décadas, o que talvez explique minha experiência mais, digamos, diversa. O que posso afirmar é que tudo me serviu de aprendizado para o que veio em seguida.
Pai: Quais são para você as principais diferenças entre o que eu fazia e o que você faz no jornalismo?
Filho: Talvez a principal diferença seja o formato. Ou melhor, formatos. Décadas atrás, uma matéria de revista era pensada apenas para as páginas impressas da revista. Depois vieram os formatos para site, celular e tablet. Hoje os formatos são interativos, uma reportagem pode ser um carrossel no Instagram, uma entrevista pode estar no TikTok com uma edição esperta ou no YouTube com links para outros conteúdos. Há também uma diferença na percepção de quem recebe a notícia em relação ao veículo e ao jornalista. Existe um conceito que se forma antes mesmo de se ler a manchete.
Pai: A mais velha das suas três filhas optou por uma área completamente diferente da nossa: a neurociência. As duas menores têm hoje 7 e 2 anos de idade. Gostaria que pelo menos uma delas se tornasse jornalista?
Filho: A Isabel já está a poucos meses de concluir o doutorado em neurociência e acredito que vai seguir nessa carreira. Já Cecília e Clara, as mais novas, se eu fosse apostar, diria que vão adotar profissões que sequer foram inventadas ainda. Algo relacionado a comunicação, quem sabe?
Pai: Onde você imagina que estará daqui a cinco anos? Dez? Vinte?
Filho: Três meses antes de ir para a Amazon, eu sequer cogitava mudar de emprego, muito menos trabalhar com inteligência artificial. Então, gosto de pensar que ainda vou me surpreender algumas vezes com os rumos da minha carreira. A única coisa que sei é que vou sempre trabalhar com as palavras. Como você.
Polícia descarta motivação profissional em ataque contra Gabriel Luiz
O repórter da TV Globo em Brasília Gabriel Luiz, de 28 anos, foi esfaqueado na noite de 14/4 (quinta-feira), em um estacionamento perto de sua casa, no Distrito Federal. Ele foi atingido por diversos golpes no pescoço, abdômen, tórax e na perna, e internado em estado grave, mas estável, no Hospital de Base do DF (HBDF).
Após a captura dos dois suspeitos de terem cometido o crime, a Polícia Civil do Distrito Federal descartou qualquer outra hipótese que não tentativa de latrocínio (homicídio por tentativa de roubo).
José Felipe Leite Tunholi, de 19 anos, foi preso e após audiência de custódia, teve sua prisão convertida em preventiva, sendo transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda por tempo indeterminado. Já o segundo envolvido, um menor de 17 anos, está recolhido no Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), ligado à Subsecretaria de Políticas para Crianças e Adolescentes.
Segundo a polícia, os dois confessaram envolvimento no caso, disseram que decidiram assaltar Gabriel Luiz porque ele estava caminhando sozinho, e afirmaram não conhecer o jornalista.
Gabriel tem se destacado nos últimos anos por suas reportagens investigativas, que apuravam irregularidades nos mais variados setores do poder, e por isso chegou-se a ventilar a hipótese de que o ataque tivesse como motivação algum tipo de retaliação.
Em um de seus últimos trabalhos, por exemplo, o jornalista apurou uma denúncia de balas perdidas em um clube de tiro em Brazlandia, região administrativa do Distrito Federal. Após a reportagem, o Exército interditou o local, alegando risco à segurança das pessoas. O caso, inclusive, foi registrado nas redes sociais do jornalista dois dias antes do ataque.

Formado em Jornalismo na Universidade de Brasília (UnB), Gabriel entrou na Globo como estagiário, em 2014. Em 2017, foi contratado como repórter do G1 DF, portal no qual ficou por dois anos, até 2019, quando migrou para a equipe do DF1, como editor do jornal local da capital.
Segundo os últimos boletins médicos, Gabriel, que passou por quatro cirurgias, está lúcido, estável, consciente e já consegue conversar, mas segue sem previsão de alta.
TV com foco em favelas será lançada com grade diária
A Sou+Favela, empresa que visa integrar o meio empresarial à periferia, anunciou, em parceria com o bloco de empreendedores de impacto social G10 Favelas, o lançamento da +FavelaTV.
Com público-alvo estimado em 2,7 milhões de moradores de favelas em todo o País, a iniciativa busca fortalecer a comunicação entre as marcas e a audiência das comunidades. A +FavelaTV ficará disponível on demand e de forma linear, com grade diária.
