O Tribunal de Justiça de Rondônia determinou que O Joio e O Trigo retire do ar uma reportagem sobre desmatamento e a indústria da carne, publicada em janeiro deste ano. A decisão, de caráter liminar, determinou que o veículo tire o texto de seu site, das redes sociais e de todos os espaços de publicação. O caso corre em segredo de Justiça.
O Joio e O Trigo informou que cumpriu a decisão tão logo foi notificado, retirando do ar a reportagem publicada em 30 de janeiro deste ano. É a primeira vez em sua história que o veículo sofreu uma ação judicial por pessoas mencionadas em uma de suas reportagens.
“Nosso jornalismo prima pela qualidade das apurações, marcadas por um processo de checagem de informação e consulta prévia a advogados no caso de conteúdos sensíveis”, declarou O Joio. “Todas as reportagens levadas ao público são fruto de um acúmulo de expertise na cobertura sobre sistemas alimentares. Para nós, a ação e a determinação de retirada da matéria do ar configuram um cerceamento da liberdade de expressão.
No caso em questão, e como em todas as outras matérias jornalísticas feitas pelo Joio, foram ouvidas todas as pessoas citadas na matéria e dada oportunidade para o contraditório”.
O veiculo declarou que não concorda com a decisão judicial e vai recorrer da decisão.
Pelo terceiro ano consecutivo, Jornalistas&Cia, em parceria com os sites Neo Mondo e 1 Papo Reto e com a Rede JP – Jornalistas Pretos, promoverá o Prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira. A iniciativa tem como objetivo reconhecer o trabalho desses profissionais e de veículos que se destaquem na cobertura do tema e na atuação de profissionais negros em suas equipes.
Além de premiar os TOP 50 +Admirados Jornalistas do Ano, a premiação também reconhecerá os TOP 5 mais votados nas categorias Imagem/Vídeo, Veículos Liderados por Jornalistas Negros e Veículos Gerais.
Assim como nas edições anteriores, serão dois turnos de votação. Neste primeiro, de livre indicação, os eleitores podem escolher até cinco candidatos por categoria. Os nomes mais citados classificam-se para o segundo turno, de votação dirigida, em que os eleitores selecionarão seus favoritos ranqueando-os do 1º ao 5º colocado. Para participar, basta acessar o link de votação até 11 de setembro, preencher um rápido cadastro e fazer as indicações.
Evento de premiação será carbono neutro
Uma das novidades desta edição dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira será a parceria com a GSS Carbono e Bioinovação, empresa especializada em projetos e comercialização de créditos de carbono, que fará a compensação do evento de premiação, na Câmara Municipal de São Paulo, transformando-o em um encontro “carbono neutro”.
A cerimônia, marcada para 10 de novembro, reunirá jornalistas de todas as regiões do Brasil. Mais uma vez, a iniciativa conta com os patrocínios de Unilever e Uber. Empresas interessadas em associar suas marcas à premiação podem obter mais informações com Vinicius Ribeiro ([email protected]).
Rafael Colombo, que até então atuava como repórter em telejornais da Globo em São Paulo, será o novo apresentador do matinal Conexão GloboNews, ao lado de Leilane Neubarth e Camila Bomfim. Ele substitui a Daniela Lima, que deixou a emissora no início de agosto, após dois anos de trabalho. As informações são de Gabriel Vaquer, do F5 (Folha de S.Paulo).
Além do trabalho na GloboNews, Colombo seguirá com um programa na rádio CBN, aos fins de tarde, focado nas notícias de São Paulo. Desde abril, ele trabalhava como repórter de jornais locais da capital paulista. Antes, atuou por 22 anos na Bandeirantes, como apresentador do BandNews, da Rádio Bandeirantes, e de telejornais da emissora em TV aberta. Em 2020, assinou com a CNN Brasil, onde comandou o CNN Novo Dia. Um ano depois, foi para a Jovem Pan, na apresentação do Jornal da Manhã. Chegou ao Grupo Globo em abril deste ano.
Segundo apurou a coluna de F5, o Grupo Globo priorizou a equipe que já estava em casa na escolha do profissional que substituiria Daniela Lima no Conexão GloboNews. A emissora pretende fazer mais mudanças nos próximos meses, incluindo novos cenários e formatos em seus telejornais.
Foi realizado em 25/8 o quinto encontro do ciclo O Presente e o Futuro do Jornalismo – Insights, em comemoração aos 30 anos do Jornalistas&Cia, em parceria com a ESPM. O evento, na ESPM Tech, em São Paulo, reuniu repórteres, especialistas, lideranças de veículos, veteranos da comunicação e estudantes de jornalismo para debater o trabalho do jornalista investigativo no Brasil.
