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terça-feira, abril 16, 2024

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Memórias da Redação ? A foca confusa e o fotógrafo trapalhão

Moacir Assunção (ex-Estadão, jornalista freelancer e autor do livro Nem heróis nem vilões), conta causos curiosos das redações em sua época de jornalista da Prefeitura de Guarulhos.   A foca confusa e o fotógrafo trapalhão Neste caso, mais um que escrevo para o nosso querido Jornalistas&Cia, vou contar o milagre, mas prefiro não dar o nome dos santos, como diriam os antigos. Ou seja, vou contar as histórias engraçadas, mas tratar os personagens por pseudônimos. A razão é que não quero que eles, meus amigos, fiquem chateados comigo. De qualquer forma, a história é tão boa (espero que vocês, queridos leitores, achem o mesmo), que vale a pena reproduzi-las. Nos anos 1990, no começo da carreira, trabalhei como jornalista concursado na Prefeitura de Guarulhos, sob a liderança do sério e competente Carlos Alberto Barbosa, hoje aposentado, que teve passagens por Veja e Estadão. Ali, atuei com a mais curiosa dupla de colegas que conheci em minha trajetória profissional, que “batizarei” como Osvaldo e Sílvia, respectivamente repórter-fotográfico e repórter de texto. Osvaldo, hoje repórter-fotográfico de grandes méritos de um importante jornal do interior, estudou Jornalismo comigo na Universidade Braz Cubas e é a pessoa mais confusa e atrapalhada que conheço. Até mais do que eu, o que é incrível.          Pois bem, entre as “façanhas” do Osvaldo, certa vez o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, em visita a São Paulo, passou pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos e foi recebido, na pista, pelo então prefeito Vicentino Papotto. Fomos cobrir a pauta e Osvaldo, correndo feliz porque conseguiria fotografar o presidente peruano – hoje preso em seu país sob acusação de corrupção –, acabou caindo, praticamente desabando, aos pés do mandatário latino de origem japonesa. Quem lhe deu a mão para se levantar foi o próprio Fujimori. Ele se ergueu, com um sorriso amarelo, e continuou fotografando. A piada na redação no dia seguinte era de que o nosso rápido e rasteiro colega teve muita sorte de o visitante não ser um xeque árabe ou um potentado israelense ou americano. Se fosse, teria sido fuzilado pelos seguranças, ao ser confundido com um homem-bomba…          Sílvia também não ficava atrás. Em outra ocasião, a cidade recebeu o rei da Tailândia, país cujo apelido na época era “o jovem tigre”, em referência aos famosos “tigres asiáticos”, países que haviam experimentado um enorme crescimento econômico naquele momento histórico. A moça, que apelidamos de “foca confusa”, perguntou, então, porque o apelido do príncipe (e não do país) era jovem tigre. Brinquei dizendo que ele podia nos arranhar com suas garras poderosas e que aquela multidão de seguranças de caras fechadas estava lá para nos proteger dele e não para protegê-lo. Quando ela e Osvaldo saíam juntos, dizíamos, em tom de brincadeira, que eles formavam a dupla “A foca confusa e o fotógrafo trapalhão”. Em outra pauta, esta no gabinete da prefeitura, no bairro do Bom Clima, Sílvia estava esperando um determinado deputado que ia visitar o prefeito e ficou um tempão conversando com outra pessoa que se encontrava lá. Ao reclamar com esta que o tal deputado estava demorando muito, ouviu a cândida resposta: “O deputado sou eu”. Outra vez, meteu o pé no cimento fresco e ficou presa. Sílvia formava a dupla perfeita com o nosso herói Osvaldo e todos os dias eles eram alvo de comentários na redação.          Osvaldo, certa vez, conseguiu parar uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Guarulhos ao quebrar uma vidraça que estava às suas costas. Assustados, os músicos imediatamente pararam de tocar, diante de toda a população que esperava o show. Além de atrapalhado, ele tinha outra “qualidade”: era um tanto quanto dengoso, tanto que recebeu o apelido de “Denguinho” nos tempos da faculdade, concluída em 1990. Em uma ocasião, em que fazíamos uma festa na chácara dos amigos Pedro Gabriel e Rita Bonfim, ele publicitário e ela jornalista, o nosso herói cortava um pedaço de madeira com um facão quando deu um grito bem alto, dizendo que havia se machucado. Eu, que estava dentro da casa, saí correndo, apavorado, e já procurando um recipiente para guardar o dedo cortado e levá-lo ao hospital, com vistas a um possível implante. Quando me aproximei, ele segurava a mão direita com a esquerda, enquanto gritava. Mas, não havia sangue no facão. Pedi para ele me mostrar a mão machucada e havia lá um pequeno corte, na verdade um arranhão, quase imperceptível. Daí, foi sair bufando de raiva pelo susto, mas feliz pelo amigo estar inteiro, sem faltar nem um pedaço. Ele quase chorava com o “horrível corte que quase lhe decepou o dedo” e que tive dificuldade até para localizar. Aliás, uma vez, na Prefeitura, ao lado do motorista da Assessoria de Imprensa que era tão ruim que apelidamos de “bração”, Osvaldo também sofreu um pequeno acidente, que lhe produziu um minúsculo corte na cabeça e dizia, alto e bom tom, que ambos “podiam ter morrido” na batida, valorizando demais o episódio.          Mas o máximo das histórias do nosso amigo Osvaldo foi uma vez em que, relata o também repórter-fotográfico Nário Barbosa, ele foi fotografar a Favela SBC, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, e o dia tinha uma persistente garoa. Para fazer imagens melhores, o nosso herói subiu no telhado de um barraco da favela e resolveu andar por cima da casa precária. Ocorreu, então, o óbvio ululante, como diria o grande Nelson Rodrigues: alto e um pouco gordinho na época, ele caiu com tudo na cozinha do barraco, destruindo fogão e o tanque da pobre moradora. “Quase virou frango do almoço de domingo”, diz no seu linguajar pitoresco o Nário, também grande repórter-fotográfico e um artista das lentes. O “fotógrafo trapalhão” chegou a desmaiar com o impacto da queda. “Quando acordei, minutos depois, estava cercado por um monte de crianças que nunca tinham visto um homem cair do céu dentro de casa”, conta, brincando. O fogão, o tanquinho, mesa e cadeiras da pobre mulher foram destruídos no acidente. A história passou a fazer parte do folclore jornalístico da cidade em que trabalha e até hoje é lembrada pelos colegas.          Penalizada com a situação da dona da casa, que teria que cozinhar na casa das vizinhas depois do infausto acidente, a direção do jornal acabou por lhe dar uma indenização, para que ela comprasse novos eletrodomésticos e móveis. Depois, mais calma, em tom de troça ela perguntou ao nosso amigo “se ele não queria cair na sala também”.          Ele não caiu, mas recentemente fiquei sabendo de outra do Glauber, como apelidamos o nosso amigo: em uma coletiva na cidade de Santo André ele bateu a cabeça em um quadro colocado atrás de si, ao buscar melhor ângulo para fotografar a fonte, e o dito quadro voou, passando a milímetros da cabeça do entrevistado, sentado em frente ao repórter de texto. Por muito pouco não houve um “crime”, que decerto passaria à crônica da cidade com o sugestivo título de “assassinato do quadro voador”. Ao olhar para o colega, pedindo solidariedade profissional com os olhos, Osvaldo viu que este não conseguia continuar a entrevista, de tanto rir ao olhar para a cara do fotógrafo e da fonte, ambos muito assustados e com os olhos esbugalhados….          Não fiquei sabendo de outras histórias, mas elas, com certeza, aconteceram.

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