Ainda sem data de estreia, a programação, criada na favela e voltada para a favela, terá atrações próprias sobre temas como esporte, empreendedorismo, celebridades, educação infantil e bem-estar.
A +FavelaTV conta com três diretores: Mauricio Alvarenga, egresso do mercado de TV por assinatura e distribuição de conteúdo; Milton Neto, com passagens por Turner International, LG Eletronics e Amazon; e o publicitário Edmundo Gavioli.
Repórter Brasil oferece bolsas para investigação de financiamento de violações socioambientais
A Repórter Brasil está lançando a segunda edição do programa que oferece duas bolsas de R$ 5.500,00 para a produção de reportagens sobre financiamento de atividades econômicas que causam graves impactos socioambientais. As inscrições vão até 29 de abril.
O programa é destinado a jornalistas e estudantes de Jornalismo de todo o Brasil interessados em investigar mais a fundo o papel de bancos e investidores em atividades econômicas que geram violações socioambientais. As pautas propostas devem obrigatoriamente utilizar informações do banco de dados da Florestas e Finanças, coalizão internacional da qual a Repórter Brasil faz parte.
Além disso, os interessados devem participar da live de apresentação da Florestas e Finanças e de lançamento do concurso de bolsas para reportagens, nesta terça-feira (19/4), das 14h às 15h30, no Instagram da Repórter Brasil.
As pautas inscritas devem conter informações de contato, experiências acadêmicas e profissionais, links para reportagens anteriores, uma referência profissional com telefone de contato e a proposta de pauta detalhada, com contexto, abordagem, possíveis fontes, cronograma e plano de trabalho.
Os vencedores serão anunciados em 13 de maio, no site da Repórter Brasil e via e-mail. O processo de produção da reportagem será acompanhado por membros da organização. As reportagens geradas serão publicadas no site da Repórter Brasil e, possivelmente, em outros republicadores.
Confira o regulamento e inscreva-se aqui.
Embate com mineradora Brazil Iron
O programa de bolsas vem após um embate entre a Repórter Brasil e a mineradora Brazil Iron, no final de março. Na ocasião, uma ação policial foi realizada contra os repórteres Daniel Camargos e Fernando Martinho, que foram até a sede da mineradora em Piatã (BA) para ouvir o lado da empresa em reportagem sobre os impactos da mineradora no meio ambiente e nas comunidades locais.
A Brazil Iron teria acusado os jornalistas de invasão da mineradora e acionado a Polícia, solicitando também as gravações da reportagem. Daniel e Fernando teriam prontamente explicado que utilizaram um drone para imagens aéreas dias antes, mas que não haviam invadido a propriedade, como alegado. Sem acordo, os repórteres foram encaminhados para a delegacia e liberados horas depois.
Em nota, a mineradora negou que denunciou os repórteres por invasão e que chamou a polícia após “tomar conhecimento de que a reportagem sobrevoou a área de operação da Mina Mocó com um drone”. Entenda o ocorrido.
Gilmar Mendes cassa decisão que proibia publicação de reportagem da RBS
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), cassou decisões da 18ª Vara da Justiça do Rio Grande do Sul que proibiram a publicação de matéria da RBS TV, assinada por Giovani Grizotti, o Repórter Sem Rosto, sobre supostos atos ilícitos praticados pelo prefeito de Bagé, Divaldo Lara.
Para Gilmar, houve desrespeito ao entendimento do STF que veda a censura prévia à atividade jornalística. O Supremo assentou que não cabe ao Estado definir o conteúdo jornalístico, nem impedir a livre difusão de ideias. No começo do ano, Mendes já havia concedido uma liminar para suspender as decisões. Agora, na análise do mérito, o ministro concluiu que não cabe a um juiz ou colegiado impor censura prévia, “considerando que o livre trânsito de ideias constitui elemento essencial ao desenvolvimento da democracia”.
Para o Grupo RBS, a partir do momento que o Ministério Público apresentou uma denúncia contra Divaldo Lara, a reportagem tornou-se de interesse público e, portanto, o conteúdo deveria ser publicado para informar a comunidade local. A empresa também afirmou que entrou em contato com o prefeito para que ele pudesse se manifestar sobre a acusação do Ministério Público. Mas Lara, além de não apresentar sua versão dos fatos, ajuizou ação para proibir a veiculação da reportagem, aceita pelo juiz de primeiro grau. O prefeito de Bagé, inclusive, revelou a identidade visual de Giovani Grizotti e atacou a honra e o trabalho do jornalista.