Participaram Juliana Dal Piva, do Centro Latinoamericano de Investigação Jornalística (CLIP), responsável por grandes investigações, como o podcast A Vida Secreta de Jair, sobre o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em esquema de desvio de salários de assessores do seu gabinete quando era deputado federal; Luiz Vassallo, do Metrópoles, autor da série de reportagens A Farsa do INSS, que revelaram um grande esquema de falsas associações que descontavam irregularmente de aposentados; e Marcelo Soares, da Lagom Data, que há 27 anos trabalha com jornalismo de dados, parte essencial e crucial do trabalho de um jornalista investigativo. A mediação foi de Reinaldo Chaves, coordenador de Projetos da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Eduardo Ribeiro (Crédito: Ana Laura Ayub/J&Cia)
Na abertura do evento, Eduardo Ribeiro, diretor do J&Cia e do Portal dos Jornalistas, reiterou a importância do jornalismo investigativo nos dias atuais: “É uma frente essencial da nossa profissão, que exige tempo, coragem e independência para enfrentar interesses de poderosos. Vivemos um momento em que o jornalismo investigativo se fortalece com jornalismo de dados, trazendo novas metodologias, maior alcance, mas ao mesmo tempo enfrentamos também muitos desafios, resistências e ataques que buscam descredibilizar esse trabalho. É neste equilíbrio entre avanço e ameaça que se desenha o futuro da reportagem investigativa, e nada mais importante do que ouvir quem está na linha de frente desse processo”.
Ao longo do evento, os convidados contaram um pouco das apurações e trabalhos investigativos que realizaram, explicando como funciona o dia a dia de um jornalista investigativo, o que fazer para realizar apurações de fôlego, como lidar com eventuais riscos à suas próprias seguranças e com ataques diários em decorrência do trabalho.
Para Juliana, todo jornalismo deve (ou deveria) ter algum tipo de investigação: “Não consigo entender jornalismo sem que esteja aliado a investigação. Às vezes, a mínima apuração de determinada pauta exige uma investigação profunda”. A repórter do Clip destacou que as ferramentas utilizadas pelos jornalistas durante a investigação são muitas, e dependem muito das pautas, do objeto que está sendo investigado.
Outro ponto destacado por Juliana é a importância de ser versátil ao trabalhar como jornalista investigativo: “Antes dessas grandes investigações e apurações focadas em corrupção, trabalhei por muitos anos cobrindo direitos humanos, publiquei recentemente livro sobre o desaparecimento do Rubens Paiva. E a coisa que mais aprendi como repórter é que ele deve ser um grande resolvedor de problemas. Não é porque você nunca fez ou cobriu algo que não pode aprender e até se especializar naquele determinado assunto. Aprendi a investigar na raça, investigando patrimônios públicos, entrevistando pessoas da área, aprendendo no campo, com outros jornalistas que fazem investigações desse tipo − ou seja, você vai encontrando soluções para resolver a sua pauta, ser ‘maleável’, esperto, tem um pouco de tudo”.
A repórter do Clip explicou também que, para além das técnicas e do conteúdo da investigação, é preciso pensar sempre em como os jornalistas e veículos vão apresentar para o público o trabalho que realizaram. É essencial pensar como contar a história, seja podcast, documentário, matéria com imagens, sempre refletir sobre a melhor maneira, o melhor formato de mostrar o conteúdo ao público: “O caso do Silas Malafaia, por exemplo. Resolvemos fazer um grande perfil dele, mostrando trajetória e a vida dele. Quisemos ir além de uma simples checagem ou investigação, queríamos apresentar quem ele é e como se construiu, como fez o dinheiro, o patrimônio que ele tem, envolvimento com a igreja, como botou família inteira nos negócios, criou várias empresas”.
Muitas vezes, pautas que acabam caindo, são abandonadas para sempre pelos repórteres. E Juliana afirmou que isso é um grande erro, pois, às vezes, é possível retomar aquele determinado assunto algum tempo depois, em outro momento, com mais informações à mão: “Não é porque a pauta está arquivada que não servirá para investigações futuras. Às vezes, muda muito repensar tópicos com uma cabeça nova, mais madura, anos depois, com novidades, em diferentes contextos. Nunca tire do radar uma pauta que tem potencial para virar uma grande investigação, mesmo que essa pauta tenha caído há anos”.
Juliana Dal Piva (na tela), Reinaldo Chaves (esq), Marcelo Soares e Luiz Vassallo (Crédito: Ana Laura Ayub/J&Cia)
Luiz Vassallo, responsável por um dos maiores furos do ano, falou sobre o trabalho de investigação para produzir a série de reportagens da farra do INSS. O repórter contou que a pauta caiu em suas mãos por acaso, e que ele não fazia ideia da dimensão que alcançaria no futuro.
“Eu estava de plantão, que é um desespero na vida do repórter. Aí, Fábio Leite, diretor da sucursal do Metrópoles em São Paulo, vinha recebendo denúncias de uma pessoa de seu círculo social sobre descontos estranhos nos vencimentos da previdência social. A entidade que fazia os descontos chamava-se Ambec, e essa pessoa não fazia ideia do que era, Fábio também não; então, ele me acionou. No começo, estava cético com a pauta, pois parecia algo comum, algum tipo de golpe, não sabia o tamanho que seria”.
