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quinta-feira, dezembro 11, 2025

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Preciosidades do acervo Assis Ângelo – O cego na História (34): Assis Ângelo entrevista Glauco Mattoso

Glauco Mattoso

Por Assis Ângelo

É sério, como se vê, o papo cego, este papo cego que iniciamos no dia 15 de abril de 2025, neste espaço. Há pouco, enviei uma dúzia de perguntas ao camarada Glauco Mattoso. O cabra é bom. Bom, não: é ótimo.

Glauco Mattoso

As perguntas que pediram respostas podem não ser o suprassumo de um caboclo como eu, mas as respostas são pra lá de ótimas. Dividimos este papo pelas ondas da Internet em duas partes. Na primeira, Glauco conta de si e dos outros, findando com citação ao mestre inglês John Milton. Esse Milton, autor do clássico Paraíso Perdido, nasceu no 9 de dezembro de 1608. E deste planetinha despediu-se em no dia 8 de novembro de 1674. Bom, vamos nessa e digam o que acharam.

(N.daR: o leitor que não estranhe, mas Glauco faz questão de escrever em português arcaico)

Assis Ângelo ­– Glauco, conte-nos um pouco sobre a sua vida incluindo filiação, irmãos etc…

Glauco Mattoso – Ja fallei e escrevi muito sobre tudo isso e muito ja escreveram sobre mim. Mas neste caso nossa conversa é como si fosse battepappo entre collegas no bar. Vale repisar toda a coisa. Para começar, quem lê para você vae reparar que escrevo pela antiga orthographia neste computador fallante. A orthographia é uma de minhas muitas manias e faz parte da rebeldia que me characteriza. No caso, contra um sacco de gattos pingados que se acha no direito de cagar regras a toda uma communidade lusophona. Ser retrô, às vezes, significa ser anarchista, até vanguardista.

Mas vamos la. Sou Ferreira da Sylva só por parte do avô paterno, mas os outros antepassados são italianos, os Canettieri e os Torrezani. Sou da Zona Leste de Sampa, redondezas da Mooca. Mais velho de trez irmãos. Só eu nasci com glaucoma, como o Ray Charles e o filho do Roberto Carlos. Ray Charles não era rico e perdeu a visão ainda creança. O filho do Roberto, mesmo rico, tambem accabou perdendo. Eu, da classe media baixa, passei por oito cirurgias, perdi primeiro o olho direito e, ja muito myope, o olho esquerdo depois dos quarenta. Suppondo que ficaria cego, e sem poder fazer tudo que a molecada fazia, virei leitor e escriptor desde cedo. Melhor alumno tambem, claro. Por causa disso sempre me bullyingavam, dentro e fora da eschola, e por causa disso virei sadomasochista: me fizeram lamber pés e chupar paus. Molecada typica de peripheria: nos annos cincoenta os arredores da avenida Sapopemba ainda eram muito baldios e os mattagaes o melhor scenario para curras entre moleques. Trauma duplo, o da deficiencia visual e o das curras, mas a litteratura serviu para desabbafar e a poesia para glosar. Para gozar, bastava a punheta. Até que eu encontrasse minha turma, nos annos septenta, nos gruppos de theatro e de militancia gay. Emquanto isso, me formei bibliothecario, trabalhei como bancario e desbundei como um dos poetas “marginaes” daquella geração.

O que me destaccou foi um poezine muito anarchico, chamado JORNAL DOBRABIL (parodiando o JORNAL DO BRAZIL), que era uma folha dobravel, ou seja, “dobrabil”. Recyclei a anthropophagia oswaldiana, mas, como sou mais escatologico, a minha foi uma “coprophagia”. Durante a dictadura, tal irreverencia chamou a attenção dos artistas e intellectuaes. Virei discipulo do Augusto de Campos e do Millor Fernandes, que me davam força. Até Caetano Velloso deu. Esse pamphleto virou livro e se tornou meu chartão de visita. Em seguida escrevi um romance autobiographico, o MANUAL DO PODOLATRA AMADOR: ADVENTURAS E LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS, onde narro essa porra toda. Mas o que eu queria mesmo era ser poeta. Junctei os poemas do DOBRABIL em livro, mas não eram os sonnettos que hoje faço. Essa disciplina e esse rigor vieram depois da cegueira completa, ou talvez por causa della, ja que a metrica e a rhyma adjudam a memorizar e a compor na cabeça antes de passar para o computador fallante. Prompto, fallei, por fallar nisso.

