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segunda-feira, julho 28, 2025

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Karla Mendes é primeira brasileira vencedora do Prêmio Oakes de Jornalismo Ambiental da Universidade de Columbia

Karla Mendes é primeira brasileira vencedora do Prêmio Oakes de Jornalismo Ambiental da Universidade de Columbia

Karla Mendes, repórter investigativa da Mongabay no Brasil, acaba de se tornar a primeira brasileira vencedora do prêmio John B. Oakes de Excelência em Jornalismo Ambiental, da Universidade de Columbia, EUA. Karla venceu com uma investigação que revelou a explosão de gado ilegal e crimes ambientais na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, em meio a um número recorde de assassinatos de indígenas Guajajara.

“A reportagem de Mendes é um feito extraordinário de documentação, multimídia, jornalismo de dados, mapeamento e análises”, escreveram os jurados do prêmio, anunciado em 23 de julho pela Universidade de Columbia, em Nova York. “Mendes arriscou sua vida várias vezes para fazer a reportagem em campo, passando por áreas dominadas pelos criadores de gado para chegar à Arariboia, uma das áreas mais perigosas do mundo”.

Criado em 1994, o Oakes é considerado um dos prêmios mais importantes do jornalismo, reconhecendo contribuições excepcionais para a compreensão do público sobre questões ambientais. Geralmente, esse prêmio é concedido a repórteres de grandes veículos, como New York Times, Reuters e Pro Publica.

Os jurados concederam o prêmio a Karla Mendes pelas “provas rigorosamente coletadas que desencadearam uma série inovadora de ações” por Governo Federal, Ministério Público e organizações não-governamentais. Publicada em português, inglês e espanhol, a série foi usada pelo Governo Federal para remover milhares de cabeças de gado da Arariboia. A investigação faz parte da série A madeira do sangue Guajajara, que teve financiamento e apoio editorial da Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center.

O fio condutor da investigação foi o assassinato do guardião da floresta Paulo Paulino Guajajara em novembro de 2019, em uma emboscada de madeireiros na Arariboia. Karla entrevistou Paulo nove meses antes de sua morte para um documentário que codirigiu e que ganhou quatro prêmios internacionais. O Ministério Público Federal usará a série como prova no julgamento do assassinato de Paulo.

A série de reportagens, que também recebeu menção honrosa no Prêmio ARI/Banrisul de Jornalismo, foi destacada em uma série da CBC sobre riscos para fazer reportagens na Amazônia. Também foi citada no livro What Will Your Legacy Be?: Conversations With Global Game Changers About the Climate Crisis (Qual o seu legado? Conversas com lideranças sobre a crise climática), de Sangeeta Waldron, que dedicou um capítulo do livro à investigação e à trajetória profissional de Mendes.

1º turno da eleição dos 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros termina nesta quinta-feira (24/7)

Termina nesta quinta-feira (24/7) o primeiro turno do prêmio Os 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Nesta fase, o colégio eleitoral formado por jornalistas e profissionais de comunicação poderá indicar livremente até dez nomes de sua admiração, de qualquer veículo, plataforma e região do País.

Os nomes mais citados serão classificados para o segundo turno, que terá início na próxima semana, onde os eleitores poderão escolher os cinco profissionais de sua preferência, do 1º ao 5 º colocado.

“Mais do que uma premiação, o 100 +Admirados é um gesto coletivo de reconhecimento a quem honra diariamente a missão de informar com ética, coragem e profundidade”, destaca Eduardo Ribeiro, diretor deste Jornalistas&Cia e idealizador do projeto, que retorna em 2025 para celebrar os 30 anos da newsletter. “Num momento em que o jornalismo enfrenta ataques, descrédito e transformações profundas, celebrar os profissionais mais admirados do País é também afirmar, com todas as letras, que sem imprensa livre não há democracia possível”.

Realizada nos anos de 2014 e 2015, a eleição consagrou nessas duas edições Ricardo Boechat como o +Admirado Jornalista do Ano. Apesar do hiato de dez anos, ela deu origem nessa última década a sete premiações segmentadas: +Admirados da Imprensa Automotiva; Imprensa de Economia, Negócios e Finanças; Imprensa de Tecnologia; Imprensa Esportiva; Imprensa do Agronegócio; Imprensa de Saúde, Ciência e Bem Estar (com patrocínio exclusivo do Hospital Israelita Albert Einstein); e Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira (em parceria com os sites 1 Papo Reto e Neomondo e a Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação).

