O fotógrafo Nuremberg José Maria, de 67 anos, foi atingido por uma bomba no domingo (10/11), durante a final da Copa do Brasil entre Flamengo e Atlético Mineiro, na Arena MRV, em Belo Horizonte. Após o gol do time carioca, torcedores do Atlético arremessaram bombas no gramado. O fotógrafo quebrou três dedos, teve lesões nos tendões e no pé e precisou passar por cirurgia.
Nuremberg estava à beira do gramado quando ocorreram os episódios de violência e acabou sendo atingido por um dos rojões. Ele foi atendido por enfermeiros do estádio e posteriormente encaminhado para o hospital. Até a publicação deste texto, o estado de saúde do fotógrafo não havia sido atualizado.
Segundo reportagem do jornal O Tempo, a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de Minas Gerais (Arfoc-MG) já havia reportado anteriormente ao Atlético Mineiro sobre problemas de segurança que poderiam colocar em risco a integridade física dos profissionais de imprensa na Arena MRV.
Em nota, a entidade repudiou a violência e informou que outros profissionais de imprensa também foram afetados: “Associados da Arfoc-MG, Arfoc-Rio, Arfoc-São Paulo e os demais profissionais de imprensa foram atingidos por bombas, copos de cerveja, refrigerante e água, lançados por torcedores. Um dos associados teve o banco quebrado devido à explosão de uma bomba e os equipamentos danificados pela água. Outros fotógrafos também relataram a mesma situação”.
O Atlético Mineiro também se posicionou sobre o ocorrido. O clube lamentou a violência, declarou que “vai entrar em contato com Nuremberg para oferecer toda a assistência possível para sua recuperação e seguirá colaborando com as autoridades para identificação dos culpados”.
Fábio Gusmão vem com uma nova edição de Dona Vitória Joana da Paz – A história por trás da câmera que mudou a história de um bairro e marcou o país (Planeta). O autor, há 25 anos no Grupo Globo, cobriu segurança pública no jornal Extra durante dez anos e conquistou prêmios importantes, como Esso, Embratel, Vladimir Herzog e Tim Lopes.
Em 2005, uma série de reportagens dele para o jornal Extra mostrou como uma senhora de 80 anos reagiu ao descaso das autoridades com uma situação absurda. Ela comprou uma câmera para registrar, da janela de seu apartamento em Copacabana, a rotina de uma quadrilha da Ladeira dos Tabajaras. Isso resultou em uma investigação que terminou com 34 prisões.
Ao enfrentar o tráfico e a corrupção policial, ela passou ao Programa de Proteção à Testemunha, que lhe atribuiu o nome de Dona Vitória. Em 2006, Gusmão lançou o livro Dona Vitória da Paz contendo o relato das reportagens. Com a morte da personagem, no ano passado, aos 97 anos, sua identidade pôde ser revelada e o autor quis dar o crédito a sua coragem. Após 18 anos do lançamento original, a nova edição do livro traz os desdobramentos que ocorreram desde a primeira edição.
Essa história é contada no filme Vitória, protagonizado por Fernanda Montenegro e dirigido por Andrucha Waddington, em original Globoplay, com produção da Conspiração. O trailer está nas redes sociais, e a Sony Pictures anunciou para 13/3/2025 a estreia nos cinemas. Em São Paulo, o livro terá uma sessão de autógrafos dia 12/11, na Livraria da Travessa de Pinheiros
Já estão à venda as mesas e lugares para a cerimônia de premiação da edição 2024 do Prêmio Jatobá PR, que será realizada na noite de 2 de dezembro (Dia Nacional das Relações Públicas), no Hotel Renaissance, em São Paulo. As vendas permanecerão abertas até a lotação máxima, que é de 360 lugares. Grupos que adquirirem mesa (dez lugares) terão desconto de 10% no total da compra; e os que optarem por meia mesa (cinco lugares), desconto de 5%. O valor até quatro assentos é de R$ 630 por pessoa; de cinco até nove assentos, de R$ 600; e de dez e acima, R$ 570.
O evento, ao longo do jantar, homenageará os 172 cases classificados para a final e distinguirá com o Troféu Jatobá PR os vencedores das 33 categorias em disputa e dos Cases Regionais do Ano (5), Cases do Ano (3) e Organizações do Ano (3), num total de 44 premiações. No total, serão 91 as organizações com cases em disputa, considerando-se que algumas delas classificaram mais de um case.
