Por Ana Laura Ayub
O uso da inteligência artificial no jornalismo tem avançado em ritmo acelerado, ao passo que ainda faltam regulamentações específicas para orientar essa transformação no Brasil. Ferramentas como ChatGPT e Gemini já impactam diretamente a produção e a distribuição de conteúdo, levantando preocupações sobre direitos autorais, remuneração de veículos e o papel das big techs na circulação de notícias.
O assunto virou pauta na 20ª edição do Congresso da Abraji. Compondo a mesa estavam Katia Brembatti, presidente da Abraji, Camila Marques, editora de audiência da Folha de S. Paulo, Claudia Croitor, editora-chefe do G1, Eurípedes Alcântara, diretor de jornalismo no Grupo Estado, e Luiza Baptista, editora executiva de estratégia digital de O Globo. Os jornalistas levaram ao público os medos e incertezas relacionados à Inteligência Artificial e como um bom profissional pode superar esse desafio.

O jornalismo brasileiro ainda não possui regulação específica para a IA. Na palestra, foram citados os gastos milionários que jornais como The New York Times acumulam contra big techs sobre o uso indevido de reportagens, e ressaltaram que todo esse processo pode ajudar a ditar as regras no Brasil. Camila Marques reforçou que o jornalismo necessita de regulamentações; “Precisa de políticas claras, precisa de política de remuneração, seja em contratos individuais, seja pelo meio jornalístico.”
Além disso, plataformas de inteligência artificial, como ChatGPT e Gemini, usam conteúdos exclusivos para assinantes para o treinamento de seus sistemas. Isso leva a que sites e plataformas criem conteúdos a partir das redações, usando a IA para reescrevê-los. Os jornalistas afirmaram que diversos sites fazem a cópia de seus veículos, e comentaram que podem gerar até mais “cliques” que o original.
Outra preocupação está na relação entre SEO e o Google diante da priorização crescente da inteligência artificial pela plataforma. Com a nova atualização, resumos automáticos de notícias são gerados por IA, permitindo que os usuários acessem informações de forma rápida e objetiva, sem precisarem entrar nos sites originais. Essa dinâmica acaba reduzindo o tráfego direto para os veículos jornalísticos e compromete seus indicadores de desempenho.
Apesar de tantos alertas, os profissionais concordaram de forma unânime que fazem o uso da inteligência artificial nas redações para facilitar um trabalho que antes levaria dias para ser feito ou para simplesmente corrigir erros gramaticais. “Todo mundo está incentivado a experimentar, mas o resultado final não pode ser. Toda matéria, todo gráfico, toda fonte do Estadão tem um autor com CPF e RG”, disse Eurípedes. Camila foi a mais ativa no debate e acrescentou; “A IA tem que ser usada como meio, nunca como fim. A nossa visão é que tem que ser inadmissível um profissional da casa não usar IA. Não faz sentido não usar.”
A jornalista também diz que o grande trabalho agora é treinar as pessoas quando e como usar; “Existe um adendo no manual de redação, existe uma regra muito clara. Então a palavra-chave é empoderar as pessoas para que saibam como e quando usar. Achamos que tem algo de errado quando uma pessoa na redação que diz que não usa IA, algo não está funcionando.”
Por fim, Camila ressalta que as pessoas não vão ser substituídas pela IA; “Eu tenho certeza que continuamos sendo fundamentais para o jornalismo. Vai substituir coisas que a gente perdia tempo. Então, a pessoa que não souber usar, ou que desistir de pensar, não vai se adaptar. Eu acho que não vai ser substituído, e que as mentes brilhantes vão brigar ainda mais.”