Vassallo contou que a investigação começou com uma pesquisa rápida e superficial, que, apesar de simples, é essencial e pode ajudar muito como um pontapé inicial em grandes investigações jornalísticas: “Em dezembro de 2023, eu precisava entender o que era essa associação, então procurei o mais básico, fontes abertas, no próprio Google mesmo. E achei um número gigantesco de processos, quase 13 mil processos judiciais contra a Ambec, do País inteiro, nas mais diversas varas judiciais. E os processos eram muito semelhantes, descontos em vencimentos, desconhecimento da entidade etc. Encontrei também problemas de reputação da associação no Google, reclamações, baixas notas de competência. Essa pesquisa inicial me ajudou a identificar que, de fato, algo muito errado estava acontecendo”.
O repórter do Metrópoles foi até a porta da entidade, e encontrou um escritório comercial pequeno, uma sala pequena para o suposto tamanho da entidade. “Foi aí que tive a certeza de que tinha alguma coisa errada. Como pode essa associação, com esse espaço tão pequeno, ter tantos processos. Tinha algo errado, era muito grande para ser tão pequeno”. Vassallo conversou com o advogado de uma das vítimas, que passou ao repórter um processo que mostrava uma disputa pelo controle da associação, que revelou os sócios da Ambec.
“E aí eu dou uma grande dica a vocês: Sempre que encontrarem um personagem em suas investigações, nunca o percam ou tirem do radar. Na pandemia, na época da CPI da Covid, entrei em contato com um personagem peculiar, o empresário Mauricio Camisotti, envolvido em esquema de superfaturamento em vendas de vacinas para a Covid-19. Já naquela época eu tinha percebido que ele seria personagem importante mais para a frente. E, coincidência ou não, descobri que o próprio Camisotti era um dos sócios da Ambec, que estava envolvido na disputa pelo controle da empresa”.
Vassallo contou que o caso teve muitos acontecimentos estranhos, o que de certa forma contribuiu para enriquecer a reportagem. Ele falou sobre uma das condenações da Ambec, na qual a empresa usava áudio modificados e alterados com a voz de aposentados como tentativa de provar que eles estavam cientes e aprovavam os descontos indevidos. Mas os áudios em questão não tinham datas e nem seguiam protocolos-padrão, além de terem evidências claras de edição. Posteriormente, tais áudios foram comprovados como fraudulentos. O repórter também contou sobre a faxineira Maria Inês, funcionária “laranja” da Ambec, tida como presidente da entidade, sendo que ela própria se declarava como auxiliar de dentista.
O repórter do Metrópoles levantou um questionamento importante que permeia toda investigação jornalística: o conflito entre pedidos de acesso a dados via Lei de Acesso à Informação (LAI) versus a possibilidade de ferir a privacidade de pessoas e entidades segundo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): “No caso da Ambec, eu fiz vários pedidos, pois queria verificar os rendimentos mensais das associações fraudulentas. Fui negado várias vezes, depois recebi respostas incompletas, ou seja, demorou muito até conseguir dados concretos e evidência que fomentassem a pauta. E, de fato, os números eram muito estranhos. A quantidade de associados, por exemplo, cresceu de forma desproporcional. A Ambec tinha cerca de 45 mil associados e em pouco tempo saltou pra 500 mil associados”.
Em resumo, Vassallo reiterou a importância da apuração em grandes investigações. Ir a campo, fazer uma pesquisa prévia, depois ir a fundo nos dados, mexer com planilhas, buscar com fontes, vítimas e seus advogados. Todo esse trabalho foi essencial para a Farra do INSS, e inclusive as reportagens pautaram diversas mudanças e ações em órgãos públicos, incluindo a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal.
Marcelo Soares, especialista em jornalismo de dados, com mais de 27 anos de carreira dedicados à área, explicou como saber checar e utilizar dados é essencial em toda e qualquer investigação jornalística.
O criador da Lagom Data explicou que um dos pontos mais importantes quando se trabalha com dados, principalmente quando se fala de demografia, é saber analisar, interpretar e ir além dos mapas. Ele usou como exemplo os mapas de intenção de voto nas eleições de 2014. O mapa geral do Brasil, mostrando qual candidato “ganharia” em cada estado, esconde diversas peculiaridades e realidades que só podem ser vistas em nível municipal: “O mapa geral, mostrando intenção de voto por estado, é mentiroso, pois ao analisar estado por estado a situação é diferente. Às vezes, mesmo que, na média, um estado vote mais em determinado candidato, quando olhamos os mapas de intenção de voto por cidade e município daquele mesmo estado, vemos uma pluralidade de outros candidatos que podem ser diferentes daquele que o estado ‘elegeria’. Então, é preciso se atentar às nuances, às realidades de cada contexto, no caso, cada cidade, município”.