Na mesma noite haverá a homenagem especial à ABCPública, com a outorga do Troféu Jatobá Decio Paes Manso de Contribuição à Comunicação Corporativa e ao PR, o mesmo entregue à Abracom em 2022 e à Aberje, em 2023, que é uma iniciativa do Grupo Empresarial de Comunicação (Gecom), mantenedor do projeto.
Banco de Cases já incorporou os 336 trabalhos inscritos na atual edição
Todos os trabalhos inscritos na edição 2024 do Prêmio Jatobá PR já foram incorporados ao acervo do Banco de Cases, que atualmente conta com quase 1.500 projetos, considerando-se as oito edições da premiação. Esse Banco é público e pode ser acessado livremente, de forma gratuita, por qualquer interessado. É muito visitado por acadêmicos, compradores, executivos de comunicação, agências, pesquisadores e demais interessados em conhecer o estado da arte no segmento de comunicação corporativa.
Meu Jatobá, um espaço para o armazenamento dos cases
Uma das inovações recentes do Prêmio Jatobá PR foi a criação do espaço Meu Jatobá no site da premiação, direcionado a toda e qualquer organização que queira ordenar seus cases de comunicação, tanto pensando em premiações, quanto para servir de referência e construir a memória da empresa ou agência ao longo do tempo. Não tem qualquer custo e seu acesso é feito por login e senha da própria organização que utilizar o serviço.
Certificados para os profissionais já estão disponíveis
Os certificados profissionais para todos os integrantes das equipes que classificaram cases para a finalíssima do Prêmio Jatobá PR estão disponíveis em formato online e podem ser impressos pelos próprios interessados, sobretudo para incluir em suas redes sociais e mesmo para compor os respectivos currículos. Eles podem ser baixados no Banco de Cases, nos respectivos cases, pois os mesmos já foram ali incluídos.
Foram definidos os vencedores da 31ª edição do Prêmio CNT de Jornalismo, que valoriza trabalhos jornalísticos relacionados ao setor de transporte e logística. O vencedor de cada uma das sete categorias temáticas receberá R$ 35 mil. E a premiação do Grande Prêmio é de R$ 60 mil. A cerimônia de entrega do prêmio será no dia 4 de dezembro, em Brasília.
Nesta edição, o vencedor do Grande Prêmio foi Chico Regueira, da TV Globo, com a série O tempo de cada um, sobre como o transporte de baixa qualidade contribui para a exclusão social.
Em Comunicação Setorial, o primeiro lugar ficou com Tânia Mara Gouveia Leite, da Revista Ônibus, da Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro, com a matéria Mudanças nos hábitos de deslocamento.
A fotografia vencedora da categoria Fotojornalismo foi de Adriano Henrique Machado, da Reuters. A imagem mostra um avião no meio das inundações geradas pelas chuvas fortes no Rio Grande do Sul.
A trajetória do ex-repórter da Globo Maurício Kubrusly ganhará um documentário no Globoplay. Famoso pelo quadro Me Leva, Brasil, no qual viajava pelo País para contar histórias, Kubrusly foi diagnosticado com demência frontotemporal (DFT), doença que compromete a comunicação e a memória. Atualmente, mora com a esposa no sul da Bahia.
Intitulado Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí, o longa de Evelyn Kuriki e Caio Cavechini será exibido em 22/11 na abertura da 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, no Rio Grande do Norte. No Globoplay, a produção deve estrear em dezembro.
Seis anos após adquirir os direitos da revista Vida Simples, a publisher e CEO Luciana Pianaro anunciou em 3/11, em seu perfil no Instagram, que deixará a gestão diária da plataforma, mas seguirá como proprietária da empresa. “Sigo levando tudo que aprendi na Vida Simples, minha maior conquista e também meu maior desafio enquanto empreendedora, líder e pessoa”, afirmou.
Quem assume a partir de agora é Ivana Moreira, fundadora da Canguru News, edtech focada em educação parental, que teve passagens por Metro Jornal, Veja BH, BandNews FM, Estadão e Valor Econômico.
Deise DallaNora está de cargo novo na Yara, companhia em que atua desde 2018. Acaba de assumir a recém-criada Diretoria de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade, tendo pela frente “o desafio fortalecer as ações e parcerias com instituições públicas e privadas para escalar as iniciativas da marca, alinhadas à ambição global de cultivar um futuro alimentar positivo para a natureza”.
