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quinta-feira, março 28, 2024

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Memórias da Redação ? Meus jornais favoritos

Reproduzimos aqui, com a permissão do autor, texto que Cesar Barroso publicou em 31/5 no Achei USA – Brazilian Newspaper (http://migre.me/fRCQ1). Cesar ([email protected]), que foi repórter do Jornal do Brasil e vive hoje nos Estados Unidos, é editor de texto e de fotografia da revista online miamihoje.com. Meus jornais favoritos Eu pertenço a um enorme grupo de brasileiros, não apenas cariocas, que eram ávidos leitores do Jornal do Brasil. O JB era uma instituição de peso, fundado dois anos após a queda da monarquia, com o intuito de defendê-la. Por coincidência, foi durante muitas décadas propriedade do conde Ernesto Pereira Carneiro, e passou por herança à sua mulher, a condessa Maurina Pereira Carneiro. Com a morte da condessa, seu genro, Manuel Francisco do Nascimento Brito, tornou-se proprietário, mas já comandava o jornal muito antes disso. O Jornal do Brasil tinha uma linha editorial bem definida, liberal, antiditatorial. Seu noticiário internacional era acompanhado de traduções dos melhores colunistas do The New York Times. Dava total cobertura a todas as manifestações, políticas ou artísticas, contra a ditadura militar que se instalou em 1964. Essa inimizade com os militares vinha dos primórdios do jornal, em vista da República ter sido proclamada por um militar, o marechal Deodoro da Fonseca, o qual empastelou (fechou) o jornal em 1893, por mais de um ano, e colocou a prêmio a cabeça de seu redator-chefe, ninguém menos do que Rui Barbosa. A cereja que enfeitava o lindo bolo era o Caderno B, diário e totalmente dedicado às artes, cultura e entretenimento. Começou em 1960 e foi o primeiro com esse formato na imprensa brasileira. Carlos Drummond de Andrade assinava coluna. Mas havia outros do alto escalão cultural: Clarice Lispector, Fernando Sabino, Ziraldo, Henfil, Carlos Leonam, Marina Colasanti e seu marido, o poeta Affonso Romano de Sant´Anna. A coluna social de Zózimo Barroso do Amaral tinha conteúdo, era noticiosa. Oldemário Toguinhó comandou a seção de esportes por décadas. Ousado, suas coberturas eram complementadas com crônicas dos grandes João Saldanha e Armando Nogueira, que misturava com sucesso futebol e poesia. Na política, Carlos Castello Branco, Alceu de Amoroso Lima. O JB era um presente diário que se recebia em casa ou se comprava nas bancas. Inovou e dominou também nos classificados. Levou anos para O Globo conseguir chegar perto. A equipe fotográfica do JB também fez escola no jornalismo brasileiro. Criativa, com muita liberdade, tinha nomes expressivos, sendo o maior deles o de Evandro Teixeira, que ali esteve durante 47 anos, até 2010. Eu estava na arquibancada do Orange Bowl em Miami, em 1996, assistindo a Brasil x Japão pelas Olimpíadas de Atlanta, quando senti um cutucão nas costas. Era Evandro Teixeira se escondendo com sua câmera, pois estava sem credencial. Para ele não havia barreiras quando precisava de uma foto. Tem também a famosa foto de Adriana Lorete que pegou Kissinger com o dedo no nariz. Essa foto criou celeuma, Henry Kissinger ameaçou processo, mas o JB tratou-a como qualquer outra foto e vendeu-a para uma agência de publicidade americana. E a foto de Jânio Quadros trocando as pernas, tirada por Emo Schneider poucos dias antes da renúncia? Nascimento Brito dizia que a decadência veio por culpa dos militares. A verdade é que o Jornal do Brasil de hoje não passa de uma sombra do que foi. Infelizmente sobrevive apenas online, e não há indicações seguras de que seu proprietário atual, Nelson Tanure, voltará a imprimi-lo, nem mesmo de que o manterá vivo por muitos anos. De qualquer forma, orgulho-me de ter trabalhado ali de 1973 a 1975. O meu jornal de hoje – e, para bem da verdade, de hoje e de há muito tempo, pois comecei a lê-lo em 1972, quando passei uma temporada em Nova York – é o The New York Times. Definitivamente o jornal mais respeitado do mundo. Mantém um nível de qualidade muito alto, graças, evidentemente, à uma redação e colunistas de escol. Ler o The New York Times é uma obrigação para mim. Acabou meu espaço e tratarei do The New York Times em outra ocasião.

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