Participe, dê seu voto e seu apoio ao Prêmio Os 100+ Admirados Jornalistas Brasileiros. Vote aqui!

Assaí também associa sua marca ao prêmio

O Assaí, rede brasileira de atacarejo, é a quinta empresa a confirmar participação na homenagem aos +Admirados Jornalistas Brasileiros. Com esse novo reforço, a iniciativa passa a contar com os patrocínios de Syngenta e Uber, e colaborações de Assaí, Cogna e JTI. Empresas interessadas em associar suas marcas à premiação e à cerimônia de entrega dos certificados e troféus, marcada para setembro, podem obter mais informações com Vinicius Ribeiro (vinicius@jornalistasecia.com.br).

Prêmio CNT de Jornalismo 2025 abre inscrições

Estão abertas até 12 de agosto as inscrições para o Prêmio CNT de Jornalismo 2025, que premia e valoriza trabalhos jornalísticos sobre o desenvolvimento do transporte brasileiro. A principal novidade deste ano é a inclusão de duas novas categorias: Texto e Multiplataforma.

A categoria Texto vai premiar reportagens em texto publicadas em veículos impressos ou eletrônicos; e Multiplataforma vai reconhecer trabalhos que combinam, de forma integrada, pelo menos dois formatos jornalísticos. Essas duas se juntam às já tradicionais categorias Áudio, Fotojornalismo, Meio Ambiente e Transporte, Vídeo e Comunicação Setorial, totalizando sete categorias.

Podem ser inscritos trabalhos veiculados entre 6 de agosto de 2024 e 12 de agosto de 2025. Os vencedores de cada categoria receberão R$ 35 mil e disputarão o Grande Prêmio CNT, que premiará o melhor trabalho entre os vencedores com a quantia de R$ 60 mil. Entre os critérios de avaliação dos trabalhos estão: impacto no setor de transporte e para os transportadores; excelência editorial; importância social; criatividade e originalidade; e pertinência atual.

Os vencedores serão anunciados em novembro.

Confira o regulamento completo e inscreva-se aqui.

Documentário brasileiro sobre Cuidados Paliativos está disponível no Globoplay

Documentário brasileiro sobre Cuidados Paliativos está disponível no Globoplay
Crédito: National Cancer Institute/Unsplash

Está disponível no catálogo do Globoplay, pela grade do Canal Futura, o filme Uma Boa Notícia – o conforto sob a tempestade, que aborda os Cuidados Paliativos no Brasil e a rotina dos profissionais de saúde e pacientes que enfrentam doenças graves e progressivas. É o primeiro documentário brasileiro sobre o tema que está disponível nas plataformas de streaming.

A equipe do documentário foi até o maior câncer center de Cuidados Paliativos do País para mostrar o dia a dia e as estratégias de atendimento dos profissionais de saúde. O filme mostra a atuação desses profissionais e o benefício da abordagem deles com pacientes e familiares impactados por doenças ameaçadoras, que inspiram um olhar mais humano dentro e fora dos hospitais. “Cuidados Paliativos não são o fim, são apenas o começo”, diz a sinopse do filme.

O documentário é uma realização de Instituto Ana Michelle Soares e A.C.Camargo Cancer Center. A direção é de Flávio Vieira, que também assina o roteiro, ao lado de Tom Almeida e Juliana Dantas, esta última jornalista especializada em Cuidados Paliativos, morte e luto, e que comandou por muitos anos o podcast Finitude, ao lado de Renan Sukevicius.

TV Fronteira processa Globo para manter contrato de afiliação em Presidente Prudente (SP) até 2030

TV Fronteira processa Globo para manter contrato de afiliação em Presidente Prudente (SP) até 2030

A TV Fronteira, afiliada da TV Globo em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, entrou na Justiça contra a emissora carioca para manter o contrato de afiliação até pelo menos 2030. Mesmo com um acordo para encerrar o contrato em agosto, a TV Fronteira alega que precisa do vínculo com a Globo para continuar existindo. As informações são de Gabriel Vaquer, do F5 (Folha de S.Paulo).