Marcelo destacou também o que ele chama de “A arte de sujar os sapatos”, ou seja, ir a campo, não focar só nos dados, para ter dimensão da realidade, do que de fato acontece: “Os dados mostram uma foto antiga da realidade. Eles raramente contam a história inteira. Eles contam uma história de um período específico, não necessariamente correspondem ao que de fato está acontecendo no aqui e agora. Por exemplo, há um tempo, fiz um trabalho sobre informações de serviços essenciais no Rio Grande do Sul. E, segundo dados que pesquisamos, em Jari, não tinha estrada asfaltada, nem escola, nem posto de saúde. Eis que vamos para lá, e adivinhem? Passamos por uma estrada asfaltada, uma escola novinha e bem ao lado um posto de saúde recém-construído. Então, é muito importante valorizar e checar os dados, mas ir a campo, é essencial para justamente comprovar esses dados”.
Para Marcelo, a importância do jornalismo de dados vai além da relevância jornalística, do interesse público, mas é essencial também para salvar vidas. Ele destacou um trabalho que fez durante a pandemia de Covid-19, no começo do período repleto de incertezas e dúvidas sobre comorbidades, contaminação, perfis de pessoas mais suscetíveis a contrair o vírus: “Não sabíamos muito bem o perfil de quem morria. O detalhamento dos mortos e dos pacientes, no começo, era impreciso e de difícil acesso. Então, comecei a verificar dados na base do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), focando nos desligamentos por mortes, quais profissões tiveram excesso de desligamentos por morte nos últimos meses, ou seja, um forte indicativo de mortes por Covid. A ideia era conseguir identificar as profissões essenciais, que não podiam parar durante a pandemia e ficar em isolamento, ou seja, que ficavam mais suscetíveis à contaminação. Esse estudo ajudou muito a mapear melhor os perfis dos mortos e de contaminados pela doença”.
Marcelo abordou a discussão sobre o uso da inteligência artificial no dia a dia dos jornalistas. Ele se diz cético em relação ao assunto, que já foi mais otimista no passado, e que hoje não confia tanto. Para ele, a tecnologia pode ajudar até certo ponto, sempre sob supervisão humana, mas jamais vai substituir o pensamento crítico dos homens: “Confie mais na sua própria inteligência do que nas IAs, pois elas mentem o tempo inteiro. São boas para sugerir títulos, mas para trabalhar com informação, não são boas, pois não têm visão factual. Não consigo confiar nas LLMs. Além disso, não basta ter o resultado, é preciso checar esses resultados gerados por IAs, sempre precisa ter uma previsão humana”. O criador da Lagom Data citou um exemplo cômico (porém preocupante) de uma matéria que trazia dez recomendações de livros para ler no verão, sendo cinco deles inexistentes, criados pela inteligência artificial que foi usada na construção do texto. Aí fica evidente a importância de supervisão humana no uso da IA.
Por fim, os convidados falaram sobre a convivência com ataques no cotidiano dos jornalistas investigativos, e como prevenir esses casos. Para Juliana, vítima de recorrentes ofensas e ameaças em decorrência de seu trabalho, segurança da imprensa é algo essencial e os ataques são cíclicos, de modo a infelizmente sempre voltarem uma hora ou outra: “Há muitas campanhas de ataques, de difamação, xingamentos. E isso mexe com nossa saúde mental, mas, frequentemente, esse tipo de episódio vem com ameaças online, ou seja, vai reverberando na vida prática também. No meu caso, tenho plena consciência de se tratar de um ataque coordenado direcionado a jornalistas mulheres, como também já foram vítimas as colegas Patrícia Campos Mello, Daniela Lima, Vera Magalhães, entre outras. Nunca podemos esquecer também o caso de Elvira Lobato, que sofreu tanto assédio judicial, com processos em diferentes varas e estados, que não conseguia comparecer a todas as audiências”.
A repórter do Clip destacou a importância de impor limites, para cortar “pela raiz” essas campanhas de ataques e difamação contra jornalistas em decorrência de seu trabalho. Juliana explicou que, devido ao estresse, e com tanta coisa para pensar e fazer, muitos jornalistas acabam “deixando pra lá”, mas é muito importante denunciar esses casos e, em momentos extremos, judicializar e processar os autores dos ataques: “Judicializar ataques é incômodo, demora muito, com várias instâncias, quando recorrer da decisão etc. Mas é essencial. E aqui deixo uma dica: uma coisa que fiz muito é enviar notificações extrajudiciais, que são meio que ‘alertas’ para quem faz esses ataques. É uma estratégia, para tentar cortar antes que vire um processo, de modo a evitar desgaste físico e emocional”.
Juliana afirmou que existe uma dificuldade de noticiar violência contra jornalistas, por parte dos próprios colegas da imprensa, e que se essa cobertura fosse melhor realizada seria de grande ajuda para combater essa violência. Para a repórter, deve ser um movimento conjunto entre os profissionais e os próprios veículos jornalísticos: É preciso ter maior organização em termos de estrutura para apoiar os jornalistas em casos desse tipo nas redações.
