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sexta-feira, abril 19, 2024

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Memórias da Redação ? Dois casos e um acaso

Igor Ribeiro, editor que se despediu de J&Cia na semana passada, deixa como lembrança duas histórias num único texto. Dois casos e um acaso Durante todo o ano em que fui editor deste Jornalistas&Cia, prometi ao meu chefe imediato, Wilson Baroncelli, o Baron, um texto para este Memórias da Redação. E durante todo o ano adiei a crônica. Nunca por desprezo ou pela velha desculpa da falta de tempo. Mas por dois motivos que, de certa forma, me enrubescem. Em primeiro lugar, eu lia aqui coisas tão boas, que elevam o padrão desta coluna – enviadas por mestres como Cláudio Amaral, Milton Saldanha, Plínio Vicente da Silva, Sandro Villar e contribuições casuais como as de José Maria Mayrink e Paulo Nogueira, entre tantas outras –, que não me achava merecedor de publicar qualquer coisa que minha incauta e fraca memória tenha para compartilhar. Segundo, justamente pela fragilidade da minha memória. Tenho lembranças de alguns causos ótimos, claro… Mas a chance de me atrapalhar e trocar nomes – ou sequer lembrá-los – é uma constante. Logo, sou um Funes às avessas e, se escrevesse aqui, minhas palavras estariam mais para Desmemórias da Redação do que qualquer outra coisa. Como as crônicas deste espaço tendem a contar passagens divertidas, pensei em resgatar um caso triste, porém meditativo, que marcou meu início de carreira. Não consegui lembrar de alguns detalhes, por isso não publiquei. Versava sobre um motorista do Grupo Folha, o PC – acredito que ainda trabalhe por lá. O apelido vinha de “PC Farias”, pela visível semelhança com o ex-tesoureiro do Fernando Collor, ainda que de escroque o “nosso” PC não tivesse nada. PC é um cara gente boníssima, boa alma mesmo – como costuma ser boa parte dos jornalistas e parceiros que atuam na madrugada. Sim: em 2000 ele era plantonista do horário das corujas ao lado do Batman e do falecido Jô (apelidos eram requisitos fundamentais para o exercício de direção avançada na alta madrugada). Trabalhávamos no Agora São Paulo, onde exercia minhas primeiras foquices. Fazia a ronda policial de 2ª a 6ª.feira e as reportagens de madrugada a cada dois fins de semana, ao lado do colega de Cásper Líbero Marco de Castro. Creio que o titular do cargo era Luciano Cavenaghi (olha a memória me traindo novamente…) e o fotógrafo, Eduardo Lazzarini, entre outros que circulavam naqueles tempos de filmes 35 milímetros. A editora do caderno de Cidades e Polícia era Rita Camacho, e o jornal mantinha na direção, desde os tempos de Folha da Tarde, a dupla Nilson Camargo e Antonio Rocha Filho, o Toninho, que continuam por lá. Tudo isso para falar do PC. Era um motorista bastante arrojado no volante de sua Blazer preta. Apesar de o carro ser dele e não da locadora, não perdia o rastro da polícia durante uma frenética perseguição e não tinha medo de enfiá-lo nas vielinhas imundas dos recônditos paulistanos. Boa praça e ponta firme para qualquer missão, PC tinha sempre uma piada na ponta da língua. Não era gorducho como o PC original, mas era um cara forte e esperto. Uma unanimidade entre o reportariado do Agora e da concorrência, e mesmo entre os policiais. Um ano depois fui chamado para inaugurar o serviço de Assessoria de Imprensa da Ouvidoria da Polícia de São Paulo. Fui indicado pelo Lino Bocchini, outro camarada do Agora, que hoje é redator-chefe da Trip e Top 10 na lista negra dos Frias, graças à paródia Falha de S.Paulo. Após quase dois anos de trabalho, passava eu, certa tarde, pelo Expediente da Ouvidoria – departamento pelo qual as denúncias chegam à entidade – quando avistei PC. Ele estava magro, apático, desolado, praticamente irreconhecível. Fui falar com ele e, naquele momento, PC tentou esboçar um sorriso. O caso que contou em seguida relatava a morte de seu filho pelas mãos de policiais militares… Segundo ele, o menino era bom e tudo havia sido um grande mal entendido – como ainda acontece muitas vezes, em tantas situações parecidas. Apesar da fatalidade, PC teve um sopro de esperança ao me ver e acreditar que, talvez, eu pudesse agilizar a apuração do caso. Mal sabia ele que a própria Ouvidoria sofria (sofre?) retaliações tremendas da Secretaria de Segurança Pública. Era como se tivéssemos de nos sentir gratos por somente existir. Graças ao trabalho persistente de tanta gente talentosa e abnegada, como a assessora jurídica Isabel Figueiredo e o ouvidor Fermino Fecchio, conseguíamos driblar as dificuldades e ficar na cola dos casos que cheiravam a abuso policial. Incomodávamos o Governo. Lembro que monitorei pessoalmente o caso do filho do PC até haver a troca de gestão na Ouvidoria. O escolhido da lista tríplice era um notório lambe-botas do Estado. Boa parte da equipe, eu incluso, rodou ou saiu antes de rodar. Não soube mais do caso. Tentei resgatar essa história para reproduzir aqui, acompanhada de uma reflexão sobre as voltas que o mundo dá. Encontros, desencontros e reencontros. Muitas vezes, apesar das circunstâncias, trazem uma gota de esperança que mantém o prumo da vida em rota de algo m

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