Em outubro do ano passado, a Globo enviou uma notificação à TV Fronteira informando que o acordo de afiliação não seria renovado, e o contrato seria encerrado em agosto de 2025. O principal motivo alegado pela Globo é o uso inadequado da TV Fronteira por parte de Paulo Oliveira Lima, presidente do Grupo Paulo Lima, dono do canal. A emissora carioca alega que Paulo, que foi candidato à prefeitura de Presidente Prudente em 2024, usou a TV Fronteira para promover sua própria imagem.

Levantamento do F5 mostrou que Paulo apareceu, de forma positiva, em ao menos 25 reportagens no programa Fronteira Notícias, exibido diariamente no horário do almoço, no primeiro semestre do ano passado.

Já a TV Fronteira argumenta que, sem o aporte financeiro da Globo, a emissora deixaria de existir e precisaria demitir seus mais de 120 funcionários. No final do ano passado, a Fronteira assinou um termo aditivo para fazer a transição para a TV Tem, que vai ocupar o lugar como afiliada da Globo em Presidente Prudente. Mas a TV Fronteira explicou que só assinou o documento não fechar as portas naquele momento.

A ação da TV Fronteira contra a Globo é inspirada no caso da TV Gazeta, de Alagoas, cujo dono é o ex-presidente Fernando Collor. Desde 2023, as duas emissoras brigam na Justiça para manter ou romper o acordo de afiliação. O caso está agora no Superior Tribunal de Justiça.

Nova ferramenta de IA do Google pode reduzir audiência de sites noticiosos, diz Núcleo

Nova ferramenta de IA do Google pode reduzir audiência de sites noticiosos, diz Núcleo
Crédito: Christin Hume/Unsplash

O Google está testando novos recursos com Inteligência Artificial no Discover, ferramenta que exibe conteúdo personalizado para os usuários com base em seus interesses e atividades na web. A ideia é utilizar a IA para fazer resumos de notícias publicadas por sites de veículos jornalísticos. O problema é que esse recurso tem o potencial de diminuir drasticamente a audiência desses mesmos sites de notícias. As informações são do Núcleo Jornalismo.

Segundo a reportagem do Núcleo, diversos sites dos Estados Unidos especializados em tecnologia, como PC Mag, 9to5Google e Android Police, noticiaram que o Google está testando esse novo recurso com Inteligência Artificial. Porém, o Núcleo explicou que esses resumos de notícias que passarão a ser exibidos na ferramenta do Google vão reduzir significativamente o número de cliques nos links e sites de veículos jornalísticos. Se todo o conteúdo que as pessoas buscam for disponibilizado para elas via esse recurso do Google, elas não verão necessidade de clicar nos links dos sites noticiosos, o que reduzirá drasticamente a audiência.

“Caso confirmada a implementação mais ampla desses resumos no Discover, o Google poderá despencar ainda mais como fonte de referência para muitos veículos de notícia que dependem da ferramenta de recomendação da empresa – considerada um “canhão” de audiência”, diz a reportagem do Núcleo.

Um estudo publicado pela agência Ahrefs em abril deste ano analisou a queda de audiência causada pelo AI Overview, recurso do Google lançado em 2024 que permite sumarizar o resultado de buscas feitas por seu mecanismo. Segundo o estudo, quando uma dessas respostas automáticas é mostrada, o número de cliques em links de referência cai 34,5%.

Em maio deste ano, o Google anunciou que sua própria barra de buscas havia virado basicamente um chatbot de IA, gerando respostas automáticas que podem afetar ainda mais a audiência de sites noticiosos.

100 anos de Rádio no Brasil: Os podcasts conectaram-se ao mundo

Por Álvaro Bufarah (*)

O podcast vai se firmando como a trilha sonora do cotidiano de milhões de pessoas em todo o planeta. Longe de ser moda passageira, o formato já se tornou parte vital da dieta midiática global – e o Brasil, com seu DNA radiofônico e oralidade vibrante, posiciona-se acima da média mundial no consumo semanal de podcasts, segundo os dados mais recentes da YouGov (2025).

De acordo com a pesquisa YouGov Global Profiles, que cobre 49 mercados em todos os continentes, 41% dos consumidores globais escutam pelo menos uma hora de podcast por semana. E o Brasil não apenas acompanha esse ritmo, como ultrapassa a média: por aqui, 44% dos brasileiros declaram consumir o formato com frequência semanal, o que coloca o País entre os líderes da América Latina – atrás apenas do México (50%) e à frente da Colômbia (41%).