Assis – Sei que o seu nome de batismo é Pedro José Ferreira da Silva. Como surgiu o pseudônimo Mattoso? Conte detalhes.

Glauco ­– Paresce piada prompta. O portador de glaucoma é glaucomatoso. Claro que eu percebi a analogia com Gregorio de Mattos, outro satyrico e fescennino. Mas a intenção era usar meu logar de falla como deficiente para sacanear todas as deficiencias como parte duma “missão” sadomasochista, ja que meu pae era kardecista e eu, embora não siga nenhuma chartilha, me tornei uma mixtura de antagonismos: sou exsistencialista e espirita. A contradicção e o paradoxo são outra de minhas manias. Gosto de explorar os conflictos humanos, a dupla personalidade, entre a perversão e a perversidade, entre a compaixão e a humanidade, em tudo e em todos. Por isso desdenho das censuras, que só visam a apparencia pornographica exterior, ignorando contehudos mais profundos. Nem sei o que é peor, a censura de “bons costumes” da direita ou a “politicamente correcta” da esquerda. Para mim, pisar no callo dos excluidos me irmana a todos os injustiçados, os da graça divina e os da desgraça humana.

Assis – Particularmente, tenho muita dificuldade de aceitar com naturalidade o problema que me causou o descolamento de retina. Eu estava entrando na casa dos sessenta. Fui submetido a nove cirurgias em vão. E você, como recebeu a notícia dos médicos dando conta de que você estava cego? Passou por tua cabeça a ideia de suicídio?

Glauco – Como eu dizia, passei por oito cirurgias, a primeira aos oito annos e a ultima aos quarenta e quattro. A cada operação, os medicos repetiam que, si eu continuasse enxergando, estaria no lucro, pois meu glaucoma congenito é fatal. Perdi o olho direito depois dos vinte e o esquerdo depois dos quarenta. Ja sem visão no direito, fui morar no Rio para poder trabalhar como bibliothecario no Banco do Brazil, mas na verdade eu queria sahir da casa dos paes para não me suicidar emquanto la morasse, a fim de poupar a familia do choque directo. Elles receberiam a noticia à distancia.

No Rio os abysmos são faceis de accessar e eu queria seguir o exemplo de outros artistas que se precipitaram. Para mim a perda do olho esquerdo viria logo, mas não veiu e segui tocando a vida, mas ja convivendo com gente do meio artistico e intellectual. Foi la que comecei a editar o DOBRABIL. Isso me entreteve e accabei addiando o suicidio.

Na volta a Sampa, comecei a morar em appartamento (no Rio a pensão ficava num casarão), primeiro num segundo andar, depois num nono, donde planejei me jogar assim que perdesse o olho esquerdo. Depois da perda total, mamãe veiu morar commigo uns mezes e addiei de novo. Mais tarde, percebi que conseguia me virar sozinho dentro de casa e, de repente, o sobrenatural interferiu. Traduzi Borges juncto com o professor Jorge Schwartz, ganhamos um Jaboty pela traducção, e adquiri meu primeiro computador fallante, installado com o programma DOSVOX, da UFRJ, editor de texto que uso até hoje. Esse programma me permittiu digitar tudo que vinha na cabeça, inclusive uma poesia rhymada e metrificada que eu nem imaginara poder compor. No primeiro anno, passei dos trezentos sonnettos e, no terceiro, dos mil. Hoje passei dos quattorze mil poemas, interrompi varias vezes a producção poetica para escrever e publicar outras coisas e, depois de duzentos livros, entendo que esse affan me dissuadiu do suicidio, appesar duma cegueira cada vez mais soffrida com a chegada da velhice e de outras doenças, como a neuropathia diabetica.

