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quinta-feira, março 28, 2024

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Memórias da Redação – Surpresa desagradável

A história desta semana é novamente uma colaboração de Sandro Villar ([email protected]), correspondente do Estadão em Presidente Prudente. Surpresa desagradávelTem sujeito que não pode ver um rabo de saia que logo dá um jeito de se aproximar da mulher sem medir as consequências. Um cara assanhado ? ou tarado mesmo ?, quando se trata de saia, só dispensa padre e escocês. Mas, dependendo do modelo da batina e da saia, padre e escocês também correm risco. Um famoso colunista de jornal tinha fama de Casanova, embora já fosse Casavelha. Sabem como é: a idade chega para todos, exceto para a Vera Fischer. Seu nome e o veículo serão preservados por motivos óbvios. Ele ? o colunista em questão ? não podia ver mulher, ficava ouriçado e partia para a conquista. Como aquela vez no centro de São Paulo, depois de almoçar com diretores do jornal onde escrevia e onde desfrutava de enorme prestígio. Encurtando conversa: o nosso herói tinha um Ibope alto, quer dizer, era muito lido pelos leitores. Depois do almoço num restaurante chique da avenida São Luiz, que não sei se ainda existe, Dodô (chamemo-lo assim) se despediu dos diretores e foi dar uma volta pelo centro para fazer a digestão. Logo depois de entrar na avenida Ipiranga, deu de cara com uma baita loira, tipo Kim Novak, para os mais velhos, ou tipo Kim Bassinger, para a moçada contemporânea. Comparações não interessam muito nessa narrativa, mas que a mulher era de fechar o comércio e a indústria lá isso era. Ou mais que isso: era dessas de fazer rei abdicar e pastor abandonar o púlpito. Não só Dodô como também qualquer homem, seja metrossexual ou centimetrossexual (já tem isso?), tentaria conquistar a loira em questão.   Como não era bobo nem nada, ele percebeu que ela, apesar de não ser gandula, tinha dado bola e a maior trela. ?Essa está no papo?, deve ter pensado. Dodô se aproximou, puxou conversa e, papo vai papo vem, confirmou que a moça estava mesmo no papo. A mulher não fazia o gênero loira burra. Ao contrário, ela sabia das coisas e estava por dentro dos acontecimentos. Ficou encantada quando Dodô se identificou e, para espanto dele, ela o lia no jornal. Na verdade, o colunista conheceu uma fã de carteirinha, o que facilitou a conquista. Depois de uns dez minutos de prosa, ele fez a proposta nada indecente. Convidou-a para passar umas horas num drive-in que ficava em Interlagos. E aqui cabe um esclarecimento necessário: naquela época ainda não havia motéis em São Paulo, e conquistador que não tinha apartamento levava a mulher ao drive-in. Com o ?sim? dela, concordando com o chamado hoje em dia de sexo consensual, Dodô ligou o carro e lá foi o casal desfrutar de umas horas de prazer. Assim que entrou no drive-in, Dodô esclareceu à moça que não podia ficar a tarde toda com ela, já que precisava voltar ao jornal para escrever o artigo do dia seguinte. Aí veio a atendente e colocou, em cada porta do carro, as bandejas dos drinques e salgadinhos. E depois? Bem, aí a cuíca começou a roncar. Houve as preliminares de praxe, com mil beijos (está bem, deixo por 999) e amassos. Mas, na hora do pega pra capar, Dodô teve uma surpresa desagradável, assim como os americanos tiveram em Falujah, no Iraque. Ao pôr a mão na Zona do Agrião, ele apalpou um ?taco? ou uma ?caixa de câmbio?, se vocês preferem tais epítetos para o bilau. Em suma, meus cupinchas: a ?mulher? era um travesti. Transtornado, fora de si, ele enxotou o travesti, deu ré e saiu em disparada do drive-in sem pagar a conta. Só que, ao passar pela avenida Interlagos, notou que os transeuntes olhavam para o carro e davam sonoras gargalhadas. É que, na confusão, Dodô se esqueceu de retirar as bandejas e, com o equipamento, o automóvel parecia um avião prestes a decolar. Só depois de andar um bom trecho é que ele percebeu a mancada. Parou o carro, jogou as bandejas fora e foi para o jornal. Contou o episódio a um primo e, segundo o parente, Dodô está menos assanhado, mesmo que dele se aproxime uma loiraça, como aquela da avenida Ipiranga. Afinal, as aparências enganam e ?ela? pode ser ele, que ainda não fez operação para mudar de sexo.

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