Berço da oralidade rica do rádio popular, das novelas radiofônicas e das rodas de conversa, o Brasil adaptou-se como poucos à lógica do podcasting. O formato, ao permitir escuta sob demanda, portabilidade e diversidade de vozes, encontrou solo fértil na pluralidade cultural e nas desigualdades de acesso que o País enfrenta. Afinal, como mostram dados do IBGE e do CETIC.br, o smartphone é o principal meio de acesso à internet no Brasil, sendo também o principal dispositivo de escuta de podcasts.

A expansão do formato, no entanto, não é exclusividade das terras tropicais. A pesquisa mostra que os maiores índices de engajamento estão em regiões aparentemente menos óbvias: o Oriente Médio e o norte da África são líderes globais na escuta regular. África do Sul, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos despontam com taxas que superam os 50%. Na Ásia, Tailândia, Indonésia e Índia reforçam a força do podcasting como um fenômeno de massas, com destaque para conteúdos educativos e espiritualistas, que se popularizam em apps locais.

Na Europa, o panorama é multifacetado. Enquanto os países escandinavos e do Leste Europeu já incorporaram o podcast como meio cotidiano, outras nações tradicionalmente ligadas à mídia impressa, como França e Alemanha, ainda demonstram um crescimento mais tímido. O Japão, por sua vez, registra níveis moderados, apesar de ser um dos maiores mercados de tecnologia e entretenimento do mundo – reflexo de uma preferência cultural por mídias visuais e conteúdos estruturados de forma diferente do modelo ocidental de podcast.

Os Estados Unidos, como era de se esperar, mantêm uma posição sólida. São o berço do podcast moderno – com plataformas como Apple Podcasts, Spotify e Amazon liderando a distribuição. Porém, a surpresa vem do Canadá, cujo engajamento é bem mais comedido, revelando que nem sempre o idioma ou a proximidade geográfica garantem aderência midiática semelhante.

No Brasil, os dados do Spotify e da Globo mostram que o público ouvinte cresce de forma exponencial, impulsionado por formatos variados: de investigações jornalísticas, como o Projeto Humanos, a humorísticos, como Podpah e Flow, passando por podcasts religiosos, de true crime e de educação financeira. Segundo a Kantar IBOPE Media, em 2024, mais de 40 milhões de brasileiros consumiam podcasts com regularidade.

Essa diversidade de vozes e narrativas dialoga com um mundo cada vez mais fragmentado e veloz. A escuta sob demanda oferece refúgio, companhia e, por vezes, sentido. Como destacou a jornalista americana Sarah Larson em artigo para a New Yorker, “os podcasts nos fazem companhia como um velho amigo invisível”. Esse companheiro invisível, aliás, atravessa fronteiras, sotaques e fusos horários com uma facilidade rara.

E por trás da expansão global do podcast está a sofisticação tecnológica: algoritmos de recomendação, análises de comportamento e a inteligência artificial já ajudam a moldar playlists personalizadas, criar vozes sintéticas e gerar transcrições automáticas. Ferramentas como a Podscribe e a Descript vêm transformando a forma como podcasts são editados e distribuídos.

Voltando ao Brasil, a oralidade que nasce no rádio, espalha-se pelos aplicativos de mensagens e encontra eco nos podcasts é parte da nossa identidade cultural. Ouvir, por aqui, é ato de resistência, de lazer, de aprendizado e de presença. Somos falantes por natureza – e agora também somos ouvintes de nós mesmos, em múltiplas telas e dispositivos.

A pesquisa da YouGov apenas confirma o que o cotidiano nos mostra: o podcast deixou de ser nicho. Tornou-se mainstream. E mais do que um formato, é uma linguagem, uma prática cultural que conecta vozes e mundos. Em tempos de ruído e dispersão, ainda há quem escolha escutar.


Fontes complementares:

  • YOU GOV. Global Profiles: Podcast listeners worldwide. 2025. Disponível em: https://yougov.com
  • KANTAR IBOPE MEDIA. Inside Radio Podcast Brasil. 2024.
  • LARSON, Sarah. Why Podcasts Are the Perfect Medium for the Pandemic Era. The New Yorker, 2020.
  • CETIC.br. TIC Domicílios 2023 – Acesso a dispositivos e conteúdos digitais.
Álvaro Bufarah

Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

(*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

Preciosidades do acervo Assis Ângelo: O cego na História (15)

Preciosidades do acervo Assis Ângelo: O cego na História (15)
Manuel Bandeira

Por Assis Ângelo

Neste mundo velho sem porteira todos influenciam todos. Quando todos têm o que dizer, pra lá ou pra cá.