Entretanto, a coincidencia com Borges não foi só na cegueira progressiva e na perda em meia edade: foi tambem na vida conjugal, ja que, a exemplo da Maria Kodama, tambem me casei com um japonez, cuja companhia me reforçou a decisão de ir addiando o suicidio, que não está definitivamente deschartado, ja que a morte assistida do Antonio Cicero me suggere que agora a coisa fica mais viavel.

Assis – Pra falar a verdade, ainda não me considero com a cabeça totalmente no lugar. Ainda entro em depressão… A literatura me faz bem. É como se fosse remédio. Ouço livros e dito textos a pessoas queridas como a historiadora Flor Maria. E você ouve muito livro, mexe na internet com facilidade?

Glauco – Não gosto de audiolivros. Prefiro ler/ouvir um texto no computador fallante, digitado por mim mesmo ou por outros auctores. Meu esposo lê para mim, inclusive jornaes, e ouço radio para me informar do noticiario. Tambem ouço muita musica em CD e cheguei a produzir CDs de punk rock em sociedade com o membro duma dessas bandas. Um desses CDs, chamado MELOPÉA, junctou gente que musicou meus sonnettos, desde Arnaldo Antunes ao cearense Falcão. Mas o DOSVOX só me permitte trocar emails, pois nas redes é meu esposo Akira, alem do meu editor Lucio Medeiros, quem monitora o facebook, o instagram e o twitter. Nada disso remedia a depressão, a insomnia e a angustia exsistencial, todavia. Continuo maldizendo a cegueira e, ao contrario de Borges, não acho que seja uma dadiva divina. Dadiva foi a veia poetica, graças à assistência espiritual de Borges, Homero, Milton, Joyce, sem fallar no Cego Adheraldo…

Assis – Eu sempre li autores diversos, nacionais e estrangeiros. E você, de quais autores mais gosta? E gêneros literários como romance, conto, poesia…?

Glauco – As influencias directas são do Augusto de Campos na poesia e do Millor no livre pensar. Com elles convivi e dialoguei. Mas as influencias remotas vão da sexualidade violada à cantoria violeira, passando por Sade, Masoch, Aretino, Bocage, Gregorio e chordelistas da “litteratura de bordel”, practicantes da chamada glosa fescennina, herdeira dos epigrammas latinos e dos goliardos medievaes. Sou, portanto, um legitimo expoente da tradição pornographica na literatura canonica, ja que sou estudado em theses de universidades nacionaes e extrangeiras. Na prosa tambem curto Genet, Henry Miller, Orwell e Burgess, mas, como tenho a cultura encyclopedica dos bibliothecarios, apprecio muitos classicos universaes, de Boccaccio a Rabelais.

Assis – Acabei de escrever uma série sobre licenciosidade na cultura popular. Nesse trabalho, que pretendo que vire livro sob o título Do Popular ao Erudito: o Sexo como Expressão Artística, tem de tudo, incluindo obras de autores como Gregório de Matos e Guerra, Dalton Trevisan, Hilda Hilst, Marquês de Sade, Restif de La Bretonne, entre muitos outros. Você é um apaixonado pelo Boca do Inferno. O que tem escrito sobre ele? E no campo propriamente poético, do que você mais gosta: quadra, redondilhas, sextilhas, décimas ou sonetos?

