Por Álvaro Bufarah (*)
Um dia você fazia download; hoje talvez espere a TV ou se acomode com o celular – o que importa é que o som continua chegando. O estudo The Podcast Landscape 2025, resultado da parceria entre Sounds Profitable e Signal Hill Insights, marca um ponto de inflexão no universo dos podcasts norte-americanos: a maioria dos adultos consome podcast pelo menos uma vez por mês, o vídeo firma-se como formato complementar e a smart TV surge como uma porta de entrada inesperada para o áudio. Para o mercado brasileiro e global, o dado principal é que o podcast não apenas cresceu – amadureceu.
Segundo o levantamento, 75% dos americanos já consumiram um podcast – praticamente o mesmo patamar, de 74%, em 2024 –, mas pela primeira vez o consumo mensal alcançou 55% dos adultos, e a escuta semanal subiu para 38%. Os ouvintes frequentes (semanais) gastam em média 6,3 horas por semana com podcasts, sendo que 21% deles relatam ouvir mais de 10 horas por semana. Em termos demográficos, a audiência tornou-se mais diversificada: 35% dos ouvintes mensais têm entre 18 e 34 anos, 37% entre 35 e 54 anos, e 28% têm mais de 55 anos.

Mas talvez a transformação mais significativa seja no formato e na plataforma. Ainda que 59% dos entrevistados esperem que podcast seja “apenas áudio” e 21% “geralmente áudio”, somando as categorias que permitem vídeo (“geralmente áudio, pode ser vídeo”, “pode ser qualquer um”, “geralmente vídeo, pode ser áudio” e “apenas vídeo”) chega-se a +79%. O formato audiovisual no podcast cresce. Na plataforma, o YouTube domina, com 40%, como plataforma primária de consumo de podcast, seguido pelo Spotify (18%) e Apple Podcasts (11%). O smartphone permanece no topo da preferência (34% iPhone, 25% Android), mas a smart TV aparece já como quarto dispositivo mais usado (9%) – e entre os que usam TV, 76% escutam via YouTube.
Esses números delineiam três vetores de reflexão: alcance amplo, formatos híbridos e plataformas além do fone de ouvido.
Quando mais da metade dos adultos diz usar o podcast mensalmente, não se trata mais de nicho. O podcast é mainstream. Essa maturidade dialoga com os dados brasileiros: o estudo Inside Audio 2025 da Kantar IBOPE Media registrou que 92% dos brasileiros consomem algum tipo de áudio digital ou rádio. Isso indica que o Brasil está no trilho dessa trajetória global – e que a formação de público já não é o gargalo, é a consolidação.
O salto do “apenas áudio” para “áudio + vídeo” não é moda – é adaptação. Muitos ouvintes esperam que o podcast ofereça imagem ou pelo menos a opção. Esse movimento é confirmado fora do estudo americano: segundo o relatório Streaming Media Market Report, da Futuresource Consulting, mais de 50% dos podcasts novos em 2025 são lançados simultaneamente em vídeo e áudio, com intenção clara de descoberta e visualização em tela grande. O podcast não é mais só “no fone” – ele entra na sala, no carro, no cowork, no grande painel.
O episódio do YouTube dominando consumo de podcast via smart TV revela uma mudança de paradigma: a televisão conectada vira canal de áudio, o rádio vira app, o streaming vira momento de curadoria. No Brasil, a penetração de smart TV cresce: dados da empresa de análise Omdia apontavam que em 2024 mais de 60% dos lares com banda larga fixa tinham televisor conectado à internet. Isso significa que o “áudio em tela” pode ser ponte para salas de estar, não apenas ouvidos nos fones.
Imagine uma mulher que sai do trabalho, pega o metrô, coloca o celular no bolso – não conecta fones. No corredor do apartamento ajeita o sofá, acende a smart TV, digita no controle de voz “meu podcast de hoje”. A tela acende, rostos no YouTube conversam, o áudio flui, ela se reclina, ouve. O podcast que a acompanhou no trajeto agora a segue para a sala. O smartphone ficou no bolso. O momento se alongou, virou ambiente.

Para o produtor, para o diretor de conteúdo, para a emissora de podcast, o recado é claro: o ouvinte está onde quiser ouvir – e assistir. A estratégia não é abandonar o áudio puro – é expandi-lo. Ter fone, ter tela, ter voz. E entender que o canal importa menos do que o contexto.
O podcast encontra a maturidade e, com ela, exige mais densidade, mais formatos, mais presença. A pergunta deixa de ser “tem podcast?” para ser “onde ele está, para quem, em qual tela, em que momento?”. E a resposta exige que quem produz não pense apenas em ouvidos, mas em “salas, trajetos, pausas e telas”. O som virou encontro. Ele vive em movimento – e agora na sala.
Fontes:
Sounds Profitable & Signal Hill Insights. The Podcast Landscape 2025.
Radio Ink – “Podcasting em maturidade alcança público abrangente e amplia presença multiplataforma” (26 out. 2025).
Kantar IBOPE Media – Inside Audio 2025 (92% dos brasileiros consomem áudio digital ou rádio).
Futuresource Consulting – Streaming Media Market Report 2025.
Omdia – Dados de penetração de smart TV no Brasil (2024).

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.
(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.





