Inteligência não é produto.

No campo da filosofia, Sócrates influenciou Platão, que influenciou Aristóteles, que influenciou…

O francês René Descartes (1596-1650) estudou filosofia e matemática. Como Newton, tinha também paixão pela Ciência.

Isaac Newton (1643-1727) foi aquele cara que tentou descobrir e provar que a luz saía dos olhos, da retina, ao contrário do que pensavam os gregos. Pra isso, chegou a furar seus olhos…

Em 1637, Descartes publicou Discurso do Método. Nesse livro, definiu com primor a razão do ser em movimento na vida. Está lá: “Penso, logo existo”.

A isso chamou-se racionalismo. Quer dizer: a razão antes de qualquer compreensão.

Claro que Descartes leu os gregos, pois não à toa cravou com simplicidade a frase que nos faz pensar até hoje: “Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir”.

E nesse mundo velho sem porteira quem não filosofa, hein?

Muita gente deve saber, e se não sabe fica sabendo agora, que o mineiro João Guimarães Rosa falava bem e muito bem umas 20 línguas, incluindo inglês, francês, italiano, espanhol, russo, árabe, húngaro, chinês, japonês e alemão.

João Guimarães Rosa (Reprodução: Wikimedia Commons)

Entre os autores alemães, Rosa apreciava e muito Schopenhauer e Nietzsche. Além desses dois, que ele cita aqui e ali em livros, gostava também de Franz Kafka (1883-1924).

De Kafka, Rosa colheu como fruto o fantástico permeado de um humor irretocável. Só dele.

Como se seguisse a dica de viver filosofando, o mestre de Minas faz isso em todos os seus contos e romances. Quer ver?

“As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

“Viver é muito perigoso”.

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.

“Felicidade se acha é em horinha de descuido”.

“Metafísica: é um cego, com olhos vendados, num quarto escuro, à procura de um gato preto que não existe”.

O nosso Rosa tinha óculos com lentes dessa grossura. Ele e tantos outros escritores e poetas como Manuel Bandeira (1886-1968) e Carlos Drumond de Andrade (1902-1987).

Não são poucos os cegos que Rosa põe pra andar nas páginas dos seus livros.

No conto Um Moço Muito Branco, aparecem o cego Nicolau e um padre de nome Baião. Esses dois personagens, como o moço branco, dão vida ao povoado de Serro Frio.

Em Grande Sertão, o cego é Borromeu. A propósito, Bandeira enviou uma curiosa e engraçada carta a Guimarães Rosa, datada de 13 de março de 1957. Nessa carta, são elogiados o autor e personagens lá contidos, como o cego e o seu guia, Guirigó.

João Guimarães Rosa era uma pessoa muito antenada. Anotava tudo o que lhe interessava.

Os filósofos da predileção de Rosa eram ateus. Ele, não.

Manuel Bandeira também não era de frequentar igreja, mas era também um cara muito curioso. Lia muito. Entre as leituras de seu interesse, a história antiga.

Era menino ainda Bandeira quando a história de Pasárgada lhe chamou a atenção. Atenção essa que resultou, em 1930, no poema famoso Vou-me embora pra Pasárgada:

Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que quero

Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

− Lá sou amigo do rei −

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Passárgada foi a primeira capital do Império Persa.


Contatos pelos assisangelo@uol.com.br, http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333

O adeus a Luiz Roberto de Souza Queiroz

Bebeto Queiroz em depoimento para o documentário Estranhos na Noite – Mordaça no Estadão em tempos de censura (Crédito: Estadão/YouTube)

Morreu em 17/7 Luiz Roberto de Souza Queiroz, mais conhecido como Bebeto Queiroz, aos 83 anos, vítima de um infarto fulminante. Com mais de 50 anos de jornalismo, o profissional fez carreira atuando no Grupo Estado. Foi também um dos principais colaboradores do espaço Memórias da Redação, do Jornalistas&Cia.