Glauco – Estou nas principaes anthologias eroticas, inclusive a da Eliane Robert Moraes e a do Alexei Bueno, subtitulada DE GREGORIO DE MATTOS A GLAUCO MATTOSO. Em Gregorio sigo a linha satyrica, não só sexual mas tambem politica, alem do modello sonnettistico camoneano. Minha producção mais volumosa é de sonnettos (onze mil, um recorde), mas já glosei muito motte e pellejei com gente de respeito, como o Moreira de Acopiara, que publicou nosso folheto. Não satisfeito, inventei gêneros alternativos, como o dissonnetto de quattro quartettos ou o “infinitilho” de estrophes illimitadas, cada estrophe sem limite de versos, mas rhymadas na sequencia das anteriores, typo ABCDEFG… O exemplo barroco de Gregorio é instigante no sentido de crearmos jogos de palavras e eschemas estrophicos/rhymaticos engenhosos. O concretismo tambem me estimulou nesse terreno. Em alguns cyclos narrativos mais longos usei formatos estrophicos variados, como decima seguida de quartetto, oitava camoneana e verso livre, mas a cegueira sempre predominando como thema, como em “São Sansão, Sancta Dalilah”, “Evangelho de Judas Izrahiah” ou “Historia da cegueira”, estes reunidos no livro OBSCURAS ESCRIPTURAS, satyrizando a mythologia biblica, a exemplo do John Milton, que revisitou a lenda de Sansão.

Meu amigo, minha amiga: você está gostando desse nosso papo? Tem mais. Aguarde…

Contatos pelo http://assisangelo.blogspot.com.

Mariana Becker deixa a Band e a cobertura da F1 em tevê aberta após 20 anos

Mariana Becker deixa a Band e a cobertura da F1 em tevê aberta após 20 anos
Mariana Becker (Crédito: Lucas Java Brito/Instagram)

A repórter Mariana Becker, especializada no cobertura de automobilismo, deixará no final de 2025 o Grupo Bandeirantes e também cobertura da Fórmula 1 em tevê aberta após 20 anos. A emissora perdeu os direitos de transmissão da F1, que passa a ser exibida na Globo a partir de 2026. O último trabalho de Becker foi no Grande Prêmio de Abu Dhabi, no último final de semana, com o inglês Lando Norris como campeão mundial. Becker esclarece, porém, que pretende seguir próxima ao automobilismo. As informações são de Ana Clara Cottecco, do F5 (Folha de S.Paulo).

Em suas redes sociais, a repórter explicou que não se trata de uma aposentadoria, e que a ideia é, na verdade, buscar uma melhor qualidade de vida e desacelerar um pouco da rotina corrida, com menos voos, fusos e fins de semana a trabalho. Além disso, ela pretende tocar novos projetos, que devem ser anunciados nos próximos meses.

Um deles é uma iniciativa, ainda em desenvolvimento, com foco em turismo, cultura e viagens: “Tem coisas que acontecem em comum em vários lugares. Quero ver como essas coisas são feitas em lugares diferentes”, declarou ao F5. Outro projeto é um canal de entrevistas, que deve ser transmitido em televisão mas também nas redes sociais. Becker deve lançar também, no ano que vem, seu segundo livro de crônicas, escrito durante viagens a trabalho. A jornalista explicou que agora terá mais tempo para organizar o material e entregar à editora.

Relembrando sua trajetória, Becker refletiu sobre o aumento (ainda longe do ideal) da presença de mulheres no automobilismo em todas as vertentes, entre estrategistas, engenheiras e mecânicas, além de torcedoras: “É muito bom ver mais mulheres ali. Sempre achei estranho um ambiente onde só tem um gênero. É saudável ter essa troca”, afirmou.

Agressões a jornalistas marcam última rodada do Campeonato Brasileiro

Agressões a jornalistas na última rodada do Campeonato Brasileiro

Ao menos duas jornalistas foram vítimas de violência no domingo (7/12), dia da última rodada do Campeonato Brasileiro de futebol masculino. Aline Gomes, da CazéTV, teve seu microfone arrancado com violência nas dependências da Vila Belmiro, em Santos, e Nani Chemello, da Rádio Inferno, teve seu fone de ouvido puxado, de forma hostil, por um jogador do Internacional.

Após o jogo entre Santos e Cruzeiro, na Vila Belmiro, em Santos, Aline entrou ao vivo na CazeTV para falar sobre uma confusão entre torcedores do lado de fora do estádio, que terminou com gás de pimenta. Enquanto relatava o que estava acontecendo, um homem, ainda não identificado, passou correndo e deu um tapa com força no microfone da repórter, que acabou machucando a orelha, pois ela estava usando um ponto eletrônico que estava ligado no microfone derrubado. O mesmo homem tentou derrubar a câmera e feriu também o cinegrafista da equipe. Após a agressão ao vivo, os apresentadores Casimiro Miguel e Igor Rodrigues repudiaram o ocorrido e pediram para Aline ficar em segurança.

