Jamil Chade, correspondente na Europa há duas décadas, lançou neste mês de agosto o livro Tomara que você seja deportado: uma viagem pela distopia americana (Editora Nós), que aborda a perseguição do governo de Donald Trump aos imigrantes nos Estados Unidos, incluindo até a pessoas com situação migratória regularizada.
Ao longo de pouco mais de 250 páginas, Chade descreve o cenário de explícita perseguição a imigrantes nos Estados Unidos, percorrendo diferentes locais, de Manhattan ao México, do Madison Square Garden aos abrigos para deportados nas cidades mexicanas na fronteira. Segundo o autor, trata-se de um “desastre humanitário, ético, político, espiritual”.
O nome do livro refere-se a uma experiência que o próprio Chade sofreu com sua família. O jornalista se mudou com a esposa e os filhos para os Estados Unidos, e sentiu na pele a intolerância e o ódio contra imigrantes. Seu filho menor, de dez anos, estava jogando bola no pátio da escola com outros colegas, e, após uma disputa de jogo, outra criança chegou perto dele e disse: “tomara que você seja deportado”.

“Há, acima de tudo, um plano de desumanizar o outro. Uma estratégia fundamental para depois você poder expulsar, estigmatizar, prender e cometer violências atrozes”, disse Chade, em entrevista para a Agência Pública. “Atualmente essa desumanização é recorrente no discurso político nos Estados Unidos, acima de tudo, pelo movimento Make America Great Again, dentro do Partido Republicano. Não é só um bairro, a violência num bairro, não. Ela é uma violência à existência do país, da sociedade”.
À Agência Pública, Chade refletiu também sobre o fortalecimento do discurso anti-imigração em diferentes países para além dos Estados Unidos. Ele cita, por exemplo, o caso da Espanha, que promoveu uma grande perseguição a imigrantes norte-africanos. Segundo o autor, esse discurso de que a violência e as crises do capitalismo são culpa dos imigrantes está crescendo significativamente em diferentes partes do globo, impulsionado pela extrema-direita.
Leia a entrevista da Agência Pública na íntegra aqui.