Outro ponto discutido foi a questão da segurança dos jornalistas, que, para Juliana, deve estar presente desde antes de iniciar a realização da pauta: “Quando começamos a investigação, além da pauta, precisamos pensar nos métodos, o que precisamos para conseguir as informações, e o quanto isso nos expõe do ponto de vista ético e de segurança, tanto minha como repórter, como das fontes, das pessoas que estão em off e precisam estar seguras. É importante pensar sempre nisso: o que vai precisar em termos de segurança. E isso deve crescer até se tornar cultura, algo padrão dentro das redações, de modo que o próprio veículo ajude a pensar com os repórteres envolvidos.
Eu falo o que falo porque poucos falam assuntos que tais.
Bom seria que tal tema fosse mais vezes abordado nas páginas de livros, jornais e revistas.
Bichinhos domésticos há muito são carinhosamente criados por homens, mulheres e crianças. Principalmente crianças.
Eu ia dizendo e agora concluo que a menina que mandou de presente um gatinho para o velho e bom Machado ficou pra lá de feliz quando dele, do gato, recebeu uma delicada cartinha. Dizia:
“D. Alba, Só agora posso pegar na pena e escrever-lhe para agradecer o obséquio que me fez mandando-me de presente ao velho amigo Machado. No primeiro dia, não pude conhecer bem este cavalheiro; ele buscava-me com palavrinhas doces e estalinhos, mas eu fugia-lhe com medo e metia-me pelos cantos ou embaixo dos aparadores. No segundo dia, já me aproximava, mas ainda cauteloso. Agora, corro para ele sem receio, trepo-lhe aos joelhos e às costas, ele coça-me, diz-me graças, e, se não mia como eu, é porque lhe custa, mas espero que chegue até lá.
Só não consente que eu trepe à mesa, quando ele almoça ou janta, mas conserva-me nos joelhos e eu puxo-lhe os cordões do pijama. A minha vida é alegre. Bebo leite, caldo de feijão e de sopa, com arroz, e já provei alguns pedaços de carne. A carne é boa; não creio, porém, que valha a de um camundongo, mas camundongo é que não há aqui, por mais que os procure. Creio que desconfiaram que há mouro na costa, e fugiram. Quando virá ver-me? Eu não me canso de ouvir ao Machado que a senhora é muito bonita, muito meiga, muito graciosa, o encanto de seus pais. E seus pais, como vão? Já terão descido de Petrópolis? Dê-lhes lembranças minhas, e não esqueças este jovem… Gatinho preto.”
E não podemos esquecer que o gatinho em questão era de cor preta.
Muitos poetas e romancistas, cronistas e contistas, também, escreveram sobre gatos. Pretos inclusive.
Quem não se lembra do conto O Gato Preto, de Edgar Allan Poe (1809-1849)?
De qualquer modo, não custa refrescar a memória: o protagonista, um jovem amante de animais domésticos, casou-se com uma garota que também amava gatinhos, cachorros etc. Numa hora qualquer, o cara perde as estribeiras e cega um dos seus gatos. A história segue e termina em terrível tragédia.
Poe, como tantas e tantos autores nacionais e estrangeiros, também gostava de gatos e gatas. Sua mulher, Virgínia, adorava Catterina.
Era uma gatinha e tanto, Catterina…
O nosso pernambucano Nelson Rodrigues foi um entre os 11 filhos de seus pais. Cresceu achando que um dia poderia ficar cego. Essa crença lhe veio depois que seus olhos viram um moleque de uns 9 anos cegando um passarinho.
O tempo passou e ele se casou três vezes. A segunda mulher, Lúcia, deu-lhe uma menina que nasceu cega. Por pouco ele não enlouqueceu. Anos depois, num livro de memórias, Nelson conta essa tristeza sob o título A Menina Sem Estrela (1967). Lá pras tantas, lembra:
“Uma noite, Lúcia foi internada, às pressas, na Casa de Saúde São José. Parto prematuro….
Tudo aconteceu numa progressão implacável. Daniela nasceu e não queria respirar… Mudaram o sangue da garotinha. E ela sobreviveu.
Lúcia quis ver a filha no dia seguinte. E veio numa cadeira de rodas… Voltou chorando, e dilacerada de felicidade. Também fui espiar Daniela pelo vidro do berçário. Uma enfermeira aparece e me pergunta, risonhamente: ‘O senhor é o avô?’. Respondi, vermelhíssimo: ‘Mais ou menos’. Mais uma semana, Lúcia e Daniele vinham para casa. Tão miudinha a garota, meu Deus, que cabia numa caixa de sapatos.
Dois meses depois, Dr. Abreu Fialho passa na minha casa. Viu minha filha, fez todos os exames. Meia hora depois, descemos juntos. Ele estava de carro e eu ia para a TV Rio; ofereceu-se para levar-me ao posto 6. No caminho, foi muito delicado, teve muito tato. Sua compaixão era quase imperceptível. Mas disse tudo. Minha filha era cega.”