“Não estou bem, mas vou ficar. Estou processando tudo. Quando fui entrar ao vivo, começou uma confusão. Eu só estava relatando”, desabafou Aline em suas redes sociais. “Tive o cuidado de me afastar pela nossa segurança e pelo gás de pimenta. Foi uma agressão forte, ele puxou com agressividade a câmera também. Foi pesado, nunca passei por isso. Foi chocante e eu tive uma crise de ansiedade depois”. A jornalista declarou que o Santos deu todo o apoio necessário a ela e solicitou as imagens registradas para ajudar a identificar o agressor.

Outro caso de hostilidade contra jornalistas ocorreu no jogo entre Internacional e Red Bull Bragantino, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, que decretou a permanência do time gaúcho na primeira divisão do futebol brasileiro no ano que vem. Após o término do jogo, o lateral argentino Alexandro Bernabei, do Internacional, abordou de forma hostil a repórter Nani Chemello, puxando seu fone de ouvido e gritando “fala agora, fala agora!”. Ao longo da temporada, a jornalista fez comentários críticos sobre o desempenho do atleta dentro de campo.

No Instagram, Nani se pronunciou sobre o caso, afirmando que se sentiu “intimidada e incomodada” com a atitude do jogador: “Se faço uma crítica para ele e, depois do jogo, ele quiser conversar comigo, tudo bem. Mas, mexer no meu equipamento? Tirar o meu fone para gritar perto do meu rosto? Não tem necessidade. Não gostei nem um pouco”. A repórter falou que, após o ocorrido, Andrés D’Alessandro, diretor esportivo do Internacional, e André Mazzuco, diretor executivo, pediram desculpas em nome do clube.

100 anos de Rádio no Brasil: Tendências e mudanças no rádio

(Crédito: IBC Show)

Por Álvaro Bufarah (*)

Onde os racks antes ocupavam salas técnicas agora são apenas memórias de um padrão que se despede. No IBC 2025, o encontro global dos atores de mídia, entretenimento e tecnologia, registraram-se 43 858 visitantes de mais de 170 países, reunidos com 1.300 expositores e centenas de sessões que se dedicaram a revelar o futuro da transmissão. O que sobressaiu, contudo, não foi apenas o tamanho da convenção, mas a ênfase: nuvem, virtualização e inteligência artificial tomaram o palco como vetores de transformação concreta – não apenas promessas.

(Crédito: IBC Show)

Para o rádio – mídia que desde o início viveu de ondas e microfones – essa transformação ganha contornos de revolução silenciosa. Equipamentos físicos de estúdio, consoles de mixagem, racks de hardware, enlaces dedicados – tudo isso passa a poder ser entregue “como código”, como serviço em nuvem, como plataforma distribuída. Um artigo de apoio aponta que o custo de infraestrutura caiu entre 50% e 70% para emissoras que adotaram automação em cloud, e o tempo de entrada de novos serviços reduziu significativamente. Esse cenário significa que até uma emissora em cidade menor, com poucos recursos, pode competir em qualidade e flexibilidade com redes maiores – bastam conexão, automação e um bom conteúdo.

As fabricantes não perdem tempo. No IBC foram apresentados consoles como o AEQ Capitol IP Plus, o Myriad Cloud da Broadcast Radio (com operação nativa na Microsoft Azure), o axia Altus SE Virtual Radio Mixer da Telos Alliance, e soluções para transcrição automatizada, roteirização híbrida e playout remoto. Essas ferramentas sugerem que “estação de rádio” deixa de ser um prédio com antena e vira “fluxo operativo” em múltiplos locais, dispositivos ou ambientes de estúdio remoto. O benefício: mobilidade, escalabilidade e redução de barreiras geográficas. Um repórter pode trabalhar de qualquer lugar – o que antes exigia sala técnica, agora requer apenas uma conexão de internet.

