Daniele Soares

    Daniele Lessa Soares formou-se em Jornalismo em 2003. É cadeirante.
    Está desde 2004 na rádio Câmara, de Brasília (DF), onde trabalha como repórter. Atuou na editoria de Reportagens Especiais até 2012, quando passou a cobrir a pauta cotidiana da Câmara Federal.
    Venceu o Prêmio Jornalistas&Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade 2012 na categoria Regional 2 (DF, GO, MG, MS, MT e TO), com a matéria Caminhos, Cerrado e Lixo ? A Brasília dos carroceiros. A equipe vitoriosa foi formada por Aprígio Nogueira, Cristiane Valle e Lucélia Cristina.
    Na festa de entrega do prêmio em São Paulo, dia 30 de outubro de 2012, concedeu ao Jornalistas&Cia a entrevista, abaixo, e contou um pouco sobre a matéria.
    Como surgiu a pauta: ?Sentíamos um estranhamento inevitável sempre que víamos uma carroça na área central de Brasília. É algo quase cinematográfico ? os palácios do Niemeyer, e de repente uma carroça desbotada atravessando o asfalto… A circulação de carroceiros é proibida, mas é inevitável encontrá-los na Esplanada dos Ministérios. A partir desse contraste, fomos descobrir quem são esses carroceiros, como vivem e como esse trabalho se insere na vida da cidade, tanto em termos sociais como econômicos e ambientais. Começamos a investigar de onde eles vinham, e chegamos ao grupo que foi descrito na reportagem”.
    “É uma área que fica muito próxima do centro, e ao mesmo tempo é longe dos olhos da maior parte dos moradores. Por coincidência, no primeiro dia em que estivemos no acampamento, os barracos tinham sido desmontados em uma ação do governo local sem que os moradores fossem enviados para outro lugar. Houve uma certa desconfiança, que acabou sendo dissolvida com muita conversa ? e não dá pra não mencionar que uma repórter cadeirante e independente na movimentação gera um estranhamento que costuma me aproximar das fontes. Busquei não vitimizar as pessoas, mostrando que estar lá foi uma escolha para todos eles, sem deixar de mencionar que escolher outra vida significa não ganhar tanto ? o lixo rende mais que um trabalho convencional.”
    “A partir da vida deles, tentamos ver a dinâmica que os catadores estabelecem com as áreas mais próximas, vizinhos imediatos e Governo, e em uma escala maior, qual o papel que os carroceiros assumem na questão ambiental, qual seu lugar na engrenagem de uma indústria extremamente lucrativa. Ao longo da apuração, foi inevitável constatar que o discurso politicamente correto da sustentabilidade e da reciclagem se alimenta do trabalho dos carroceiros que precisam viver naquelas condições para estaremmais perto do centro da cidade, onde o lixo é abundante. Mais uma vez a contradição se evidencia ? a mesma sociedade que se incomoda com a visão dos carroceiros, precisa que eles recolham a imensa quantidade de lixo produzida a cada dia. Eles, por sua vez, ocupam o Cerrado, com os seus perigos, para estarem mais próximos dessa ?riqueza? consumista, que para eles chega na forma do lixo.?
    Sobre sustentabilidade: ?A sustentabilidade tem tido cada vez mais espaço, mas não necessariamente com um olhar crítico diante de todas as variáveis que envolvem esse macro-universo que é o ser humano e o seu meio ambiente. Acho que a questão social sempre deve vir atrelada à questão ambiental, algo que parece muito razoável e coerente, mas que na prática não acontece com tanta frequência. Nesse sentido, percebo a sustentabilidade como a busca de uma harmonia real diante do todo. Ou seja, não dá pra comemorar os números da reciclagem e colocar debaixo do tapete a existência dos carroceiros, nem tampouco afirmar que eles escolheram trabalhar daquela forma. Entendo que iniciativas para dar mais dignidade aos catadores de lixo são parte essencial de uma vida sustentável. Eles dormem no meio do lixo para aliviar o lixo de quem mora ao lado. Quando a Imprensa fala em iniciativas de sustentabilidade,técnicas inovadoras etc., me parece relevante ir cavando, cavando, até ver tudo o que é impactado quando se fala em sustentabilidade, destacar sempre como isso afeta concretamente a vida das pessoas.?
    Atualizado em novembro/2012 ? Portal dos Jornalistas
    Fonte:
    Jornalistas&Cia – Edição 870, de 31 de outubro a 6 de novembro de 2012