O tema gato também não passou batido em Nelson Rodrigues. É dele uma pequena história a que intitulou O Gato Cego. Nesse conto, curtíssimo, ele fala de um jovem que encontrou dificuldade para escolher a profissão que deveria seguir. Os pais queriam que fosse psicólogo. Optou por Veterinária.
Um dia, bateu à porta do consultório uma mulher dizendo-se arrependidíssima por ter cegado um gato preto.
Ao ouvir o que ouviu, o jovem profissional partiu pra cima da mulher e fez com ela o que ela fez com o gato.
Baixa o pano.
O gato de Edgar Allan Poe lutou pra se salvar. Não conseguiu.
O gato de Nelson Rodrigues vingou-se da dona que o cegou.
Agora tem um gato de Stephen King que apronta loucuras inimagináveis. Chegou a uma casa como quem não quer nada. Manhosamente foi mostrando suas garras. Primeiro, matou uma mulher. Depois, outra. E, depois, o cara que cuidava da casa. Foi uma morte bárbara: atirou-se ao rosto da vítima, furando-lhe os olhos.
Refiro-me ao conto O Gato do Inferno.
Tudo isso ao contrário do que bem fazia o gato da menina Alice no País das Maravilhas.
(Crédito: Fausto Bergocce)
Os gatos, como as pessoas, só são iguais no DNA. Tem uns que andam se balançando, outros que, além de andarem se balançando, miam charmosamente chamando para si a atenção de homens, mulheres e crianças. São vaidosos, não é Fausto Bergocce?
Quem cresceu trocando fitas-cassete, empilhando CDs ou vasculhando sebos por vinis importados talvez jamais imaginasse que, em 2025, o áudio passaria a ser algo intangível − um fluxo digital acessado por senha, não mais por prateleira. O modelo de consumo mudou e, com ele, também se transformaram os negócios. A era da posse deu lugar à era do acesso. O streaming por assinatura, hoje, é o formato hegemônico de consumo de música, rádio e audiolivros.
Essa mudança estrutural é mapeada com precisão pela pesquisa Share of Ear, da Edison Research, uma das principais referências globais na medição do consumo de áudio. Segundo dados mais recentes, referentes ao primeiro trimestre de 2025, mais da metade dos americanos com 13 anos ou mais já pagam por pelo menos um serviço de áudio − uma métrica reveladora da consolidação de um novo paradigma na indústria sonora.
O crescimento dos serviços de assinatura acompanha uma lógica mais ampla da chamada economia do compartilhamento. Em vez de comprar um CD, um disco ou um livro narrado, o consumidor paga por uma experiência contínua, personalizável e multiplataforma. Apple Music, Spotify, YouTube Music, Audible, SiriusXM e tantos outros players oferecem catálogos com milhões de títulos − mas nenhum pertence de fato ao usuário.
Para Tom Webster, analista de mídia e cofundador da Sounds Profitable, “essa transição é mais do que econômica − é cultural. As pessoas querem praticidade, atualizações constantes e integração com seu estilo de vida. A posse virou um fardo; o acesso, uma liberdade”.
A pesquisa da Edison mostra que, apesar de o total de assinantes ter se mantido relativamente estável nos últimos dois anos − oscilando em torno dos 50% da população americana −, há transformações sutis, porém significativas. Em 2022, 13% dos ouvintes pagavam por mais de dois serviços de áudio. Em 2025, esse índice caiu para 6%. Em contrapartida, os que mantêm apenas uma assinatura subiram de 28% para 35% no mesmo período.
Ou seja, os ouvintes continuam dispostos a pagar − mas estão racionalizando suas escolhas. Analistas interpretam isso como o início de uma fase de shakeout: um termo do jargão econômico que define o momento de consolidação em que empresas menos competitivas saem do mercado, enquanto os líderes se fortalecem.
Os líderes desse novo cenário são conhecidos: Spotify domina o streaming musical, Audible é soberana nos audiobooks, e Apple Music tenta manter sua fatia de mercado entre usuários do ecossistema iOS. Além disso, rádios por assinatura como SiriusXM ampliam suas ofertas, enquanto plataformas menores enfrentam dificuldades para manter seus catálogos e usuários.
Com os consumidores optando por menos serviços, os gigantes do setor se consolidam ainda mais. Segundo o relatório MIDiA Research Audio Trends 2025, os cinco maiores serviços do mundo já detêm mais de 85% da base pagante global, cenário que levanta preocupações sobre concentração de mercado e limitações de diversidade cultural.
A retração no número de múltiplas assinaturas também é sintoma da conjuntura econômica. Com a inflação elevada e os juros ainda em patamares altos nos Estados Unidos, os consumidores estão fazendo escolhas mais criteriosas. Muitos cortam gastos supérfluos e concentram seus investimentos em plataformas que oferecem maior valor agregado − seja por curadoria, usabilidade, conteúdo exclusivo ou integração com outros serviços (como podcasts ou vídeo).
A professora Megan Paquette, da University of Southern California, observa que “em tempos de incerteza econômica, os consumidores reavaliam sua cesta de serviços digitais, priorizando qualidade e utilidade. O áudio, por ser emocional e diário, ainda ocupa espaço importante, mas não imune a cortes”.