Mas não se trata apenas de economia ou eficiência. Trata-se de contexto e audiência. A mídia sonora está cada vez mais on-demand, multiplataforma, distribuída. Essa nova infraestrutura permite experimentações com vozes geradas por IA, campanhas hiperlocalizadas, estações automatizadas que operam 24/7, e integração com streaming, podcast, rádio tradicional e vídeo. Logo, a tarefa do gestor de rádio se amplia: não basta tocar músicas ou transmitir programas ao vivo; é preciso orquestrar ecossistema – analisar dados de audiência em tempo real, personalizar oferta, adaptar conteúdo para voz, aplicativo, smart speaker, carro conectado. E tudo isso em um ambiente em que o hardware local – muitas vezes caro e lento para atualizar – perde centralidade.

Há, claro, tensões no horizonte. A dependência de nuvem exige conectividade robusta e confiável: em regiões onde a internet ainda oscila ou o custo de link é proibitivo, a vantagem se esgarça. A migração implica também mudança de cultura: operadores de rádio precisam aprender a lidar com plataformas, interfaces web, métricas de dados, licenciamento de cloud e segurança da informação. Há ainda o risco – debatido em painel do IBC – da homogeneização de vozes e programas: se uma estação “genérica” automatizada pode operar com custo mínimo, onde fica o diferencial local, a curadoria e a identidade comunitária do rádio?

No Brasil, isso é especialmente relevante. Em comunidades onde a rádio local é um pilar de comunicação, a adoção de plataforma cloud pode ser alavanca de impacto – mas também exige investimento em treinamento, conectividade e conteúdo relevante. Uma emissora que entende essa transição pode redescobrir seu papel: não apenas “falar na antena”, mas ser hub de convergência entre áudio tradicional, streaming, podcast, plataforma de dados, experiência em aplicativos e voz. O mercado global de soluções de transmissão cresce: estima-se que em 2025 o mercado de broadcasting solutions valerá US$ 10,33 bilhões, com taxa de crescimento de cerca de 9,7% até 2032. Isso significa que o cenário técnico e comercial está pronto para expansão – e quem se mover cedo pode ganhar vantagem competitiva.

(Crédito: zydigital)

Ao final, a crônica se fecha com uma imagem: o técnico de rádio abre seu laptop no sofá de casa, conecta-se à plataforma cloud da estação, gerencia o playout, ajusta o bloco comercial e responde a um alerta de automação que detectou interação elevada no app da emissora. Ele não liga um rack, não sobe em torre, não troca tubos de válvula – sua “sala técnica” cabe em wifi. A antena ainda está lá fora, o microfone ainda capta vozes, o rádio ainda faz companhia. Mas agora pode fazer muito mais – ouvir dados, adaptar ofertas, distribuir para dispositivos, identificar quem está ouvindo onde, e ajustar em tempo real. A transformação não elimina o rádio. Transforma-o. E para quem liga o dial amanhã, a mudança já está no ar.

Fontes

IBC 2025 – “IBC delivers innovation, energy, impact and business outcomes” (IBC press release) IBC 2025 (NEW)+1

Jutel – “What are the benefits of cloud-based radio automation software in 2025” Jutel

Broadcast Radio – Myriad Cloud Radio product overview broadcastradio.com

Coherent Market Insights – Global Broadcasting Solutions Market size and forecast (2025-2032) coherentmarketinsights.com


Álvaro Bufarah

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

Quintino Gomes Freire inaugura nova sede do Diário do Rio

Quintino Gomes Freire restaurou o prédio onde funciona o Diário do Rio. O jornal é digital, mas tem, nas palavras dele mesmo, uma redação à moda antiga, na Travessa do Comércio 6, a poucos metros do Arco do Teles, no Centro. A nova redação foi inaugurada em 27/11, com a exposição O cotidiano no Rio no século XIX, com litografias aquareladas de Jean Baptiste Debret e objetos de época. Só o cenário já vale uma visita.

