* Por Cristina Vaz de Carvalho
Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, morreu neste domingo (24/8). Ele foi internado há três semanas, com pneumonia, no hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. O quadro evoluiu para complicações renais e passou os últimos dias sob cuidados paliativos. Jaguar deixa viúva e a filha Flávia Savary, escritora. O corpo foi cremado na tarde da segunda-feira (25/8) no Memorial do Carmo, na Zona Portuária do Rio.
Carioca, começou a carreira aos 20 anos, desenhando para a revista Manchete em 1952. Adotou o pseudônimo por sugestão do cartunista Borjalo. Na época, Jaguar trabalhava no Banco do Brasil e seu chefe, o cronista Sérgio Porto, convenceu-o a não abandonar o emprego para se dedicar exclusivamente ao humor. Jaguar só deixou o BB em 1971. Consagrou-se como cartunista na revista Senhor. Colaborou ainda com as revistas Civilização Brasileira e Pif-Paf, e os jornais Última Hora e Tribuna da Imprensa.
Aos 37 anos, foi um dos fundadores de O Pasquim e deu nome ao semanário. Jaguar já era então um nome de primeira linha nas artes gráficas. Naqueles anos, revolucionou o humor feito na imprensa, por retratar com acidez – em traço e texto – a sociedade brasileira. E foi o único da equipe original a permanecer até a última edição, 22 anos depois, em 1991. A partir de O Pasquim, ele formou sucessores como Chico e Paulo Caruso no Rio e, em São Paulo, Angeli e Laerte.
Márcio Pinheiro, autor de Rato de redação: Sig e a história do Pasquim, citado no Globo, afirma que “muito da irreverência e da competitividade do semanário se deviam ao cartunista”. Jaguar criou vários personagens, mas poucos como o rato Sig, mascote do jornal, tiveram tanta repercussão. O nome do herói safado, redução de Sigmund Freud, foi inspirado numa piada da época: “Se Deus criou o sexo, Freud criou a sacanagem”. O traço tinha sido originalmente feito por encomenda para um comercial da cerveja Skol, mas sem a mesma conotação.
Jaguar descrevia O Pasquim como o seu ‘auge do sucesso’. Ele disse em entrevista: “Até a censura era um barato. Feita pelo Coronel Juarez, um bonitão, sósia do Gary Cooper. Recebia a gente na garçonnière dele. Pegava o material e riscava a lápis. A gente argumentava. Havia diálogo. O pessoal torcia para chegarem as garotas. Ele apresentava: ‘Esses são meus amigos do famoso Pasquim’. Aí liberava as maiores atrocidades! Ele tinha uma turma de coroas na praia, a gente contratou uma loura espetacular de biquíni. Ela levava o material, e ele censurava na praia! E ela, alisando o velho, dizia: ‘Ah, meu bem, não faz isso, os meninos vão ficar tão tristes…’ Ele ficava orgulhoso e liberava”.
Em 1970, Jaguar ficou preso durante três meses. Em 2008, ele e outros 20 jornalistas que foram perseguidos durante a ditadura militar, tiveram seus processos aprovados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Ele e o cartunista Ziraldo receberam as maiores indenizações, de R$ 1 milhão cada um, além de uma pensão mensal de R$ 4 mil. Jaguar foi criticado pelo valor da indenização e respondeu que ‘não esperava levar tanta porrada’.
Nos anos 1990, fez animações para as vinhetas do Plim Plim da TV Globo. Com Ziraldo, aventurou-se no lançamento da revista Bundas, título que debochava da revista Caras, de celebridades. Já em 2008, passa a ter uma coluna no jornal O Dia e colabora com charges para a coluna de Ivan Lessa no Jornal do Brasil.
Jaguar publicou cinco livros. O primeiro deles, Átila, você é bárbaro, usava de sarcasmo para contrapor-se ao preconceito, à ignorância e à violência. O cronista Paulo Mendes Campos descreveu a obra como ‘um livro de poemas gráficos’. Confesso que bebi é um roteiro afetivo dos bares da cidade, de casas chiques a simpáticos pés-sujos. Mas aos 82 anos, tornou-se abstêmio por causa de um tumor no fígado. Escreveu ainda Nadie es perfecto; Ipanema, se não me falha a memória; É pau puro! – O Jaguar do Pasquim.
Jaguar lia muita poesia, gostava de jazz e de futebol.