Deise estará à frente das áreas de relações públicas e de relações governamentais, e ainda desenvolverá um trabalho amplo do negócio voltado para sustentabilidade ambiental, conectado à atuação ESG.
Depois de dois turnos concorridíssimos e de intensa participação de jornalistas e profissionais de Comunicação de todo o Brasil, chegou a hora de homenagear os +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira, em noite para lá de especial, que receberá, no Itaú Cultural, os eleitos TOP 50 do Brasil e os TOP 5 das categorias Imagem/Vídeo, Veículos Liderados por Jornalistas Negros e Veículos Gerais. Todos receberão os certificados alusivos ao prêmio conquistado.
Durante a cerimônia, que terá início às 18h30 de 11/11, serão revelados os TOP 10 mais votados (os +admirados entre os +admirados) e os mais votados nas outras três categorias.
Também farão parte da solenidade as homenagens especiais aos Decanos do Jornalismo, Valdice Gomes e Dennis de Oliveira, que receberão o Troféu Luiz Gama; à Personalidade do Ano, o jogador de futebol Vini Jr., da Seleção Brasileira e do Real Madrid, com o Troféu Gloria Maria; e à Revelação do Ano, Hellen Lirtêz, da Amazônia Real, que receberá o Troféu Tim Lopes.
Iniciativa conjunta deste J&Cia, dos sites 1 Papo Reto e Neo Mondo e da Rede Jornalistas Pretos – Jornalistas pela Diversidade na Comunicação, o Prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira conta com Patrocínio Ouro da Unilever, Patrocínio Bronze de DOW, LATAM e Uber, apoio institucional de GSS e apoio do Itaú Cultural.
Os admirados apresentadores da cerimônia
Eliane de Souza Almeida
Dois dos mais prestigiados profissionais da imprensa brasileira aceitaram novamente o convite dos organizadores para abrilhantar ainda mais o evento de premiação: Eliane de Souza Almeida e Luiz Claudio Alves, colegas com uma respeitável trajetória.
Eliane de Souza Almeida é jornalista, mestre em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo e doutoranda em Mudança Social e Participação Política pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, além de ativista antirracista independente e membro da Rede Jornalistas Pretos – Jornalistas pela Diversidade na Comunicação.
Luiz Claudio Alves
Luiz Claudio Alves, natural de Brasília, começou no rádio em 1989 e profissionalizou-se como locutor e operador pela Rádio Oficina, no bairro do Cambuci, em São Paulo, e pelo Senac. Em 2010, foi para a Rádio Cultura de Campinas, atual CBN, em que atuou como editor e produtor de áudio jornalístico até 2021. Em 2017, deu início ao projeto de comunicação voltado à comunidade negra que em 2018 se tornaria o site Imprensa Preta − Comunicação e Diversidade, na Região Metropolitana de Campinas. No mesmo ano participou da fundação da ONG Rede JP. Em 2021, participou do Caucus of Journalists pelo Estado da Diáspora. Atualmente é consultor especial da Presidência para a Bancada Pan-Africana de Jornalistas da SOAD − State of African Diaspora.
E não vai faltar emoção, nem música
Lucas Gomes
Em paralelo à emoção das homenagens para celebrar tanto o jornalismo quanto a presença dos negros nas redações brasileiras, o Prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira terá um outro convidado especial, o trompetista Lucas Gomes.
Sobre ele, diz Rosenildo Ferreira, de 1 Papo Reto: “Aficionado por Chet Baker, Miles Davis, Kenny G e outros mestres do sopro, o trompetista Lucas Gomes é um dos jovens talentos da cena jazzística de São Paulo. Seu trabalho mistura influências do jazz tradicional com sons na levada do blues e do funk”.
Finalista do Prêmio Jabuti, Discursos de ódio contra negros nas redes sociais propõe soluções na luta contra ataques e crimes digitais
Eleita pela ONU como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo em 2021, Luciana Barreto, âncora da TV Brasil e ex-CNN, foi convidada em 2016 pelo Departamento de Estado dos EUA para visitar um projeto que tinha como objetivo conscientizar sobre a importância da tolerância em escolas do Alabama.