O prédio, construído no século XVIII, está localizada a poucos metros de onde funcionou seu antecessor impresso – o primeiro jornal diário a circular no Brasil, entre 1821 e 1878. O novo Diário do Rio, fundado em 2007, já operava em parte deste endereço. Com 14 metros de frente e três andares com pé direito de mais de 4 metros, a nova sede conta com estúdio de podcast, rádio e vídeo, tem fachada e interior com detalhes em vermelho, piso em ipê e forro em madeira pinho de riga.

E por falar em revitalização, o antigo edifício do jornal vespertino A Noite, que também foi sede da Rádio Nacional e da EBC, passa por um retrofit com previsão de término em 2027. O prédio – tombado pelo Iphan como o primeiro arranha-céu de concreto armado da América Latina – foi projetado por Joseph Gire, o mesmo do Copacabana Palace, em estilo art déco. Terá agora 447 apartamentos, três lojas, restaurante temático no 23º andar em homenagem à Rádio Nacional, e um mirante aberto ao público no rooftop.

SBT News anuncia time de analistas políticos e econômicos

SBT News, novo canal de notícias do Grupo Silvio Santos, estreia em 15 de dezembro

O SBT News, novo canal do Grupo Silvio Santos que estreia em 15/12, anunciou os profissionais que farão parte de sua equipe de analistas e comentaristas políticos e econômicos.

Diretamente de Brasília, estarão alocados Anita Prado, Cezar Feitosa, Eduardo Gayer, Iander Porcela, Marcela Mattos, Ranier Bragon e Victoria Abel. Guilherme Seto atuará na sede em São Paulo Renato Machado, fará comentários diretamente de Genebra, na Suíça. Eles se unem à equipe já composta por importantes nomes do jornalismo, como Celso FreitasLeandro MagalhãesRaquel LandimAmanda KleinBasília RodriguesSidney RezendeRoberta Russo, Nathalia Fruet Lucio SturmCamila Mattoso, ex-Folha de S.Paulo, será a diretora de redação do novo canal.

Vale lembrar que, no começo do mês, o SBT News anunciou mais contratações para sua equipe de jornalismo: Larissa Alves, ex-Bandeirantes, e Luara Castilho, que até então atuava na TV Vanguarda, afiliada da Globo no interior paulista.

Novo prêmio internacional de fotografia científica abre inscrições

Novo prêmio internacional de fotografia científica abre inscrições
Crédito: Melissa Bradley/Unsplash

Estão abertas até 15 de fevereiro de 2026 as inscrições para a primeira edição do Through Southern Lenses: Science in Focus, prêmio internacional de fotografia que valoriza trabalhos com foco na ciência. A iniciativa, fruto da parceria entre a Fundação Conrado Wessel (FCW) e a Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS), terá como tema principal Geleiras e Desertos.

Podem se inscrever fotógrafos de países do Sul Global com trabalhos feitos de forma individual ou em grupo. O prêmio concederá US$ 20 mil ao ensaio fotográfico, com dez imagens originais, que melhor represente o tema da edição. A ideia é que as fotografias inscritas representem os impactos das mudanças climáticas, com foco no derretimento de geleiras e expansão de deserto, e como a emergência climática afeta ecossistemas e comunidades.

O objetivo do prêmio é valorizar e reconhecer a fotografia como instrumento para aproximar o público da ciência. Para Marcelo Knobel, diretor-executivo da TWAS, “a iniciativa reconhece a fotografia como um meio poderoso de inspirar o interesse público pela ciência, fortalecendo a conexão entre ciência e sociedade por meio de narrativas visuais acessíveis e envolventes”.

Não serão aceitas imagens produzidas por meio de Inteligência Artificial. Em caso de participação em grupo, o valor da premiação será entregue a um representante designado. Confira o regulamento e inscreva-se aqui.

Igor Jatobá é o novo editor da Automotive Business

Igor Jatobá
Igor Jatobá

Em reestruturação após a saída, há dois meses, da editora-chefe Giovanna Riato, agora no Jornal do Carro/Estadão, a Automotive Business segue reforçando a sua equipe. Sob os cuidados da head de Comunicação Thais Aleixo, a publicação ganhou na última semana o reforço do editor digital Igor Jatobá. Ele se junta ao time de editores, que já conta com Fernando Miragaya (Produto) e Bruno de Oliveira (Negócios).