Ainda que o estudo seja norte-americano, os ecos chegam ao Brasil com força. Segundo dados do Data Reportal 2024, cerca de 38% dos brasileiros com acesso à internet já pagavam por serviços de música ou audiolivros − número que deve crescer nos próximos anos, especialmente nas classes B e C. O Spotify lidera com folga, mas Amazon Music, Deezer e YouTube Music mantêm nichos relevantes, enquanto startups locais tentam inovar com ofertas regionalizadas.
No campo dos audiobooks, iniciativas como Ubook, Tocalivros e os catálogos em português da Audible crescem lentamente, enfrentando ainda barreiras de preço, letramento digital e escassez de títulos nacionais.
(Crédito: Yorkshire-village)
O momento vivido pelos serviços de áudio por assinatura lembra o que o cinema viveu com os streamings de vídeo: uma explosão inicial de ofertas, seguida por uma onda de concentração e especialização. Quem vence essa corrida é quem oferece mais do que catálogo − oferece contexto, inteligência algorítmica, originalidade e experiência imersiva.
A consolidação do setor parece, assim, um processo inevitável. O desafio está em equilibrar inovação com diversidade, escala com personalização, e sobretudo, negócios com cultura sonora.
Fontes consultadas:
Edison Research. Share of Ear Report – Q1 2025
Webster, Tom. “The Economics of Streaming Audio”, Sounds Profitable, 2024
MIDiA Research. Audio Streaming Trends Global 2025
Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.
Alunos na Bloomberg Journalism Programs realizado no Brasil. (Crédito: Bloomberg)
O Brasil é o primeiro país da América Latina a receber o Bloomberg Journalism Programs, iniciativa global voltada à formação em jornalismo de negócios. A primeira edição aconteceu entre de 1º a 3/8, em São Paulo, em parceria com a Faculdade Cásper Líbero e a Hussman School of Journalism and Media,da Universidade da Carolina do Norte.
Ao todo, 13 estudantes foram selecionados entre mais de 400 candidatos, representando 11 instituições de ensino superior de diferentes regiões do país. Durante o programa, eles tiveram experiências práticas em jornalismo de negócios, com treinamento de profissionais da Bloomberg News, acesso ao Terminal Bloomberg e formação baseada no The Bloomberg Way – guia editorial que orienta as práticas de reportagem do veículo.
Participaram dos treinamentos Alice Bastos (UFMG), Gisele Martins Cabral Fernandes (Celso Lisboa), João Gabriel Rosas Leitão (UFRR), João Vitor Beltrame (Cásper Líbero), Julia do Nascimento Martins (USP), Lorenzo Vieira de Castro (UFRGS), Maria Julia de Oliveira Blanes (Cásper Líbero), Miguel de Andrade Gonçalves (ESPM-Rio), Pedro Felix de Souza Henriques (UFJF), Sophia Sampaio Setúbal de Lima (Cásper Líbero), Victoria Nascimento (UESPI), Vinícius de Melo do Nascimento (FAM) e Vitória Araújo de Aleluia (UFRB).
Criado em 2017, o Bloomberg Journalism Programs integra a Iniciativa Global de Educação em Jornalismo de Negócios e Finanças da Bloomberg, que busca fortalecer o jornalismo de negócios e ampliar oportunidades para estudantes.
Um ataque aéreo do exército israelense contra o Hospital Nasser, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, matou pelo menos 20 pessoas na segunda-feira (25/8). Entre as vítimas, estavam cinco jornalistas. Segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), já são mais de 200 profissionais de imprensa que foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.
Os jornalistas assassinados são Hossam al-Masri, fotógrafo freelancer da Reuters; Mariam Abu Daqqa, jornalista independente que colaborava com o Independent Arabia e a Associated Press; Moaz Abu Taha, correspondente da rede americana NBC; Mohamad Salama, fotógrafo da Al Jazeera; e Ahmed Abu Aziz, que atuava em veículos locais palestinos e para a rádio tunisiana Diwan FM. Segundo o porta-voz da Defesa Civil de Gaza, foram dois ataques separados ao hospital: O primeiro foi executado com um drone explosivo e o segundo foi um bombardeio realizado enquanto equipes de resgate prestavam socorro aos feridos.
As Forças Armadas israelenses confirmaram os ataques, mas lamentaram “a morte de pessoas não envolvidas”, e declararam que vão abrir uma investigação “o mais rápido possível”.
Dois dias antes, no sábado (23/8), o exército israelense assassinou o cinegrafista da Palestine TV, Khaled al-Madhoun, morto no norte de Gaza enquanto filmava a distribuição de alimentos. Segundo informações da RSF, um tanque israelense teria mirado diretamente no cinegrafista.