Impressionada com a iniciativa e seus resultados, ela retornou com um desafio: estudar e entender as motivações dos discursos de ódio contra negros nas redes sociais, para no futuro implementar algo similar no Brasil.
Em entrevista a este Portal dos Jornalistas e para a coluna J&Cia Livros, de Jornalistas&Cia, ela falou, entre outros assuntos, sobre sua relação com o tema, como lidar com pessoas que fazem ataques e cometem crimes nas redes sociais, a surpresa pela indicação ao Jabuti, o sonho de replicar no Brasil o projeto estadunidense de sucesso e a importância da pressão nas big techs para barrar ataques criminosos digitais.
Portal dos Jornalistas/J&Cia Livros – De onde veio a inspiração para escrever ‘Discursos de ódio’?
Luciana Barreto – Pelo trabalho que realizo, de vez em quando sou convidada por alguns governos para visitá-los e conhecer movimentos sociais em seus países. Este foi o caso em 2016, quando o Departamento de Estado dos Estados Unidos me convidou para ir ao Alabama conhecer o Teaching Tolerance (ensinando tolerância, em português), programa que acabou sendo motivador da minha dissertação de mestrado. O Alabama, vale lembrar, é berço dos direitos civis nos Estados Unidos. Um lugar onde teve muito conflito racial e mortes, e eles tinham essa preocupação com a escalada do ódio. E eu achei incrível a iniciativa, pois ela dava orientação aos professores e alunos, oferecia apoio jurídico e contava inclusive com um museu físico para as pessoas visitarem e conhecerem os momentos de ódio vividos no passado. Então, voltei para o Brasil pensando que a gente deveria ter algo semelhante, mas para isso seria preciso estudar a nossa própria história, até para entender o conceito do discurso de ódio.
PJ/J&Cia Livros – Como foi abordar um tema do qual você certamente também já foi vítima?
Luciana – É claro que para um pesquisador é sempre complicado, pois a gente precisa de um certo distanciamento. Mas, por outro lado, justamente por estar inserida nesse contexto, eu conseguia entender os meandros do discurso de ódio contra negros. Além disso, o que mais me incomodava não eram os ataques que eu sofria, mas sim o que amigas minhas sofriam, principalmente aquelas com a pele mais retinta ou que estavam mais perto do poder, porque estas tendem a ser ainda mais atacadas. Me incomodava ver pessoas que eu admirava, em posição de poder, de repente frágeis por causa de ataques, a maioria deles coordenados. Tudo o que eu queria era entender o objetivo dessas pessoas e que tipo de recurso elas utilizavam para fragilizar as vítimas e assim ajudar minhas amigas a entenderem que eles estavam buscando algo que elas não deveriam entregar.
PJ/J&Cia Livros – Você pretende ampliar esse projeto de alguma forma?
Luciana – Eu gostaria de implantar algo similar ao Teaching Tolerance no Brasil, mantendo as bases de apoio e combate ao ódio. Enquanto a gente não se aprofundar e trabalhar em conjunto com as plataformas digitais, os discursos de ódio tenderão a ficar entre nós, que sofremos com ele, e isso é um problema, porque ele faz muitas vítimas. O discurso de ódio mata. Então, eu tenho muita preocupação com isso. Não desisti de influenciar empresas, grupos, governos, ou seja, alguém que possa fazer algo consistente no combate ao ódio no País.
PJ/J&Cia Livros – Nas primeiras linhas do seu livro você alerta o leitor que, apesar do título, se trata de uma obra de esperança. Passados oito anos desde o início dos seus estudos sobre o tema, período em que houve uma clara escalada de intolerância nas redes sociais, inclusive racial, como anda a sua esperança?
Luciana – Estou com a esperança muito em alta ainda. Acho que a gente atravessou um período muito obscuro na história recente do Brasil. Um período em que as pessoas achavam que, em nome da liberdade de expressão, você poderia cometer crimes, utilizar fake news, matar a reputação das pessoas e levar pessoas a se matarem. A gente viu que foi extremo, mas também viu que temos recursos e uma democracia e instituições fortes para combater esse tipo de atitude, e isso me trouxe muita esperança. Tenho muita esperança nas instituições brasileiras.
PJ/J&Cia Livros – Em que momento você acredita que estamos na abordagem sobre o tema?
