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quinta-feira, dezembro 11, 2025

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Memórias da Redação ? O livreiro, o refresqueiro e o cigarreiro da Abril

A história desta semana é de Eduardo Ribeiro, diretor deste Portal dos Jornalistas. O livreiro, o refresqueiro e o cigarreiro da Abril             Quem como eu trabalhou na Abril nos anos 1970 e 1980 (talvez até 1990) lembra muito bem daqueles carrinhos chegando em horários determinados trazendo utilidades intelectuais e físicas para os funcionários. A Abril sempre teve uma alma liberta nesse sentido, permitindo várias informalidades que em outras empresas era impossível ver – futebol nos corredores, gravatas incompatíveis com qualquer tipo de elegância, horários malucos, reembolsos generosos de táxi e os tradicionais carrinhos que frequentavam seus andares, seus corredores, suas redações e suas baias. Era uma festa e quem viveu aquele ambiente tem isso gravado na memória de forma carinhosa.             São muitas as histórias e é possível que a publicação desta incentive outros colegas que passaram pela Abril a escreverem as suas.             Antes, um parênteses. Lembro muito bem do carrinho do livreiro, que passava na empresa umas duas vezes por semana, sempre em horário de pico, ou seja, no período da tarde, quando as redações estavam com quase todos os seus profissionais. Era como abelha em colmeia: todos indo ao carrinho para ver os livros, folheá-los e, eventualmente, comprar. E praticamente todos tinham crédito, pois o livreiro parcelava as compras, jogava os pagamentos para o vale, para o começo do mês, no salário, e além disso aceitava de bom grado encomendas, que sempre trazia na visita seguinte. Tomou, é certo, alguns canos, mas nunca reclamou pois conseguia um bom volume de vendas nas redações enquanto por lá esteve, e foram muitos anos.             A história que vou relatar me foi contada por Sérgio Duarte, da SD Press, num almoço de amizade que marcamos. E Sérgio a presenciou nos tempos em que estava na Quatro Rodas, ou seja, lá pelos anos 1970.             Além do livreiro, do refresqueiro e do cigarreiro, a história tem como personagem o saudoso Marco Aurélio Guimarães, o Jangada, conhecido pelo folclórico mau humor. “Era só de fachada o mau humor dele, fazia tipo, pois era um companheiro muito querido”, diz Sérgio, lembrando que Jangada, carioca e carnavalesco, tinha muita ligação com o samba e as escolas de samba paulistas. E era compositor.             Mas vamos à história, nas palavras do próprio Sérgio:             “Toda vez que o refresqueiro apontava no corredor, o pessoal saía das redações, sob o comando do ‘maestro’ Jangada, para saudá-lo entonando o ‘cântico’ que fez especialmente para ele. Era mais ou menos assim:             – Caju, caju, ô refresqueiro, você vai tomar no c…!!! Caju, caju, ô refresqueiro, você vai tomar no c…!!!             O refresqueiro ficava lá meio sem graça, mas como a coisa ficou folclórica ele já nem mais se incomodava com a ‘calorosa e comportada’ saudação e entrava na brincadeira. Com isso, ia faturando com a venda de seus refrescos, inclusive o do caju da rima.             Sabendo do ‘sucesso’ do refresqueiro, o cigarreiro um belo dia reclamou que nunca cantaram pra ele. Foi a deixa. Alguns dias depois, quando ele entrou no andar com seu carrinho de cigarros, Jangada pulou na frente dele e começou a cantar a saudação que fez para corrigir aquela ‘tremenda injustiça’. Acompanhado pelo coro de todo o andar, cantou:             – Ô cigarreiro, ô cigarreiro, sua mãe foi dar o c… pro refresqueiro!!! Ô cigarreiro, ô cigarreiro, sua mãe foi dar o c… pro refresqueiro!!!”             Essa era a Abril daqueles tempos – de um profissionalismo inquestionável num ambiente de grande liberdade. Inesquecível, como lembrou Sérgio Duarte e como eu próprio testemunhei.

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