A Abraji divulgou os resultados da edição 2024 do Monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil. A pesquisa, que anualmente coleta, analisa e apresenta informações relacionadas às liberdades de expressão e de imprensa, mostrou que, embora o número total de casos registrados no ano passado tenham diminuído em 36,4% em relação ao ano anterior, em quase 41% dos episódios eles envolveram agressões físicas, ameaças ou destruição de equipamentos, um aumento de 38,2% quando comparado a 2023.
O relatório apontou ainda uma mudança importante no perfil dos agressores: pela primeira vez desde o início do monitoramento da Abraji, os principais responsáveis pelos ataques foram indivíduos sem vínculo com o Estado, que representaram 39% dos casos registrados, superando os agentes estatais.
A retórica antimídia, amplificada por figuras públicas e reproduzida em massa por cidadãos comuns, além de autoridades e figuras públicas, contribuiu para um ambiente de desconfiança e hostilidade contra jornalistas.
Embora a participação de agentes estatais nos ataques tenha diminuído, o cenário político continua alarmante para a atuação jornalística. Outubro, por ter sido o mês das eleições municipais, concentrou 56 casos — 2,8 vezes mais que julho, o segundo período do ano com mais ataques. O dado reforça um padrão já denunciado pela Abraji de que a cobertura política tende a gerar mais agressões a jornalistas.

Outro dado preocupante é o crescimento da violência de gênero, que passou a representar 31% dos casos monitorados em 2024. As jornalistas Daniela Lima e Natuza Nery, da GloboNews, foram as mais atacadas no ano, evidenciando como o machismo e a misoginia seguem sendo utilizados como instrumentos de descredibilização do trabalho de mulheres jornalistas.
Natuza, por exemplo, foi alvo de um ataque do então pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, após desmentir uma alegação falsa sobre o bloqueio de caminhões com doações para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul — informação verificada e desmentida por agências de checagem. Em resposta, Marçal reagiu de forma hostil e misógina nas redes sociais, chamando a jornalista de “incompetente”, “menininha” e “patricinha”.
O uso crescente do Judiciário como ferramenta de intimidação também foi retratado. Em 2024, os processos civis e penais contra jornalistas representaram 9% dos alertas, consolidando o assédio judicial como um dos principais riscos à liberdade de imprensa.
Ao final do documento, a Abraji propôs recomendações a governos, plataformas digitais, veículos de comunicação e à sociedade civil para enfrentar a escalada da violência e proteger o jornalismo. O documento também reúne dicas de segurança para profissionais da imprensa.