Luciana – Eu acho que no da autoproteção, com dois vieses importantes. O primeiro, de como se proteger do odiador, conhecer que tipo de recursos ele utiliza e entender a cabeça dele para nos protegermos. Este ponto, eu acho que está ok. Mas temos o outro lado, muito importante, que é a pressão sobre as big techs, que são muito coniventes com esses odiadores. E neste caso a gente ainda vai ter muita luta pela frente.
PJ/J&Cia Livros – Você aprofunda a discussão sobre a diferença de liberdade de expressão e discurso de ódio. Na sua opinião, a maioria dos casos acontece por ignorância legal ou simplesmente falha de caráter? Dá para separar uma coisa da outra?
Luciana – Há uma forte tentativa de burlar os conceitos e misturar tudo. Liberdade de expressão não te dá o direito de cometer crime de racismo, de homofobia, de ser misógino, de matar a reputação de pessoas, enfim, de cometer fake news. A gente ainda precisa de legislação para tudo isso. Sobre a motivação dos crimes, vejo que ela é estrutural, econômica e social. Crimes que a gente viu, por exemplo, contra a Miss Brasil(*), que eu cito no livro, onde encontramos ataques dizendo “cara de empregadinha. Não era para estar aí”, mostram onde esse odiador acredita que a mulher negra tenha que estar, que é na cozinha, limpando. Por outro lado, também há uma questão econômica, em que ela não pode estar em espaços de poder ou da beleza. Mas eu acho muito ingênuo a gente falar em caráter nessa história, pois muitas dessas pessoas sabem exatamente o que estão fazendo.
(*) Em 2017, Monalysa Alcântara, Miss Piauí, foi vítima de uma série de ataques após vencer o concurso de Miss Brasil
PJ/J&Cia Livros – No seu livro, você também apresenta um acompanhamento profundo sobre o crescimento do discurso de ódio contra negros em um âmbito geral. E contra jornalistas negros, qual sua percepção?
Luciana – Já existem pesquisas que mostram que jornalistas mulheres são mais atacadas, seja de maneira misógina, ou atrelando com outros problemas, como gordofobia e racismo. E nessa escalada, as mulheres jornalistas negras são muito mais atacadas. A questão é que quando a gente tenta quantificar isso, há tão poucas mulheres negras no jornalismo que os números gerais acabam não sendo tão significativos. Mas tenho certeza de que, se você relativizar, vai ver que as mulheres negras são muito atacadas, porque aí mistura misoginia e racismo. Tem essa intersecção.
PJ/J&Cia Livros – Você também mostra em ‘Discursos de ódio’ como as políticas de ação afirmativa acabaram resultando em uma escalada nos ataques contra negros nas redes sociais. Traçando um paralelo com o Jornalismo, em que a representação de profissionais negros nas redações é bem inferior ao da população em geral, passamos a ver nos últimos anos uma cobrança por perfis mais diversos no setor. Você acha que esse movimento também gerou ou pode gerar algum tipo de reação negativa entre profissionais do setor?
Luciana – Essa pergunta é bem sensível, porque estamos falando de colegas de trabalho e de profissão. O que eu posso dizer é que somos brasileiros e como brasileiros crescemos nessa estrutura racista. Então, é normal que a gente ainda tenha essa mentalidade, mesmo entre jornalistas, bastante racista, ou talvez com vieses inconscientes. Um exemplo é que ainda hoje a gente tem muito machismo nas redações brasileiras; então, porque não teríamos racismo?
PJ/J&Cia Livros – Qual foi a sensação de ver seu livro entre os finalistas do Jabuti Acadêmico − Divulgação Científica?
Luciana – Curioso que só descobri que a editora havia inscrito meu livro depois que ele foi listado entre os dez semifinalistas. Eu me lembro de que fiquei muito chocada, parada e sem entender o que estava acontecendo. Sei que minha dissertação é boa, é consistente, e pelo fato de ser jornalista eu também tenho facilidade para escrever bem, mas fiquei muito surpresa mesmo assim. E depois, quando ele foi classificado entre os cinco finalistas, ao lado da Marilena Chauí, que depois conquistou o prêmio, fiquei impressionada, me questionando se aquilo estava mesmo acontecendo. Fiquei muito feliz pois deu visibilidade para um tema que é extremamente atual e urgente.