Vale lembrar que, há duas semanas, pelo menos seis jornalistas foram mortos em um ataque israelense à Cidade de Gaza. O bombardeio foi direcionado a uma tenda que abrigava profissionais da imprensa, localizada em frente ao portão principal do Hospital al-Shifa. O Exército Israelense admitiu o ataque, alegando que o alvo era o correspondente Anas Al-Sharif, considerado terrorista pelo governo de Benjamin Netanyahu.
Entidades defensoras do jornalismo e do trabalho da imprensa condenaram os assassinatos. A RSF destaca que, desde outubro de 2023, mais de 200 jornalistas foram mortos pelo exército israelense, incluindo pelo menos 56 em decorrência direta de seu trabalho.
“Até onde irá o exército israelense em seu esforço gradual para eliminar as informações que vêm de Gaza? Até quando continuarão a desafiar o direito humanitário internacional?”, questionou a RSF. “A proteção dos jornalistas é garantida pelo direito internacional, no entanto, mais de 200 deles foram mortos pelas forças israelenses em Gaza nos últimos dois anos. (…) A RSF pede uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para garantir que esta resolução seja finalmente respeitada, e que medidas concretas sejam tomadas para acabar com a impunidade dos crimes contra jornalistas, proteger os jornalistas palestinos e abrir o acesso à Faixa de Gaza a todos os repórteres”.
Melissa Domenich Bianchi está iniciando nova jornada, como gerente de Comunicação Corporativa e Impacto Social na Inpasa Brasil. Ex-Votorantim Cimentos, onde atuou por mais de 12 anos e meio, ele chega ao novo desafio após 1 ano e 4 meses como head de comunicação corporativa da Citrosuco.
Em mensagem no Linkedin salientou: “É um privilégio contribuir com uma empresa que tem como missão oferecer soluções limpas e sustentáveis para atender à crescente demanda de energia do planeta, assumindo um papel fundamental na descarbonização global e na segurança alimentar”.
Na Comunicação da Votorantim Cimentos, Bianchi passou por diversos cargos, como gerente de Comunicação Corporativa & Marca Institucional, analista sênior e consultora de comunicação externa. Antes, trabalhou em Alfapress Comunicações, Anhanguera Educacional, Sistema COC de Ensino e Centro Universitário Toledo.
A Folha de S.Paulo entrou com uma ação judicial contra a OpenIA, empresa de inteligência artificial, responsável pelo ChatGPT, pelo uso e coleta indevidos de conteúdos produzidos pelo jornal, sem autorização ou pagamento. A publicação pede indenização por uso indevido e que a OpenIA encerre essas práticas.
O jornal apontou que a empresa está utilizando textos publicados pela Folha para treinar modelos de IA, e fornecendo resumos e conteúdos na íntegra para usuários do ChatGPT, incluindo textos exclusivos para assinantes, sem qualquer consulta pela autorização do uso do conteúdo ou pagamento pelo material. A Folha pede que tais modelos que foram treinados com o conteúdo do jornal sejam deletados.
Na ação, a Folha acusa a OpenIA de “concorrência desleal e violação de direitos autorais”, afirmando que o ChatGPT “desenvolve a aprimora sua ferramenta de IA com base e conteúdo alheio, sem autorização e sem o pagamento de qualquer remuneração”. A ação também destaca que os resumos e conteúdos disponibilizados na íntegra para usuários afeta diretamente o trabalho e a audiência da Folha, uma vez que “desvia a clientela de forma ilegítima”.
Em julho, a Folha detectou cerca de 45 mil acessos a seu site por meio de GPT bots, cuja finalidade era o treinamento de modelos de IA. O jornal declaro que tentou fazer um acordo com a OpenIA para a utilização do conteúdo produzido, mas não obteve retorno, o que fez com que a publicação optasse por entrar na justiça contra a empresa.
A discussão sobre como o jornalismo será afetado pelo uso de IA por parte de big techs, principalmente no que se refere aos mecanismos de buscas, vem crescendo significativamente. Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha de S.Paulo, já havia alertado para os perigos da tecnologia à atividade jornalística, em evento sobre inteligência artificial e reputação de empresas, realizado em comemoração aos 30 anos da agência Máquina e do Jornalistas&Cia.
Na ocasião, Dávila falou justamente sobre como a IA pode afetar a audiência dos veículos: “A IA causa uma grande disrupção no nosso negócio, pois com os mecanismos de pesquisa e resultados perdemos muita audiência e cliques, e as pessoas têm acesso aos nossos conteúdos sem que recebamos por isso, sem que tenhamos algum tipo de retorno. Então, é preciso regulamentar isso, impedir que a IA faça com que o jornalismo deixe de ganhar em termos financeiros e de audiência”.
Recentemente, publicações internacionais também processaram a OpenIA por uso indevido de conteúdo, incluindo o treinamento do ChatGPT. Jornais como The New York Times, The Chicago Tribune e The Orlando Sentinel processaram a OpenIA. Em maio do ano passado, a empresa firmou um acordo pelo uso do conteúdo dos jornais The Wall Street Journal, The Times, The Daily Telegraph, New York Post e The Sun.