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quarta-feira, abril 24, 2024

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Roda Viva: bastidores de uma troca

Augusto Nunes sucederá a Mário Sérgio Conti no comando do programa, sem prejuízo de sua atuação como blogueiro de Veja Um dos mais tradicionais programas jornalísticos da tevê brasileira, o Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, estará sob nova direção no final do mês.

Não é tão nova direção assim, pois o novo âncora, Augusto Nunes, já esteve em duas ocasiões por lá: na primeira, entre 1987 e 1989, também como âncora; e mais recentemente, de 2010 a 2011, como entrevistador fixo no período em que Marília Gabriela o ancorou. Convidado pelo novo (também nem tão novo assim, pois está em sua segunda gestão) presidente da Fundação Padre Anchieta Marcos Mendonça, Augusto sucederá a Mario Sérgio Conti.

Este, pelo que se deduz do artigo que Elio Gaspari publicou em sua coluna do último domingo (4/8) na página A15 da Folha de S.Paulo, bateu de frente com Mendonça e com isso foi por este informado que o contrato, que venceria no final de setembro, estará rescindido ao final de agosto. Gaspari, aliás, foi contemporâneo de Conti na revista Veja, onde ambos trabalharam por muitos anos. Paulo Nogueira, outro contemporâneo de ambos na Editora Abril, afirma em seu blog Diário do Centro do Mundo (www.diariodocentrodomundo.com.br) que, “se é verdade o relato de Elio Gaspari sobre a saída de Mario Sergio Conti do Roda Viva, a TV Cultura de São Paulo vive dias de absoluta insanidade. A versão de Elio é, certamente, a de Conti.

Conti fez carreira na Veja sob as asas de Elio quando este era, na década de 1980, diretor-adjunto”. Paulo, no artigo, indaga: “FHC é tão detestado assim num reduto tucano? Ou Mendonça é tão consciencioso que ficou incomodado com o fato de que a entrevista de FHC se seguiria a uma de Serra no Roda Viva?” E avança em relação à contratação de Augusto Nunes para o posto: “Em outra encarnação, no começo da década de 1980, Nunes foi um excelente apresentador do Roda Viva. Provavelmente, o melhor da história do programa. Boa presença, capacidade de administrar os entrevistadores, sensibilidade para interromper perguntas ou respostas longas.

Mas ele era outro jornalista. Hoje, comanda um blog histrionicamente contra as administrações do PT e contra qualquer coisa remotamente associada à esquerda. Dilma é ‘Dois Neurônios’ e Evo Morales é ‘Lhama com Franja’. Rui Falcão, que tem sequelas das torturas que sofreu, ‘mente a 80 piscadas por minuto’. Xinga leitores que discordam de suas opiniões num grau tal que foi processado por um deles por danos morais. Quem, fora de um círculo restrito, aceitará ir a um Roda Viva sob Augusto Nunes?” E compara sucessor e sucedido: “Mario Sergio Conti não nasceu para a televisão: é lento ao falar, não tem charme e acaba sendo enfadonho como apresentador. Mas Augusto Nunes é uma solução pior que o problema”.

Gaspari, em seu texto, assinalou que pouco depois da posse de Mendonça, Conti havia convidado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para ser o entrevistado da semana. Desde 2011, quando Sayad [N. da R.: João Sayad, ex-presidente da emissora] o levou para a TV Cultura, o jornalista tinha autonomia para escolher os convidados. Mendonça é um mandarim do aparelho tucano e já ocupou a Secretaria de Cultura de São Paulo. Sem qualquer discussão interna, ou notícia a Conti, telefonou para o ex-presidente, retirando o convite. No seu melhor estilo, FHC encaixou o golpe. Quando Mendonça comunicou o desconvite a Conti, ele condenou a grosseria com o ex-presidente, lembrou a autonomia que Sayad lhe dera e informou que a exerceria, mantendo a entrevista. Ligou para FHC que, novamente no seu melhor estilo, disse-lhe ‘lá estarei’. E lá esteve, cerimoniosamente recepcionado por Mendonça.

A entrevista foi ao ar no dia 1° de julho”. Conti, no acordo feito com Sayad, além de autonomia total com o programa, teria exigido subordinação exclusivamente a ele, Sayad, sem qualquer outro intermediário, conforme é voz corrente nos corredores da Fundação Padre Anchieta. A ponto de nesse período, segundo apurou este J&Cia, ter feito uma única visita ao Departamento de Jornalismo, quando foi apresentado à equipe. Sayad sempre viu o Roda Viva como um programa diferente e politicamente estratégico, razão pela qual sempre tomou decisões pessoais em relação a ele.

Assim foi quando decidiu convidar Marília Gabriela, autorizando-a a mudar radicalmente o formato, a ponto de transformá-lo numa ‘agradável sala de visitas’, como ela própria qualificara. Mas foi com a própria Gabi que ele acabou vivendo uma dos mais delicados momentos de sua administração: na 2ª.feira seguinte à eleição de Dilma Rousseff, ela levou ao Roda Viva José Dirceu, já então o mais notório réu do Mensalão. E Dirceu saiu-se bem, apesar da aguerrida bancada que enfrentou, em que estavam o próprio Augusto Nunes, além de Paulo Moreira Leite (os dois fixos) e outros convidados.

O programa gerou uma crise no Palácio dos Bandeirantes e Sayad, para tentar contorná-la, procurou, sem êxito, por algum tucano que quisesse ir ao Roda Viva seguinte. Com problemas de audiência, a temporada de Marília Gabriela foi encurtada e com a chegada de Conti retomou-se o formato original. Quando se confirmou a contratação de Conti, houve novo estremecimento com o Palácio dos Bandeirantes e de lá emanaram sinais explícitos de que enquanto o novo apresentador estivesse na Cultura o governador Geraldo Alckmin não colocaria os pés na emissora e a publicidade do Governo do Estado e de suas empresas também desapareceriam do horizonte da Fundação Padre Anchieta.

O governador chegou até a ensaiar uma participação no Jornal da Cultura, na celebração dos 25 anos do programa, mas uma inesperada mudança na agenda cancelou a participação, conforme confirmou fonte da emissora a este J&Cia. “O fogo amigo entre tucanos – diz essa fonte – é uma triste realidade, e o Mendonça está tendo de se virar para tocar sua gestão em função da marcação forte que está sofrendo, a começar do Conselho Curador, do qual ele já tomou uma bronca histórica, pois se recusara a pagar aviso prévio e multa do FGTS aos diretores-gerentes que mandou demitir (foram dez) na 6ª.feira seguinte à sua posse, em junho.

Chamado às falas pelo presidente Belisário dos Santos Jr. e ameaçado até de cassação do posto, voltou atrás”. Nesta 3ª.feira (6/8), Vivian Masutti publicou no site F5 da Folha de S.Paulo que Marcos Mendonça afirmou que Conti foi demitido por questão salarial: “Era o maior salário da emissora”, teria dito ele, para em seguida completar que Augusto Nunes assumirá o cargo ganhando metade do valor.

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