PJ/J&Cia Livros – No final de outubro aconteceu a cerimônia da Bola de Ouro, que para muitos não foi entregue ao Vini Jr. por causa de sua posição firme contra o racismo. Na sua opinião, apesar de necessária, essa é uma luta que ainda traz mais dores e reveses do que resultados positivos?
Luciana – A luta contra o racismo sempre vai ser muito dura pra vítima, especialmente para aquela que ousa falar, se posicionar e constranger o racista. Eu acho que o Vini Jr. é uma pessoa que tem muito poder, muita visibilidade e que não se furta de denunciar e de falar, e isso constrangeu inclusive o continente europeu, especialmente os espanhóis, trazendo muitas mudanças, inclusive de protocolos da Fifa. Ele é gigante. Sim, ele vai sofrer muito, porque assim como esse racista que mira mulheres negras e faz ataques coordenados para tentar paralisar essa vítima, para que ela não tenha avanços profissionais, econômicos e em áreas de poder, acho que é o mesmo objetivo contra o Vini Jr., o de paralisar essa figura competentíssima dentro de campo. Para mim, pessoalmente, também acho que foi um recado que contraria a narrativa constante no esporte, de que ele está lá para jogar futebol e não para denunciar nada. A gente sabe que grandes atletas, atletas que entraram pra história, além das questões técnicas, eram pessoas que se posicionavam em prol dos Direitos Humanos, da democracia e de causas importantes para humanidade.
“Denúncias de Vini Jr. constrangeram o continente europeu e mudaram os protocolos da Fifa”
PJ/J&Cia Livros – Na próxima segunda-feira (11/11) teremos a cerimônia de premiação da segunda edição da eleição dos +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira, em que você novamente figura entre os homenageados. Qual importância desse tipo de iniciativa para os jornalistas do setor?
Luciana – Esse prêmio, sinceramente, é um golaço. Primeiro, porque é um grande encontro que a gente faz nesse dia. Na edição do ano passado fiquei tão extasiada por estar naquele mesmo espaço com tantas pessoas que lutam bravamente por direitos humanos e contra o racismo no Brasil. Não são profissionais mudos, são profissionais extremamente posicionados e que recebem diariamente todo o tipo de discurso de ódio, lutando as vezes dentro dos próprios setores, enfrentando pautas muito sensíveis sem o menor apoio. Eu conheço algumas dessas histórias, então para mim esse encontro também é um aquilombamento, onde a gente se fortalece mutuamente. Por isso foi um golaço, não só por dar visibilidade ao nosso trabalho, mas, mais que isso, por fortalecer internamente esse grupo e isso pra mim é muito importante.
Cerimônia da primeira edição do prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira reuniu cerca de 200 jornalistas em São Paulo (Foto: Fabio Risnic)
Sobre Luciana Barreto – Formada em Jornalismo pela PUC-RJ e com mestrado em Relações Étnico-Raciais pelo Cefet-RJ, Luciana Barreto está em sua segunda passagem pela TV Brasil, onde já havia atuado como editora executiva e atualmente é âncora e apresentadora.
Em 25 anos de carreira, passou por GNT, Rádio e TV Bandeirantes, e fez parte do time que lançou em 2020 a CNN Brasil. Com a reportagem Negros no Brasil: brilho e invisibilidade, venceu em 2012 o Prêmio Abdias Nascimento na categoria Televisão. Em 2021 foi eleita pela ONU como uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo, e em 2023 e 2024 foi eleita entre os TOP 50 +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira.
Estão abertas até 20 de dezembro as inscrições para a sexta edição do Prêmio C6 de Jornalismo, promovido pelo C6 Bank. A iniciativa visa premiar reportagens sobre inclusão financeira, educação financeira e proteção ao consumidor de serviços financeiros, além de matérias que facilitem a compreensão do mercado e incentivem decisões consistentes.
Serão premiados com R$ 20 mil os vencedores das categorias Educação Financeira e Finanças Pessoais, Macroeconomia e Tecnologia e Inovação. Podem concorrer trabalhados veiculados ou publicados no Brasil entre 1º de novembro de 2023 e 20 de dezembro de 2024.
Os participantes podem submeter no máximo três trabalhos produzidos individualmente ou em conjunto. Os vencedores serão anunciados em março de 2025; o local e data da cerimônia de premiação serão anunciados posteriormente.