Especial Jornalismo nas veias: Todos têm história relevante para contar
(Ancelmo Gois, colunista de O Globo, e o filho, Antonio Gois*)
Ser filho de jornalista me fez guardar com mais intensidade algumas memórias de criança relacionadas a fatos históricos. Por exemplo, tinha apenas dez anos de idade, mas lembro relativamente bem do dia da morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, quando o telefone tocou em casa e meu pai teve que voltar à redação num domingo à noite. Em 1º de janeiro de 1989, estávamos em férias, na primeira viagem internacional da família. A principal preocupação de meu pai, porém, não era nos guiar pelos brinquedos da Disney, mas, sim, achar um telefone público para entrar em contato com a redação do JB e saber como estava a cobertura do naufrágio do Bateau Mouche.
Relatos como esses, tão comuns entre aqueles que têm pais ou mães na profissão, poderiam gerar desencanto com um ofício que interfere tanto em momentos de descanso ou lazer em família. No meu caso, o efeito foi oposto. Apesar de ele nunca me ter sugerido que escolhesse o jornalismo, acabei contaminado pelo seu entusiasmo.
Comecei a trabalhar em 1996, mas sou dos poucos de minha geração que frequentou redações nos tempos das máquinas de escrever. Por vários domingos, ao final dos 1980 e início dos 1990, o programa mais comum era acompanhar meu pai em plantões do Informe JB. As horas eram preenchidas por visitas à Fotografia (o momento mais aguardado era a chegada das primeiras fotos dos jogos de futebol), aos estúdios de rádio e à lanchonete do sétimo andar do edifício da Avenida Brasil, 500.
De tanto frequentar redações, meu pai conta que, certa vez, um colega advertiu-o de que eu acabaria virando jornalista, e melhor seria me levar ao aeroporto para, quem sabe, ser piloto da Varig no futuro. Era tarde demais. Mesmo tendo vivenciado inúmeras crises na profissão, em nada me arrependo. Sem contar que a Varig foi à falência.
Contrário ao discurso saudosista de que não se faz mais bom jornalismo como antigamente, nas inúmeras trocas que tivemos ao longo do tempo sobre a profissão, um dos argumentos que meu pai mais repete, até hoje, é o de que as novas gerações chegam às redações mais bem preparadas. Não apenas sigo concordando, como acrescento que os jovens que hoje se formam nas faculdades de Jornalismo trazem uma vantagem que nem a geração de meu pai, nem a minha, teve: maior diversidade de olhares e trajetórias de vida, fruto do processo – ainda inconcluso – de democratização do acesso ao ensino superior nas duas últimas décadas.
Fazer jornalismo em tempos de desinformação e crise dos meios tradicionais de comunicação traz desafios novos. A curiosidade e a persistência na busca de informações seguem sendo as características mais importantes de um bom jornalista. Mas a elas soma-se também a capacidade de entender mais sobre o assunto que cobre. Isso exige ampliação de repertório, de modo a conhecer a história, as estatísticas e a literatura acadêmica de sua área de especialização. As boas histórias, de preferência exclusivas, seguem sendo o principal atrativo, mas é ainda mais essencial nos dias de hoje a responsabilidade em contextualizá-las devidamente num mundo em que todos têm acesso fácil à informação de baixa qualidade.
No entanto, o conselho profissional mais válido que recebi de meu pai é o de que todos − do porteiro ao presidente, da secretária ao executivo, do faxineiro à juíza – têm uma história relevante para contar, e é importante saber ouvi-la. Pensando bem, é também uma lição de vida.
(*) Antônio Gois é colunista de educação de O Globo e fundador e primeiro presidente da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação). Cobre o tema desde 1996. É autor dos livros Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil, com depoimentos de ex-ministros da Educação desde o governo Figueiredo, e Líderes na Escola: o que fazem bons diretores e diretoras, e como os melhores sistemas educacionais do mundo os selecionam, formam e apoiam. Foi bolsista dos programas Knight Wallace Fellows, na Universidade de Michigan, e da Spencer Education Journalism Fellowship, na Universidade de Columbia. É vencedor dos prêmios Esso, Embratel, Folha, Undime e Andifes, sempre com reportagens sobre educação. Trabalhou nos veículos O Dia, Folha de S.Paulo, O Globo, CBN e Canal Futura.