Bebeto formou-se em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Ainda na faculdade, chegou ao Grupo Estado, onde faria sua carreira como jornalista. No Grupo, atuou como repórter do Estadão, Jornal da Tarde e Rádio Eldorado (no programa Horizontes). Em 1966, publicou um de seus primeiros trabalhos no Estadão: uma série de reportagens, no Suplemento Turismo, sobre uma viagem que fez em um Jipe de São Paulo até Rondônia, com o título De São Paulo até onde deu, publicada em cinco semanas.

Fez parte da equipe vencedora do Esso de Melhor Contribuição à Imprensa em 1975 pelo Suplemento Especial publicado em comemoração aos 100 anos do Estadão. O suplemento foi fruto de três anos de trabalho em um levantamento histórico, que serviu como base para a produção dos cadernos do centenário. Bebeto esteve presente também em momentos importantes da trajetória do Estadão, como o caso de censura em 1973 durante a Ditadura Militar que proibiu a publicação da demissão do então ministro da Agricultura, Cirne Lima. Além disso, auxiliou Carlos Lacerda na pesquisa para um livro sobre Julio Mesquita, proprietário do Estadão, e acompanhou Claude Lévi-Strauss na visita do antropólogo francês à USP em 1985.

Além do trabalho no Estadão, Bebeto atuou em TV Globo e Bandeirantes e foi diretor do Departamento de Jornalismo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Fundou, ao lado da esposa e também jornalista Táta Gago Coutinho, a agência de conteúdo LRSQ Comunicação Empresarial. É autor de livros como A imprensa brasileira e O Eucalipto – Cem anos de Brasil. Escreveu também diversas obras focadas em pesquisa histórica e fauna silvestre.

Planejar pensando nas pessoas: curso completo discute urgência do planejamento em comunicação pública

Webinário debate Inteligência Artificial e Comunicação Pública em lançamento de e-book

Crises inesperadas, excesso de demandas operacionais, urgências e interferências externas: todos esses fatores impactam diretamente o cotidiano dos comunicadores públicos. Ainda assim, planejar é preciso. Esse foi o eixo central do segundo módulo do Curso Completo em Comunicação Pública – parceria da ABCPública com a Aberje – realizado no mês de maio.

“Planejar a comunicação é justamente o que permite atravessar os momentos de maior instabilidade sem perder o rumo”, destacou Aline Castro, comunicadora e uma das docentes do curso. Segundo ela, é essencial que os profissionais desenvolvam planos consistentes e realistas, com metas mensuráveis, que levem em conta a realidade institucional (diagnóstico) e o que se pretende construir (objetivos), considerando os cenários existentes.

Planejamento para pessoas, não públicos

Uma provocação importante do módulo foi a necessidade de romper com a lógica abstrata do “público-alvo” e adotar uma visão mais empática e segmentada. A pergunta central proposta foi: “Para quem estamos planejando a comunicação?”.

“Temos que ver as pessoas menos como público e mais como indivíduos. Quanto mais fizermos isso, mais efetivos vamos ser”, afirmou Aline durante a aula. Ela lembrou que cidadãos são diversos, com interesses e necessidades distintas, e que pensar neles como massa homogênea compromete a eficácia da comunicação pública.

A lógica do planejamento deve ser, portanto, um mix entre as necessidades das pessoas e os objetivos da instituição pública. Uma comunicação sem planejamento, alertou Aline, “tem potencial de atrapalhar mais do que ajudar”.

Antes de planejar, é preciso construir uma Política de Comunicação

Convidado especial do módulo, o professor Wilson da Costa Bueno chamou a atenção para um ponto central quando o assunto é comunicação estratégica: a importância de se institucionalizar políticas de comunicação. “Muitas instituições ainda enxergam o planejamento de forma exclusivamente operacional, o que reduz sua potência estratégica”, observou o professor.

Segundo ele, uma política de comunicação sólida deve vir antes do plano de ações e envolver instâncias como a alta administração, a área de recursos humanos, a tecnologia da informação e outros setores-chave. Ele destacou que esse processo de construção da política exige tempo e comprometimento: “Qualquer coisa feita em menos de seis meses não discutiu todas as questões de forma abrangente.”

O professor Wilson ressaltou ainda que a política de comunicação é o que permite decisões mais integradas e sustentáveis ao longo do tempo, alinhando expectativas, prioridades e recursos disponíveis.

O Curso Completo em Comunicação Pública ainda está acontecendo e tem módulos agendados até outubro de 2025. Veja aqui a programação completa e participe!

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