Pernambucano radicado desde 2018 em São Paulo, Igor, além de jornalista, é advogado e tem larga experiência em projetos culturais e comunicação digital, tendo ao longo de sua carreira passado por Sesc, onde cuidava da produção de conteúdo para as redes sociais e portal, Secretaria de Cultura de Pernambuco e Sudene. Ele atende pelos 11-96317-6115 e [email protected].

Site Hall of Shame oficializa cruzada de Trump contra imprensa em meio a críticas da própria base MAGA

(Crédito: Chinasa Nworu)

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Quando parecia impossível se surpreender com os ataques de Donald Trump à imprensa independente e crítica de seu governo, a Casa Branca deu em 1º/12 um novo passo lançando o site Hall of Shame.

É uma alusão irônica aos populares Halls of Fame, criados para homenagear pessoas com contribuições positivas em suas áreas. No universo político de Trump, porém, o Hall of Shame tem objetivo oposto: listar veículos e jornalistas acusados de divulgar fake news, segundo critérios da própria Casa Branca.

A iniciativa, apresentada como um esforço pela defesa da verdade, foi imediatamente interpretada como uma tentativa de intimidação e deslegitimação da mídia crítica. A prática de acusar reportagens desfavoráveis de serem falsas – comum no discurso do presidente – agora se transforma em política pública com alvos nomeados.

Entre os primeiros estão CBS News, The Boston Globe e o britânico The Independent, cuja inclusão provocou reação do outro lado do Atlântico. O jornal denunciou o ataque à liberdade de imprensa e reafirmou seu compromisso com o jornalismo crítico. Trump anda de mal com a mídia britânica, com a ameaça de exigir 1 bilhão da BBC em compensação pela edição de seu discurso no dia da invasão do Capitólio que sequer foi exibida nos EUA.

O gesto de Trump ocorre em um momento em que enfrenta críticas até mesmo de antigos aliados, como a parlamentar Marjorie Taylor-Greene, que deixou a base trumpista (e o posto de congressista) atirando contra o ex-presidente e seus rumos políticos.

E, segundo uma análise recente do projeto Media Matters for America, parte da imprensa conservadora “MAGA”, que historicamente o apoiava, começa a romper o silêncio e adotar posturas críticas.

O site Hall of Shame pode parecer folclórico, mas pode ser útil  para manter mobilizada uma base disposta a aceitar a versão Trump dos fatos. As pesquisas e as eleições legislativas de meio de mandato, marcadas para novembro de 2026, dirão o efeito dessa estratégia.

Leia a matéria completa sobre o site Hall of Shame em MediaTalks.

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Ficando para trás na corrida pela liderança em IA, Apple troca chefia de sua divisão de inteligência artificial em meio a críticas e atrasos no projeto Apple Intelligence. Leia mais

Morre Fernando Hossepian, aos 60 anos

Morreu na quarta-feira (3/12) Fernando Hossepian, aos 60 anos, por problemas de saúde. Ele trabalhou no Estadão por quase 40 anos. O velório e sepultamento foram realizados em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Hossepian teve ao todo três passagens pelo Estadão. Na primeira, cujo início foi em 1985, na antiga OESP Gráfica, atuou como liberador. Três anos mais tarde, foi transferido para a S.A. O Estado de S. Paulo como revisor. Posteriormente, foi promovido a chefe de seção, função que exerceu até 2003. Deixou o Estadão e retornou ao jornal um ano mais tarde, em 2004, como diagramador no Jornal da Tarde, onde permaneceu até 2012. E em 2013, iniciou sua terceira e última passagem pelo jornal, como analista de sistemas editoriais sênior, cargo que exerceu até seu falecimento.

Em texto publicado em homenagem ao jornalista, o Estadão o descreveu como “sereno, gentil e extremamente colaborativo”.

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