Mayariane Castro é a mais nova contratada do Correio da Manhã em Brasília. Aos 22 anos, ela é formada em Jornalismo pelo UniCeub. Entrou na faculdade precocemente, aos 16 anos. Ao passar por uma entrevista com Rudolfo Lago, chefe da sucursal do jornal, foi sincera e não hesitou em contar: “sou autista”. E mostrou por meio do currículo e de textos que tinha condições de exercer a profissão que escolheu. Sobre a contratação, Rudolfo esclarece que, na ocasião, não foi necessariamente o caso de promover inclusão, já que ele tinha uma vaga disponível e a profissional atendia bem ao que buscava. “É uma ótima profissional, que tem realizado de forma muito satisfatória o seu trabalho”, disse.

Kátia Morais, editora de J&Cia em Brasília, conversou com Mayariane sobre exercer a profissão, bem como o impacto do autismo no mercado de trabalho.

Jornalistas&Cia – Quem é a Mayariane que chegou recentemente ao Correio da Manhã? Como foi escolher e cursar Jornalismo quando se tem um diagnóstico de autismo?

Mayariane Castro – Sempre fui adiantada na escola, então cheguei à universidade bem nova. Além de ser considerada superdotada, só tive o diagnóstico de autismo recentemente, de grau dois, considerado moderado. Ainda assim o TEA (transtorno de espectro autista), que se caracteriza por causar dificuldades na comunicação e interação social, não me impede de exercer a profissão. Sempre fui uma pessoa que se comunicava melhor através da escrita, então optei por levar isso profissionalmente.

J&Cia – Você chegou a atuar na profissão antes? Qual trabalho está desempenhando no jornal?

Maya – Fiz dois estágios enquanto estudava, no IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura) e no Funcef, além de ter sido monitora, por quatro anos, da Agência de Notícias do UniCeub, projeto comandado pelo professor Luiz Cláudio Ferreira, da EBC. Estou muito feliz por meu trabalho no jornal. Fui contratada como assistente de redação, responsável por fazer apurações políticas no Distrito Federal, e por cobrir o Palácio Buriti e a Câmara Legislativa dos Deputados para o caderno Nacional.

J&Cia – Como é exercer a profissão?

Maya – Como meu diagnóstico é recente, tenho aprendido a me adequar às necessidades de atuação no trabalho. A pessoa com autismo, por exemplo, precisa de rotina, e tem sido um exercício diário no sentido de precisar ter mais flexibilidade para escrever sobre temas diferentes a cada dia. Mas é uma questão de me adequar mesmo e também poder contar com o apoio da equipe. No que se refere à área sensorial, que consiste na dificuldade em lidar com barulho, por exemplo, preciso de apoio em relação a evitar esse tipo de ambiente. Essa conscientização e a cooperação das pessoas com quem trabalho são fundamentais para que eu possa me adequar ao trabalho. É uma moeda de troca.

J&Cia – Como você vê o mercado de trabalho para autistas? É inclusivo? Já teve dificuldades para se empregar?

Maya – Não é inclusivo. Já fui recusada em várias empresas, apesar das minhas aptidões, do meu currículo. Falo isso com absoluta convicção. Fui considerada, várias vezes, incompatível para a vaga, quando relatei possíveis dificuldades relacionais no trabalho do dia a dia. De forma geral, há uma visão estereotipada da pessoa com essa síndrome, relacionando-a a uma deficiência intelectual, quando o que é preciso é a conscientização desse processo limitante, para fazer as necessárias adequações ao trabalho.

J&Cia – E como você chegou a esse ponto de conscientização e autorreconhecimento na profissão?

Maya – Na vida mesmo. Além de jornalista, sou bailarina profissional. Atualmente danço na Cia de Dança Contemporânea e Danças Populares Brasileiras. A dança foi a maneira que encontrei para exercer a tão necessária terapia ocupacional para casos como o meu. O meu desenvolvimento se deve por ter conseguido aliar uma área de interesse com a expressão corporal, movimentos que deixam a desejar nos casos de autismo. Com a dança, portanto, exercito disciplina, coordenação, interação com outras pessoas, o que me ajuda na profissão e na vida.

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