A IstoÉ Publicações, empresa que em 2023 adquiriu os direitos do uso digital das marcas da extinta Editora Três (IstoÉ, Dinheiro, Gente, Motorshow, Planeta, Menu e Dinheiro Rural), e que desde então vinha editando os sites dessas publicações, está expandindo seus negócios e entrando de vez no segmento das revistas digitais. A primeira aposta veio no início do mês, com o relançamento da IstoÉ.
A publicação, que havia circulado pela última vez em 31 de janeiro deste ano, três dias antes de a Justiça de São Paulo decretar a falência da Editora Três, não terá, pelo menos por enquanto, uma versão impressa. Mas agora, acompanhada do subtítulo “A Semana”, promete aliar o conteúdo mais contextualizado e aprofundado das revistas tradicionais, que vão além do noticiário fragmentado e instantâneo consumido diariamente, com estratégias e técnicas de integração multiplataforma com os demais canais digitais do grupo.
Para comandar o novo projeto foi contratada a editora executiva Lena Castellón, que já havia atuado na própria IstoÉ entre 2000 e 2008, e que ao longo de sua carreira também passou por Meio&Mensagem, O Globo e Folha de S.Paulo. Ela responde a Daniel Hessel Teich, CEO e diretor editorial da IstoÉ Publicações e, além de contar com toda estrutura dos jornalistas que atuam nos sites das publicações do grupo, contará em sua equipe com o diretor de arte Alexandre Akermann e a designer Mayara Novais.
Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Teich falou sobre as estratégias para o relançamento deste e de outros títulos que fizeram história pela Editora Três, as questões legais que envolvem o projeto e a possibilidade de a publicação voltar às bancas no futuro. Confira:
Portal dos Jornalistas – O que o público pode esperar dessa “nova” IstoÉ?
Daniel Hessel Teich – O retorno da IstoÉ partiu de um processo experimental, que tem uma lógica diferente de uma revista tradicional. É um modelo digital compartilhável pelas plataformas sociais, que tem como grande objetivo estar totalmente integrado com os nossos sites, permitindo criar uma capilaridade muito maior e atingir públicos que tradicionalmente não compram revistas em bancas. Um público que cada vez mais se informa por WhatsApp e redes sociais.
PJ – Como funcionará o modelo de distribuição?

Daniel – Em princípio estamos trabalhando com bancas digitais parceiras e disponibilizando gratuitamente as edições dentro do nosso site, que não tem paywall e nem assinatura como fonte de receita. Estamos pensando no futuro em criar sistema de cadastro para acessar e receber as edições quando elas forem publicadas. Além disso, também estamos analisando a possibilidade de no futuro criar áreas pagas com conteúdos selecionados, mas isso ainda é uma ideia mais distante.
PJ – Qual será a estratégia para produção de conteúdo?
Daniel – A ideia inicial era fazer um apanhado do conteúdo que publicamos em nossos sites, mas já na segunda edição percebemos que podemos levar adiante e trazer conteúdos e formatos exclusiva para a revista, com imagens exclusivas e gráficos que muitas vezes não utilizamos nos sites. Mas a chave do nosso negócio estará na interconexão entre as duas plataformas. A revista conversará com o site o tempo todo e vice-versa. Ela será como um grande apanhado do que mais de relevante publicamos ao longo da semana nos nove sites que editamos.
PJ – Por que adotar o complemento “A Semana” no nome da revista?
Daniel – A marca IstoÉ é um patrimônio da história brasileira e faz parte da essência do jornalismo em revista. Algumas de suas reportagens mudaram a história do Brasil e muitos prêmios relevantes foram conquistados por ela no seu passado. É um legado muito forte que a gente tem como obrigação manter. Desde o início do projeto, o que a gente sentiu é que ela não seria exatamente a mesma IstoÉ que as pessoas compravam. A intenção é que ela fosse um produto mais rápido, simples e dinâmico. Nós não temos colunas, por exemplo. Por isso nós adotamos esse subtítulo como uma forma de diferenciar os produtos. Claro que não está descartado ampliarmos esse conteúdo no futuro e deixa-la mais parecida com seu projeto inicial, mas isso é algo que não cabe ali dentro nesse momento?

PJ – A IstoÉ Publicações também é dona dos títulos impressos que pertenciam à Editora Três ou apenas os digitais?
Daniel – A negociação com a Editora Três, concluída em 2023, transferiu todos os títulos, em todas as suas plataformas, para a IstoÉ Publicações. Pelo mesmo acordo, que foi intermediado pelo juiz que cuidava da recuperação judicial da empresa, nós repassaríamos o direito de uso das publicações em suas versões impressas para a Editora Três. Com a falência do grupo, porém, nós passamos a ter o controle integral das marcas.
PJ – Mas há o interesse em retomar as versões impressas da IstoÉ e dos demais títulos?
Daniel – No momento não descartamos nenhuma possibilidade, mas primeiro precisamos entender se haverá demanda pelo projeto, entender o seu potencial e ver se ele é economicamente viável. Não há prazo algum para isso, por isso nosso foco, no momento, está voltado exclusivamente para a expansão da IstoÉ e de outras marcas do nosso portfólio.
PJ – Há alguma previsão para lançar a revista digital de outra marca?
Daniel – Sim. Já estamos com o planejamento bastante avançado para relançar a Dinheiro nas próximas semanas, em um modelo bem parecido do que adotamos com a IstoÉ. Inclusive já contratamos a Erica Polo* como editora responsável do projeto. É claro que são marcas diferentes, cada uma com suas particularidades e público-alvo, mas estamos bastante confiantes. E até novembro devemos apresentar o terceiro título, mas este ainda não podemos divulgar.
[*N. da R.: Erica Polo estava há um ano na Capital Aberto e antes passou por Valor Econômico, Exame e pela comunicação da OAB-SP]
E mais…
No portal da IstoÉ Dinheiro, a novidade ficou por conta da contratação do editor Alexandre Inacio, que chega para coordenar a cobertura de economia e negócios. Ele estava há um ano no NP Agro, plataforma da qual foi um dos fundadores, e antes passou por InfoMoney, Brazil Journal, JBS, Valor Econômico, Agência Estado e Gazeta Mercantil